A greve dos caminhoneiros e a criação da nova tabela de frete e suas regras de aplicação têm aumentando o interesse pela aquisição de implementos por parte dos geradores de carga e outras empresas que tradicionalmente contratam o frete. Principalmente o agronegócio.
Aindústria de implementos rodoviários se encontra em fase de recuperação. O desempenho de janeiro a julho de 2018 representa em números absolutos menos da metade do apurado em igual período de 2013. Em sete meses, a indústria entregou ao mercado 46.674 unidades, enquanto que no mesmo período de 2013 foram emplacados 100.406 implementos rodoviários.
“Esse ano a curva descendente foi interrompida e o total emplacado em sete meses está 52% acima do mesmo período de 2017, quando a indústria entregou ao mercado 30.707 implementos rodoviários. Mas, por conta das perdas acumuladas não se pode afirmar que estamos crescendo, mas, sim, iniciando a recuperação.”
A avaliação é de Norberto Fabris, presidente da ANFIR – Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Fone: 11 2972.5577), para quem as perspectivas com relação ao setor são de concluir o ano de 2018 com um total de emplacamentos da ordem de 82 mil unidades entre reboques e semirreboques e carroceria sobre chassis.
Neste contexto, Fabris aponta o que deveria ser feito por parte do governo para incentivar o segmento. Diz ele que o setor de implementos rodoviários tem seus negócios ligados ao bom desempenho da economia. “Dessa forma, quaisquer medidas que reflitam na atividade econômica acabam por beneficiar os negócios do setor.”
Fabris também fala sobre os caminhos para superar a retração no mercado interno, passando, obviamente, pelas exportações.
Segundo ele, a conquista do mercado externo é um caminho que já vinha sendo trilhado por algumas empresas pioneiras e desde 2016, graças à parceria com a Apex-Brasil, ganhou a adesão de mais empresas do setor. “Hoje somos 50 associados que participam do programa MoveBrazil de internacionalização do implemento rodoviário brasileiro. Os negócios com exportação seguem ritmo diferente e são específicos de cada mercado. O foco atual é a América Latina, onde a ANFIR, junto com a Apex-Brasil já apresentou nossos produtos na Colômbia, no Panamá, Peru, Chile e México.”
O presidente da ANFIR também avalia a influência das eleições particularmente neste setor. Ele diz que, no desempenho desse ano é mínima, porque muitas empresas associadas à ANFIR já estão com suas carteiras de pedidos preenchidas até dezembro. “No próximo ano, sim, o resultado de outubro vai influenciar porque teremos uma nova política econômica. Mas vamos manter a esperança que os eleitos sigam a trilha do desenvolvimento sustentável do Brasil. A ANFIR espera que o novo governo tenha o compromisso com o desenvolvimento, reduzindo os gastos públicos e incentivando a produção.” Afinal, como diz Fabris, a Associação busca continuamente defender as posturas do setor em favor do desenvolvimento da economia e dos negócios.
Fornecedores
Colocadas as posições da Associação que representa os fabricantes de implementos rodoviários, quais seriam as avaliações destes mesmos fabricantes quanto ao setor?
Fazendo um balanço do setor em função da economia, Arndt Budweg, diretor geral da AL-KO Technology Brasil Indústria e Comércio de Peças para Reboques (Fone: 11 3777.9780) – empresa que atua no mercado de reboques leves até 3,5 toneladas de capacidade, fornecendo componentes para os fabricantes destes implementos, como chassis completos, eixos com ou sem freios, sistema de freios inerciais, travas de engates, para-lamas, pés de apoio, pedestais, etc. –, este mercado sofreu uma queda praticamente imperceptível durante a última recente crise brasileira. Isto se deve a dois motivos: primeiro, que os reboques leves, na sua grande maioria, são comprados sem financiamento e, segundo, que o aumento de desempregados provoca, ao mesmo tempo, a geração de potenciais novos clientes buscando um meio barato de transportar seu negócio.
Fábio Tronca, gerente Nacional de Vendas e Marketing da Librelato Implementos Rodoviários (Fone: 48 3467.2200) – que produz implementos rodoviários para diversos segmentos, como carga seca/graneleiro, basculante, carrega tudo, tanques em aço carbono e inox, florestal, furgão alumínio, furgão lonado, furgão lonado para transporte de bebidas, porta contêiner, silo, canavieiro e furgão frigorífico, e também na linha sobre chassi, com carrocerias nos segmentos de basculante meia-cana, furgão alumínio, furgão lonado para bebidas e florestal, além de carrocerias para transporte de automóveis, basculante, coletor compactador para transporte de resíduos, nos modelos lateral e traseiro, poliguindaste e carga seca metálica – avalia que, com a recuperação da atividade econômica, especialmente no setor do agronegócio, a expectativa é que o segmento de implementos feche este ano com um crescimento da ordem de 50% em relação ao ano passado.
