Aqui, uma das grandes preocupações está na não contaminação dos produtos por odores ou resquícios da carga anterior ou contaminantes externos, como água ou umidade.
Quando o assunto é logística no segmento de alimentos e bebidas, é notório que as características dos produtos acabam sendo impositivas. Senão veja as peculiaridades deste segmento apontadas por representantes de alguns Operadores Logísticos e transportadoras.
Gerval de Freaza Menezes, gerente comercial da CD Logística Nordeste Eireli (Fone: 71 3113.7700) – que atua com transporte rodoviário e aéreo – diz que neste segmento é preciso ter um controle para que o produto não receba luz solar de forma direta e que não esteja sujeito a intempéries, garantindo, assim, a sua integridade e qualidade, bem como impedindo a sua contaminação e deterioração. “Além disso, a carga não deve ser armazenada ou transportada diretamente sobre o piso, utilizando-se paletes para esse fim. Também é fundamental que os veículos de transporte de alimentos estejam limpos e higienizados, evitando sujeira e odores que possam atingir a carga. Esses produtos não devem se comunicar com produtos tóxicos, de higiene e para o público animal, visando evitar contaminação. Ademais, tanto o armazém quanto os veículos devem estar regularizados, com suas licenças em dia, o que compreende atender a VISA/ANVISA e documentos de trânsito”, explica Menezes.
De fato, Jerry Adriano Longo, gerente corporativo de frota da Coopercarga (Fone: 49 3301.7000) – que atua no modal rodoviário, mas participa da multimodalidade, pois tem filiais atuando em terminais de contêiner e parcerias com atuantes em outros modais – reforça que a grande preocupação é a questão da não contaminação dos produtos por odores ou resquícios da carga anterior, ou contaminantes externos, como água ou umidade. “Por serem produtos destinados ao consumo humano, temos que ter esses e alguns outros cuidados no transporte, na acomodação e no manuseio.”
Outra preocupação – ainda segundo Longo – é a prevenção de avarias, pois, em sua maioria, são produtos frágeis e de fácil dano. Além disso, uma preocupação não somente nesse segmento, mas especialmente, é o risco de roubo, pois alimentos e bebidas são produtos de consumo rápido, sendo foco de bandidos, já que é muito rápido repassar esse tipo de mercadoria, sem rastreabilidade. Outro ponto a considerar é que os produtos alimentícios não estão muito suscetíveis à crise econômica, já que se trata de uma necessidade primária da população. Já o segmento de bebidas tem tido um impacto maior.
Jair Lima, diretor comercial da Gold Logística (Fone: 11 4781.0155) – que oferece transporte rodoviário – também lembra que o segmento de alimentos e bebidas é estratégico para a nossa economia, já que a produção de alimentos no Brasil nos posiciona num lugar de destaque no cenário mundial.
Por outro lado, ele destaca como as principais características deste segmento, os altos volumes de movimentação – produção, armazenagem, distribuição –, controle de estoques, processos de controle de qualidade, atendimento à legislação e normas especificas que regulamentam o segmento, altos níveis de automação no processo produtivo e em evolução constante nas demais fases da cadeia logística.
“É de grande importância que os volumes tenham um nível de atenção maior na armazenagem e no transporte para não ocorrer avarias que possam causar a contaminação ou exposição indevida dos produtos. Por se tratarem de alimentos para consumo, a atenção e o cuidado no manuseio exigem atenção redobrada e velocidade de entrega, assegurando a qualidade dos produtos e de suas propriedades até a entrega ao destino”, ressalta, agora, Herminio Mosca Junior, diretor da Mosca Logística (Fone: 19 3781.2222), que oferece transporte rodoviário de cargas fracionadas.
Suellen dos Santos Freitas, administrativo de Vendas da Logplan Logística e Planejamento (Fone: 11 2078.8236) – que vem atuando há 22 anos com o modal cabotagem, englobando, ainda, os transportes rodoviários, marítimo e fluvial – também cita segurança no transporte da mercadoria, índice zero de contaminação do produto, informações referentes à rastreabilidade da carga e redução na emissão de CO2.
Também com atuação no segmento de cabotagem – conjugada com o transporte rodoviário, ferroviário, balsa e/ou barcaça, num serviço porta a porta –, a Aliança Navegação e Logística (Fone: 11 5185.3100) oferece uma visão diferenciada do segmento. Jaime Batista, gerente nacional de vendas da empresa, aponta que hoje este segmento já utiliza a cabotagem em grande escala/volumes, seja no transporte de produtos secos (biscoitos, massas, farinha, açúcar, arroz), refrigerados (frangos congelados, margarinas, polpas, entre outros) ou bebidas alcoólicas e não alcoólicas (vinhos, cervejas, sucos, água). “Como todo produto para consumo, seja humano ou para PETs, temos que oferecer um serviço que agregue valor a nossos clientes, principalmente no que se refere à garantia de manutenção da qualidade do produto final, como evitar riscos de abastecimento nas gondolas dos supermercados (por exemplo). Como sabemos, nós, como consumidores, temos um grau de exigência elevado, pois desejamos sempre produtos frescos/sem avarias ou sinais de violação, como disponíveis no momento certo/hora certa (ato do desejo consumo).”
