Tecnologia: Além de cuidados especiais no manuseio e armazenagem, também é preciso evitar roubos

08/07/2021

Este setor engloba produtos com elevado valor monetário em si, mas que também são muito desejados – como os smartphones –, o que acaba gerando um maior risco na movimentação e armazenagem da carga.

 

Pela primeira vez, a seção “Logística Setorial” da revista Logweb enfoca o segmento de tecnologia.

Mas, quais produtos são englobados neste guarda-chuva? Vamos responder com base no que os participantes desta nossa reportagem especial movimentam e armazenam: eletroeletrônicos no geral (linha branca e cinza), smartphones, computadores, tablets e equipamentos de informática, redes e telecomunicações, além de insumos e componentes de maior valor agregado (DHL Supply Chain); servidores, switches, placas solares, inversores, módulos, cabos e conectores, processadores, placas, roteadores, telas de LCD, monitores de display, pendrives, coletores de dados, leitores óticos, spare parts (JCLOG – JR Logística Integrada Eireli); produtos de computação, eletrônicos de consumo, componentes eletrônicos, telecomunicação e infraestrutura, antenas de radiofrequência, semicondutores e contract manufaturing (Kuehne+Nagel Brasil); linha branca: ar-condicionado residencial e industrial, microondas, geladeiras, lava e seca; linha marrom: televisores, aparelhos de som, monitores; linha vermelha: projetores, notebook, celular (Penske Logistics); chips, modems, celulares, equipamentos de infraestrutura de Telecom – materiais e equipamentos para redes e antenas (TPC Logística Inteligente).

 

Peculiaridades

Trata-se de uma área que vem crescendo de forma constante nos últimos anos e apresentando cada vez mais sofisticação e valor agregado. Com isso, de forma geral, são produtos com elevado valor monetário em si, mas que também são muito desejados – como os smartphones –, o que acaba gerando um maior risco na movimentação da carga.

“Embora não seja exatamente delicada, trata-se de uma carga que demanda cuidados extras, pois uma avaria pode prejudicar o funcionamento e impedir uma venda, gerando perdas relevantes. Desta forma, o planejamento e cuidado no manuseio e transporte deve ocorrer ao longo de toda a cadeia, incluindo aí, muitas vezes, escoltas e sofisticados sistemas de monitoramento e segurança”, aponta Ana Blanco, vice-presidente de Operações da DHL Supply Chain.

Na verdade, a logística apresenta diversas peculiaridades para atender este segmento, desde o gerenciamento da cadeia de suprimentos, demandas futuras e previstas, projetos, reformas de sites, sustentação de infraestrutura tecnológica e manutenção de equipamento, recebimento de importação, fornecedores locais, processamento de pedidos e atendimentos emergênciais, segundo Epaminondas Rodrigues de Araujo Junior, CEO da JCLOG – JR Logística Integrada Eireli.

“Uma das características desse segmento é a velocidade. Algo novo sempre chega ao mercado e é preciso ser ágil para transportar e distribuir. O setor de celulares, por exemplo, é bem movimentado nesse sentido e há um tempo certo para chegar ao mercado por conta do prazo de lançamento.”

Por essa razão – continua Eduardo Razuck, diretor geral da Kuehne+Nagel Brasil –, o custo logístico acaba aumentando nesse segmento. Há uma demanda de tempo específica e muitas empresas acabam pagando mais para o seu produto estar no mercado no tempo necessário, o que eleva o preço das outras commodities que precisam acompanhar essa dinâmica.

O trabalho e a educação estão cada vez mais adotando um estilo remoto, reflexo da pandemia, e por isso há um excesso de demanda nesse segmento em que o home office predomina, então hoje são produtos “must have” e as empresas precisam se adaptar e fazer aquisições de tecnologia, como notebooks, tablets etc.

Para os produtores, esta situação gerou ainda mais competitividade entre eles, pois o mercado está muito exigente com relação a produtos de qualidade e tempo de entrega (e-commerce), e por isso elas demandam um parceiro logístico que consiga dar total visibilidade a suas cargas e atuar com efetividade na logística.

Ainda segundo o diretor geral da Kuehne+Nagel Brasil, outra peculiaridade desse setor é a segurança. Pensando nos países da América Latina, essa parte é supercrítica. É preciso ter uma estrutura muito bem consolidada para não haver problemas.

Além desta questão de segurança, Endrigo Taurisano, gerente de Operações Sênior da Penske Logistics, também coloca, entre as principais características da logística neste segmento, as questões de manuseio e armazenagem, devido à fragilidade dos itens e sazonalidade.

Entre os fatores de segurança, uma das peculiaridades do setor é a implementação de um gerenciamento de risco robusto, com monitoramento remoto dos warehouses e de todo o processo logístico.

No manuseio e armazenagem, treinamento e capacitação dos times são críticos e fazem toda a diferença. Também a gestão dos dealers em uma atuação com as assistências técnicas do cliente são fatores importantes.

E por fim, pontua Taurisano, menciona-se a sazonalidade devido à alta concentração dos volumes nas duas últimas semanas do mês devido à dinâmica de mercado neste segmento.