Contudo – prossegue Tronca –, com toda a linha de produtos modernizada, e com a performance de vendas que vem registrando neste ano, a Librelato estima que fechará 2018 com histórica expansão de mais de 80% em vendas.
Pelo seu lado, Claude Domingues Padilha, gerente de Marketing e Gestão de Rede Randon Implementos – Divisão Montadoras – da Randon Implementos e Participações (Fone: 54 3239.2000) – a empresa é considerada líder na fabricação de reboques e semirreboques da América Latina e entre os maiores do mundo, fabricando diferentes tipos de equipamentos entre semirreboques, reboques e carrocerias, nas modalidades graneleiro, carga seca, tanque, basculante, silo, frigorífico, canavieiro, florestal, sider, furgão, entre outros, e em 2004 ingressou no segmento ferroviário, complementando seu portfólio de produtos para o transporte de carga, com os vagões do tipo hopper, gôndola, tanque, carga geral, sider e plataforma, entre outros – avalia que, apesar da ainda lenta retomada da economia e das incertezas do cenário político diante das próximas eleições, o mercado brasileiro de caminhões e semirreboques começou a reagir com maior intensidade, com vendas de 19.415 semirreboques no semestre, contra 10.802 unidades vendidas de janeiro a junho de 2017 e 32.025 unidades de caminhões, contra 21.455 no segundo trimestre de 2017. Esse crescimento de mercado teve reflexo direto no desempenho da Randon no primeiro semestre, que registrou a produção de 8.711 unidades, 58,8% superior às 5.486 unidades de igual período de 2017. “Com isso, o market share da empresa subiu para 39,1%. A necessidade de renovação da frota nacional e a vantagem competitiva de produtos mais atualizados, que trazem maior eficiência e produtividade à operação, têm sido fatores fundamentais na tomada de decisão dos transportadores”, diz Padilha.
Jorge Franchi Mota, diretor de Novos Negócios da Marksell – MKS Equipamentos Hidráulicos (Fone: 11 4772.1100) – a empresa fornece plataformas elevatórias de carga veicular e guindastes veiculares – também se refere às eleições para fazer um balanço do setor. Ele diz que o ano se mostra desafiador e só deve mostrar resultados após a definição eleitoral. A falta de crédito e poupança – diz ele – limitam investimentos no setor de implementos.
Outro empresário do setor que também aponta crescimento é Alcides Geraldes Braga, sócio-diretor da Truckvan Indústria e Comércio (Fone: 11 2635.1133) – a empresa fornece semirreboque com piso móvel para transporte de biomassa, semirreboque para cargas valiosas e unidades móveis especiais, além de ser distribuidora plena da Randon Implementos na Grande São Paulo. Ele aposta em um forte crescimento do setor, mais do que 50%, especialmente na linha pesada e para setores descolados, como agronegócio, celulose e automotivo. Ainda não é um crescimento linear e é concentrado nos grandes grupos, diz Braga. Nos demais setores ainda há estagnação.
Expectativas
“Nosso setor de reboques leves deve voltar a crescer substancialmente com a volta do aquecimento da economia em geral. Outro ponto importante é que qualitativamente os reboques devem ter um impulso forte, visto que a ilegalidade está sendo amplamente combatida, e também há a entrada de fornecedores internacionais no mercado brasileiro de reboques leves”, aposta Budweg, AL-KO Technology.
Também otimista, Luís Carlos Spricigo, CEO da Librelato, ressalta que para 2018 há projeções de crescimento próximo a 15%, resultado esperado devido à reestruturação da rede de representantes, aumento do portfólio de produtos e investimentos em processos com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva.
“A carteira de produção dos principais fabricantes indica volumes positivos para os próximos meses. Já o segmento de vagões ferroviários segue na expectativa da renovação das concessões, o que depende de poucos players, mas a empresa já conta com entregas programadas para o próximo trimestre, quando os vagões serão fabricados na nova unidade da Randon Araraquara, em São Paulo. Acreditamos que o mercado tem potencial de crescer mais de 30% em 2018 em relação a 2017, mesmo prevendo algum leve desaquecimento dos volumes no segundo semestre em função da sazonalidade de alguns segmentos, como o canavieiro e graneleiro. No curto e médio prazo, entretanto, o mercado não deve retornar aos números verificados no passado, de mais de 70 mil unidades no mercado interno, motivado principalmente pelo farto e barato crédito do período, fator que não retornará. Porém, é fato que os números verificados nos últimos anos estejam aquém da necessidade e demanda do país, o que abre espaço para crescer”, avalia, agora, Padilha, da Randon.