Batista ressalta, ainda, que operacionalmente, o manuseio de produtos alimentícios e bebidas requer um cuidado maior, desde a seleção de contêineres (em especial no que se refere à limpeza interna) até a atenção redobrada no manuseio da carga durante a estufagem ou desconsolidação do contêiner (evitando-se avarias), além de um rigoroso controle/monitoramento de temperatura em cargas refrigeradas (congeladas e/ou resfriadas).
“No que se refere à gestão do fluxo da carga, pelo fato de oferecermos entregas em venda direta junto a redes varejistas e/ou atacadistas (adicionalmente às operações de transferência), é fator primordial disponibilizar o tracking/rastreamento da carga desde a coleta (origem) até seu destino final, de maneira que a indústria ou comércio tenham condições de monitorar se o lead time da carga esta seguindo os tempos previstos”, completa o gerente nacional de vendas da Aliança.
Tendências
Como visto, pelas características do segmento, várias tendências se apresentam.
“Uma delas é conseguir transportar mais em um mesmo equipamento, ou seja, o desenvolvimento de equipamentos com maior capacidade de carga, mas que consigam manter o nível de segurança, da segurança alimentar dos produtos, focando ainda na prevenção de avarias”, ressalta Longo, da Coopercarga.
Outro ponto a considerar como tendência – ainda segundo o gerente corporativo de frota – são equipamentos que facilitem o processo de carga e descarga, dando agilidade a essa etapa, que é um dos gargalos do segmento. “Ainda, podemos falar em tecnologias que permitam a conferência mais rápida e confiável da qualidade, quantidade e validade dos produtos transportados, dando mais segurança ao embarcador, transportador e cliente.”
Por sua vez, Lima, da Gold Logística, destaca que o segmento de alimentos e bebidas está em constante transformação e atualmente as principais tendências estão na inovação de produtos com maior variedade de SKU e tamanhos de embalagens, o que aumenta a complexidade da programação da produção e a gestão de armazenagem/estoques pelo Operador Logístico; projetos de atendimento customizados, onde o Operador desenvolve para toda a cadeia logística do embarcador (da produção à distribuição) soluções sob medida para agregar valor, reduzir custos e elevar os níveis de serviço; operações noturnas, que contribuem significativamente, como já percebido, com melhoras no planejamento dos processos de distribuição, tempo de entrega, otimização de recursos e melhorias na mobilidade nas grandes cidades, reduzindo o fluxo de veículos e congestionamentos; e controle de KPI´s, que são de extrema importância para garantia dos níveis de serviços estabelecidos nos acordos comerciais, melhor gestão das operações e visualização permanente das oportunidades de melhoria em toda cadeia.
Herminio, da Mosca Logistica, conclui destacando que o transporte de alimentos é uma etapa essencial da cadeia logística, onde os investimentos em equipamentos para suprir os níveis de exigência dos embarcadores têm se elevado nos últimos anos. Segundo o diretor, o transporte de alimentos requer o cumprimento de regras estabelecidas por órgãos sanitários municipais e estaduais, além da necessidade de se homologar licenças para este transporte.
Relacionamento
Ainda dentro das exigências impostas para atuação no segmento de alimentos e bebidas são apontados os fatores que podem garantir um bom relacionamento entre o embarcador e o prestador de serviços de transporte e armazenagem.
Menezes, da CD Logística Nordeste, destaca a necessidade de informação constante e imediata entre o OL e o embarcador, repassando a todo o momento o status das entregas e das ocorrências. Além disso, prezar pela segurança da carga em trânsito até o seu destino final – através do rastreamento e monitoramento dos veículos – e, quando armazenados, um controle eficaz do estoque com 100% de acuracidade e informação online, bem como vigilância e câmeras.
Na visão de Longo, da Coopercarga, é preciso que as responsabilidades de todas as partes envolvidas estejam claras. Direitos e deveres precisam estar claros na proposta comercial que foi firmada, assim como as informações entre os mesmos precisam fluir de maneira rápida e confiável, sendo feitos registros de todos os acordos e possíveis ajustes, seja por e-mail, via EDI, etc. “E claro, acima de tudo, é preciso que as partes cumpram as condições propostas e agendamentos determinados.”
O diretor comercial da Gold Logística relata que transparência nas informações para pleno conhecimento da operação, melhoria continua nos processos por parte do prestador de serviços, cumprimento dos níveis de serviço acordados, melhoria continua e identificação de oportunidades para redução de custos e simplificação das operações levarão ao bom relacionamento e longevidade contratual.
Lima é complementado por Suellen, da Logplan, que aponta como fatores que podem garantir um bom relacionamento entre o embarcador e o prestador de serviços de transporte e armazenagem: manter um relacionamento constante, uma boa relação comercial nas negociações (ganha-ganha) e com o comprometimento comercial entre as partes.