“Em se tratando de produtos sensíveis e de alto valor agregado, a logística desses materiais requer um trabalho minucioso e detalhado, desde os cuidados com o transporte, manuseio, armazenagem adequadas até a entrega final do produto, com apólices de seguro abrangentes”, complementa Ana Paula Felix, gerente comercial do Segmento Tecnologia e Telecom da TPC Logística Inteligente.

 

Exigências

Por tudo o que foi apresentado, a gerente comercial da TPC Logística Inteligente prossegue apontando as exigências impostas aos OLs e às transportadoras para atuarem neste segmento, como o planejamento logístico de ponta a ponta, com alto requerimento de visibilidade da operação em tempo real.

Segundo Ana Paula, a logística de eletrônicos precisa considerar diferentes cuidados e infraestruturas adequadas em cada processo da cadeia, desde o carregamento do caminhão até a chegada às prateleiras do armazém ou nas mãos do consumidor.

No caso do inbound, a gerente comercial aponta os principais requisitos: identificação e facilidade de rastreamento dos itens no armazém; armazenagem adequada; gestão eficiente de estoque; tecnologias específicas para o controle interno, como sistemas adequados; picking e packing eficientes; carregamento e expedição adequados, sem riscos ou danos ao material.

Já no caso do outbound, de acordo com Ana Paula, os principais requisitos incluem: capacidade tecnológica de monitoramento; comunicação integrada entre os players da entrega; transporte adequado; planejamento, roteirização e acompanhamento das rotas realizadas; segurança e compromisso com a integridade da carga; gerenciamento de risco e seguros.

Ana Blanco, da DHL Supply Chain, destaca que, além de experiência e escala, a área de tecnologia demanda uma infraestrutura robusta, especialmente em tecnologia para visibilidade da cadeia de ponta a ponta. Como a pandemia deixou ainda mais claro, neste mercado, os Operadores Logísticos precisam ter também agilidade, flexibilidade e até criatividade para lidar com entregas urgentes, mudanças bruscas do mercado e picos de demanda.

Também de acordo com Ana Blanco, outra capacidade importante é a multimodalidade – aplicação de diferentes opções terrestres, incluindo até veículos elétricos, aéreas e até marítimas –, fundamental para proporcionar custos mais competitivos e ter alternativas para eventuais gargalos, como ocorreu com a redução da malha aérea no ano passado, ou mesmo para escapar de restrições de circulação urbana para entregas de e-commerce.

“De fato, as principais exigências são oferecer um processo completo e robusto, um sistema de segurança adequado, uma rede logística funcional e soluções capilarizadas, pois, para o segmento de tecnologia, há uma abrangência de entrega muito grande pelo país e também em exportação. Por conta disso, é necessário contar com procedimentos muito bem estruturados”, emenda Razuck, da Kuehne+Nagel Brasil.

Taurisano, da Penske, completa, voltando-se mais para a área de armazenagem. Assim, entre os principais requisitos de mercado para atuação na armazenagem de produtos tecnológicos estão: gestão e gerenciamento de risco, infraestrutura adequada, sistemas de última geração (WMS/TMS) que permitam a adoção de plataformas inteligentes para não somente atender a alta demanda dos grandes varejistas com informações objetivas, mas, também, contribuir com a redução de custos e elevação dos níveis de serviços praticados.

 

Dificuldades

Como o leitor deve notar, pelas peculiares da carga e pelo que é imposto, são várias as dificuldades enfrentadas para atuar neste setor. Mas, há saídas.

Especificamente na pandemia, as principais questões foram os picos de demanda, as demandas sanitárias e algumas restrições de circulação, especialmente com a redução da malha aérea. “De forma geral, a questão da segurança da carga, cuidado extremo na manipulação e resiliência operacional para atender as demandas dos clientes e as flutuações do mercado são as principais questões”, aponta Ana Blanco, da DHL Supply Chain.

Para minimizar estes problemas, a Operadora Logística dispõe de modernos sistemas de monitoramento (às vezes até em redundância) e uma torre de controle com abrangência nacional para acompanhamento integral de sua carga. “Enquanto Operador Logístico, damos acesso aos clientes a nossa escala, dispondo de instalações, veículos e equipes que podem ser realocadas com rapidez em caso de picos de demanda, como ocorreu, por exemplo, com o e-commerce durante a pandemia. Temos experiência também em integrar modais e dispomos de veículos com tamanhos e características distintas para cada situação. Temos inclusive um grupo de veículos com itens extras de segurança voltados especialmente ao mercado de eletroeletrônicos”, completa a vice-presidente de Operações da DHL Supply Chain.

Para Araujo Junior, da JCLOG, entre as dificuldades hoje está a falta de maior integração e alinhamento dos parceiros com as necessidades do cliente final, pouca flexibilidade entre elos da cadeia, áreas de suporte fiscal pouco dinâmicas e horário de atendimento diversos, além de parceiros com restrições de horário. “Estes entraves podem ser superados com flexibilidade no atendimento, comunicação direta com todos os membros envolvidos, investimento em tecnologia e integração, entender a necessidade para atender e agregar valor ao negócio de nosso cliente no atendimento de 100% das demandas em qualquer horário (24/07/365 dias).”

