No início do mês de maio, a redação da revista Logweb foi convidada pela Flanders Investment & Trade para visitar a Bélgica, mais precisamente a região de Flandres, e conhecer de perto toda a infraestrutura que o país tem para oferecer aos brasileiros e às empresas daqui com o objetivo de estimular parcerias e novos negócios.
O repórter Bruno Colla foi o representante da Logweb e conversou com alguns diretores e gerentes das empresas que lá estão instaladas para trazer essas novidades.
O roteiro incluiu as cidades de Niel, Bruxelas, Gent e Antuérpia e diversas empresas foram visitadas, dentre elas a Logiville, Aeroporto de Bruxelas (Brucargo), North Sea Port (Porto de Gent), Citrosuco, Porto de Antuérpia, Seafar e Katoen Natie. Em um dos dias, a Flanders Investmente & Trade promoveu um jantar, a fim de estreitar o relacionamento entre os jornalistas presentes na missão e alguns brasileiros que residem no país europeu.
Logo no segundo dia da viagem, houve uma visita ao Aeroporto de Bruxelas, onde foi apresentada a BRUcloud, uma tecnologia que descomplica toda a logística de cargas do local. Com o intuito de simplificar e tornar mais eficiente todo o processo logístico, a ferramenta que compartilha inúmeros dados dentro de uma só rede tem permitido que muitas empresas do setor aéreo belga se tornem mais eficientes. Por meio dela é possível obter melhorias em todas as áreas envolvidas, além de agilizar os processos, criando-se um padrão na troca de dados.
Todos os aplicativos nela contidos são desenvolvidos para trazer benefícios para seus usuários. Diferentes provedores de aplicativos logísticos podem fazer uso do ecossistema criado pela BRUcloud para ter acesso fácil a uma rede de clientes. Em suma, quanto mais aplicativos estiverem disponíveis por meio da tecnologia, maior será o valor operacional para todas as partes interessadas.
O compartilhamento de dados possibilita uma espécie de “fonte única da verdade”, que pode superar os problemas de duplicação de dados. Isso faz com que os usuários não dependam de troca de mensagens uns com os outros, mas se baseiem apenas no que rege a ferramenta. “Vale lembrar que tudo isso acontece em um ambiente confiável, que garante que a fonte permaneça no controle dos dados. É a BRUcloud que define quem e em qual contexto os dados podem ser compartilhados”, explicou Samuel Speltdoorn, gestor de Desenvolvimento de Negócios de Carga no Aeroporto de Bruxelas.
Ao contrário de outros sistemas de tecnologia de carga, a principal prioridade da BRUcloud não é digitalizar as mensagens existentes e a comunicação entre as diferentes áreas, mas possibilitar o compartilhamento de dados em um único ambiente de nuvem. Desta forma, os usuários trabalham de forma mais integrada, possibilitando o uso dos diferentes aplicativos, ao invés de manter conexões individuais, de pessoa para pessoa.
No terceiro dia de viagem foi feito um tour pelo Porto de Gent, que tem o Brasil como o 5º país mais importante na lista de parceiros comerciais do mundo. De toda a movimentação que acontece entre os portos dos dois países, 87% do total é importado pela Bélgica, enquanto o restante (13%) corresponde à exportação.
Ao todo, são quase 5 milhões de toneladas que chegam até a Bélgica pelo Porto de Gent. Minério de ferro, produtos agrícolas, alimentos em geral (principalmente sucos), produtos químicos e minerais e material de construção encabeçam a lista do que faz esse número ser alto. Do outro lado, fertilizantes, gás, óleo diesel e produtos químicos são os principais produtos que navegam o Oceano Atlântico da Bélgica até o Brasil.
Vale ressaltar a excelente localização do Porto de Gent dentro da Europa. Privilegiado por estar na região central do continente, ele oferece às empresas que lá estão instaladas uma diversidade de mercadorias, o classificando como o terceiro mais importante em termos de valor agregado e em nono lugar em termos de tráfego de mercadorias.
O Porto de Gent ainda conta com uma grande área para desenvolvimento. “Um dos grandes atrativos que temos é a área portuária, com 750 hectares de terrenos disponíveis para negócios, tanto para atividades portuárias como não portuárias”, destacou Sandra De Mey, gerente comercial do Porto de Gent. “Para os futuros clientes, estamos construindo uma infraestrutura personalizada, pensando em estradas, cais, ferrovias, oleodutos, além de outras instalações”, completou.
Vale pontuar também a visita feita a Antuérpia, na Seafar, empresa que começou a operar comercialmente em 2020 e que tem inaugurado operações de navios sem tripulação na Europa. Isso acontece por meio de um painel de controle, que permite que o operador trabalhe diretamente de dentro de um escritório. Desta forma, ele não precisa ficar horas ou até dias dentro de um navio, e pode rever sua família todos os dias da semana ao fim do expediente.
Os primeiros passos para que o transporte de cargas seja feito através de navios autônomos já estão em curso. “Hoje, operamos com dez embarcações, apenas em rotas fluviais dentro da Bélgica. Nossa ideia é chegar ao fim deste ano com 26 navios comandados por operadores diretamente de dentro do nosso escritório”, explicou Janis Bargsten, diretor de Operações da Seafar. “Como estamos no começo, essas primeiras embarcações ainda trazem tripulação, mas outra área já funciona com uma equipe reduzida, além daqueles já controlados de forma totalmente remota”, completou Bargsten.
A companhia está presente em três rotas na Bélgica, todas com transporte de contêineres e carga seca. “Estamos estudando iniciar operações com cargas líquidas, mas para a navegação remota, é preciso primeiro adaptar os navios”, afirma.
Um dos grandes impasses, hoje, é o alto custo da mão de obra, que também é escassa na Europa. Por conta das longas viagens e do pouco tempo em casa, tem sido cada vez mais difícil contratar capitães para comandar os navios. O caminho para a operação 100% remota e autônoma aparece, desta forma, como solução, até porque a tripulação representa 40% do custo da navegação por hidrovias no país.
A escolha da sede da empresa na Bélgica, região de Flandres, foi porque o país permitiu que esse tipo de operação fosse feito por lá. “A grande incógnita é o quanto os reguladores e a sociedade vão aceitar essa tecnologia, até porque uma navegação totalmente autônoma acaba levando de dez a quinze anos para amadurecer”, avalia o diretor. A expansão da Seafar vai depender da autorização de autoridades em países na Europa, mas isso não deve ser problema, já que existem testes em curso tanto na Holanda como na Alemanha.