E Braga, da Truckvan, também aposta em um crescimento de 50%, mas não vê mudanças no quadro. Os segmentos fortes continuarão crescendo, mas uma mudança de chave vem mais no ano que vem, com a mudança de governo. “Em relação à Truckvan, estamos num patamar melhor do que o último triênio e acreditamos crescer cerca de 20%.”
Mota, da Marksell, também acredita em um crescimento em 2019 – mais por conta da redução de endividamento das famílias que por conta do investimento. “O governo, em virtude da sua posição fiscal, está estrangulado, não fará grandes investimentos. O setor privado deverá suprir essa demanda que nos últimos 10 anos foi feita pelos governos via investimentos em infraestrutura e via financiamentos (crédito) via BNDES. A grande pergunta que devemos fazer é: A que velocidade isso deve ocorrer?”, completa o diretor de Novos Negócios da Marksell.
Investimentos
Neste contexto, quais seriam os setores que mais têm investido nos implementos rodoviários?
Na visão de Fabris, da ANFIR, o líder tem sido o agronegócio. “Mesmo com a crise o setor seguiu comprando produtos. Isso acontece porque temos registrado sucessivos recordes de safra.” De fato, Tronca, da Librelato, aponta que entre os setores que mais tem investido em novos implementos estão o agrícola e o florestal.
E Braga, da Truckvan, também faz sua lista que setores que mais têm investido nos implementos rodoviários: agronegócio, canavieiro, Operadores Logísticos, na área de sider e baú, e florestal, na área da celulose. “Esses segmentos estão se destacando em função basicamente de serem commodities exportáveis e do setor automotivo que retomou com força”, diz o sócio-diretor da Truckvan.
Mota, da Marksell, acredita que o tabelamento de frete, apesar de não ser o modelo mais acertado, irá contribuir para o crescimento dos equipamentos de movimentação, já que os clientes devem buscar formas de otimizar suas movimentações, a fim de manter sua rentabilidade e reduzir suas despesas operacionais.
Por outro lado, muitas indústrias têm encontrado no reboque uma maneira fácil e econômica de tornar inúmeras máquinas estacionárias em móveis. Outro mercado que teve uma impulsão muito grande foi o de food trailers, aponta, agora, o diretor geral da AL-KO Technology.
E, de uma maneira geral, Padilha, da Randon, ressalta que a retomada dos negócios tem se mostrado consistente em quase todas as famílias de produtos, liderada pelos segmentos de graneleiros, basculantes, carga-geral e tanques.
Novos setores
Interessante também é apontar os novos setores que têm investido nestes implementos.
Budweg, da AL-KO, aponta o setor de refrigeração que, segundo ele, está encontrando no mercado novas soluções de transporte e armazenamento de baús refrigerados sobre rodas. O diretor geral acredita que esta solução, prática e muito econômica, tenha um grande desenvolvimento nos próximos anos.
“Além dos clientes tradicionais, como empresas transportadoras e Operadores Logísticos, recentemente houve um aumento no volume de compras de implementos por parte de produtores rurais e geradores de carga. O maior volume de carga por parte dos produtores rurais se dá em função das safras agrícolas. A despeito dos problemas políticos e econômicos, o Brasil é uma respeitável potência agrícola. Nossos campos batem sucessivos recordes de produção e nossa produtividade é uma das melhores do mundo nessa área. Outro fator que colabora para o aumento da compra é a questão da tabela de frete que aumentou o custo do transporte. Sendo assim, os maiores produtores passaram a fazer sua própria logística”, destaca o gerente Nacional de Vendas e Marketing da Librelato.
A análise de Padilha, da Randon, é parecida. Inicialmente ele coloca que não há um novo setor investindo em implementos, os investimentos têm sido realizados consistentemente por todos os setores tradicionais do transporte.
“O que notamos, motivado pelo recente movimento derivado da greve dos caminhoneiros e a criação da nova tabela de frete e suas regras de aplicação, é o aumento do interesse pela aquisição de implementos pelos geradores de carga e outras empresas que tradicionalmente contratam o frete. Entretanto, isto tem sido um movimento mais inicial, não caracterizando ainda uma introdução de novos compradores. O setor possui historicamente geradores de carga que investem em implementos rodoviários”, diz o gerente de Marketing e Gestão de Rede Randon Implementos.
E Braga, da Truckvan, também decreta: “Uma nova onda de encomendas está prevista para vir de geradores de carga, buscando proteção quanto aos riscos advindos da paralisação dos caminhoneiros havida nesse ano”.
Finalizando Mota, da Marksell, diz que sua empresa investiu recentemente em uma nova linha de plataformas de carga para veículos leves de distribuição urbana, pois acreditam que os disponíveis migraram dos modelos maiores (caminhões com PBT acima de 11 toneladas) e prejudicam a eficiência no transporte, agregando peso e custos desnecessários aos transportadores.