A maior dificuldade é a complexidade do mercado que se agregou para a operacionalização do dia a dia, diz, agora, Razuck, da Kuehne+Nagel Brasil. “Hoje temos que correr atrás de contêiner, encontrar um espaço no avião, no caminhão, no navio. Além disso, há uma defasagem grande de mão de obra nos portos e aeroportos por conta da Covid-19. As companhias estão sem tripulação atuando presencialmente, o que dificulta ainda mais todo o processo. Soma-se a tudo isso o ‘time to Market’. Como mencionado anteriormente, esse segmento demanda uma velocidade muito grande de operação.”

Para atender a atual demanda, a Kuehne+Nagel Brasil revitalizou um produto e passou a oferecer um serviço chamado “SeaAir”, que combina o transporte marítimo com o aéreo. “Com custo médio da operação, ele agiliza o transporte e ainda é mais sustentável, com menos emissão de carbono. O trabalho nesse momento é oferecer soluções diferenciadas, buscar alternativas e mudar a roteirização. Nossos clientes de tecnologia foram os que mais utilizaram a cadeia SeaAir”, completa o diretor geral da Kuehne+Nagel Brasil.

Outro dos grandes desafios deste segmento é conseguir equilibrar os custos sem onerar o cliente. A concentração da alta demanda de vendas na última semana do mês, bem como a necessidade em fornecer serviços além do trivial como, por exemplo, montagem de kits de produtos (dois ou + produtos com entrega única), reembalagem e gestão de dealer (assistência técnica), são os principais desafios encontrados neste segmento, além de serem produtos muito “visados” que naturalmente exigem mais processos de segurança. Outro desafio enfrentado é a burocratização dos processos fiscais, o que exige uma gestão de controle conjunta da Penske com seus clientes.

“Entendemos que os desafios do setor são superados com um robusto e rigoroso sistema de gerenciamento de risco, tanto tecnológico, com controle e gestão da informação (garantindo veracidade), quanto de processos, com barreiras de segurança e acompanhamento de carregamento e descarregamento, além de versatilidade e flexibilidade para atender a dinâmica do mercado com treinamento e capacitação”, completa Taurisano, da Penske.

Ana Paula, da TPC Logística Inteligente, também cita como grandes dificuldades: alteração da cadeia de suprimentos muito rápida, devido à velocidade da tecnologia dos produtos, quantidade cada vez mais elevada de SKU e atendimentos emergenciais. “Estas dificuldades podem ser enfrentadas com a utilização de sistemas aderentes à operação do cliente, WMS e visibilidade da cadeia através da LIS (plataforma web TPC que integra todos os elos da cadeia logística), planejamento de demandas e balanceamento de estoque (curva ABC).

 

Tendências

A resiliência, certamente, é um tema em ascensão. Com a pandemia, ficou provado que as cadeias de suprimentos precisam ser inteligentes e com capacidade de se adaptar e buscar alternativas mesmo em cenários extremos.

Ainda de acordo com Ana Blanco, da DHL Supply Chain, falando das tendências da logística neste segmento, o uso cada vez mais intensivo de dados também vem ocorrendo e ajuda tanto na previsão de demanda, como na mitigação de riscos. Além disso, de forma geral, a incorporação de cada vez mais inovação aos processos logísticos também é uma tendência forte, com destaque para machine learning, inteligência artificial e IoT, bem como a eletrificação e redução de impacto ambiental.

“Há uma forte tendência na automação em todos os processos de serviço de armazenagem.  A ideia é incluir todos os tipos de inovação de mercado para atender esse segmento. Além disso, o lead time das operações dos clientes vai pressionar ainda mais a logística para oferecer soluções mais rápidas. Estamos trabalhando com soluções diferenciadas e em longo prazo, completa Razuck, da Kuehne+Nagel Brasil.

Taurisano, da Penske, faz uma lista de cinco tendências de logística para o setor de produtos tecnológicos: Integração de processos e intermodalidade, que consiste na fusão de modais de transporte (marítimo, terrestre, aéreo, ferroviário, etc.) para garantir a chegada do produto ao Centro de Distribuição; Logística sustentável, que tem sido uma das crescentes do mercado, especialmente na adoção de equipamentos elétricos e todas as iniciativas relativas à sustentabilidade no transporte de cargas; Digitalização da cadeia de suprimentos, de forma a criar sistemas automáticos para reduzir custos de processos aos clientes; Logística Lean, que também tem sido uma crescente no mercado e nada mais é do que aprimorar os processos logísticos e contribuir para a redução de custos; e Logística 4.0, desenvolvendo processos inovadores por meio de tecnologia de alto desempenho e também parcerias.

Atualmente, a Penske vem avaliando parcerias com startups no Brasil para aprimorar seus serviços e processos de gerenciamento logístico e entregar ainda mais inovação aos seus clientes.

Ana Paula, da TPC Logística Inteligente, completa com outra lista de tendências: Logística integrada – Modelo 4PL; Integração da cadeia de abastecimento; Aumento do nível de serviço ao consumidor final; Atendimento no last mile; Ship from store.

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