“Para que o processo da cadeia logística possa ocorrer com velocidade e qualidade de ponta a ponta, é fundamental a sinergia entre as operações do embarcador, transportador/Operador Logístico e destinatário, isso porque, a necessidade do recebimento tem total ligação com a coleta a ser realizada. Até para que os produtos não fiquem transitando sem necessidade, podendo expor situações de avarias aos volumes”, completa Herminio, da Mosca Logística.
Responsabilidades
E já que falamos em relacionamento entre embarcador, Operador Logístico e transportadora, também é interessante ver as responsabilidades no caso de avarias da carga.
Por exemplo, especificamente neste segmento, quando a responsabilidade por (1) um dano à carga ou (2) atraso na entrega é imputada ao Operador Logístico/transportadora e isto não é verdade?
“No primeiro caso, quando o carregamento é de responsabilidade do embarcador e ao chegar à unidade do Operador Logístico a carga está danificada, o problema não é de responsabilidade do OL, visto que foi gerado no processo de carga. Já no segundo caso, esta ocorrência acontece, geralmente, quando uma determinada carga agendada não é recebida na data e hora prevista pelo destinatário por conta de excesso de veículos. Além disso, durante essa espera, a carga é passível de riscos à sua integridade física e qualidade”, avalia Menezes, da CD Logística Nordeste.
Na visão de Suellen, da Logplan, antes de imputar responsabilidades, primeiramente precisamos analisar a situação dos fatos ocorridos: em caso de dano à carga, deve ser feita uma investigação sobre onde, como e quando ocorreu tal avaria e, assim, determinar a responsabilidade pelo fato ocorrido; no caso de atraso na entrega, ao iniciar uma operação, o cliente deve ter ciência de todas as datas do processo de entrega, como também ser informado à medida que o processo caminhe. Em caso de alguma ocorrência e o cliente esteja previamente informado, não há como o Operador Logístico ser o único responsabilizado.
Por sua vez, Longo, da Coopercarga, destaca que, infelizmente, há uma tendência forte, tanto por parte dos embarcadores, quanto dos destinatários, de responsabilizar o transportador por falhas que não são de sua responsabilidade, como falhas na entrega, avarias nos produtos, atrasos, etc.
“Por isso, é fundamental que as empresas de logística e transporte atuem com extrema organização e responsabilidade nesse ramo. Nós trabalhamos com ordem de coleta, diário de bordo, termos de responsabilidade sobre a carga, etc., justamente para poder, diante de qualquer anomalia, evidenciar que cumprimos a nossa parte no processo, que é pegar a mercadoria do ponto A, com agendamento X, e entregar no ponto B, cumprindo o agendamento, e garantir que a mercadoria seja entregue conforme foi recebida. Sempre reforçamos com o motorista do caminhão para que dê atenção ao momento do carregamento, conferindo acomodação, avarias, mercadorias faltantes, etc., justamente para evitar eventuais transtornos. É importante frisar que muitas vezes acabamos por assumir custos e responsabilidade que não são nossos. Atendemos a todas as orientações e especificações do cliente, cientes de nossas responsabilidades e deveres, mas não podemos assumir custos e responsabilidades decorrentes de outros atores no processo”, destaca o gerente corporativo de frota da Coopercarga.
Para Lima, da Gold Logística, problemas desta natureza ocorrem quando há alterações nos processos acordados para atendimento e não são formalizados para alteração dos manuais operacionais e a equipe realiza a operação segundo seu entendimento, o que normalmente gera não conformidades.
Danos ao produto durante a movimentação no CD ou no trânsito para entrega são mais frequentes do que aparenta, assim como atraso na entrega, e as duas situações são frequentemente imputadas ao Operador/transportador sem que esses tenham responsabilidade de fato. “Em situações como estas é preciso rastrear todo o processo e identificar as causas e determinar as responsabilidades. No entanto, a prática é diferente, o operador de serviços geralmente fica com o ônus”, lamenta o diretor comercial da Gold Logística.
Concluindo esta matéria especial, Herminio, da Mosca Logística, revela que a responsabilidade é muito alta. O cuidado no manuseio e transporte da carga é necessário, pois qualquer problema gerado neste processo gera penalizações e multas. A velocidade no transporte é necessária para assegurar a manutenção da qualidade do alimento e de suas propriedades nutricionais até a entrega ao destino final e, também, porque a grande maioria dos destinatários possui o sistema de anúncios de produtos em tabloides, e não havendo o produto anunciado em estoque, o embarcador é responsabilizado, podendo até haver multas.
Com a palavra, o embarcador
Em complemento à análise do segmento de alimentos e bebidas feita por Operadores Logísticos e transportadoras, também vale a pena ouvir quem está do outro lado, o embarcador.
Neste caso, a Ajinomoto do Brasil (Fone: 11 5080.6700), a maior produtora de aminoácidos do mundo e que trabalha em diversas frentes. São movimentados produtos voltados para alimentação e saúde, como produtos de varejo – temperos, refrescos, azeites e outros – ingredientes para a indústria alimentícia; aminoácidos para consumo humano e medicamentos; aminoácidos para nutrição animal; e fertilizantes.
“Cada um destes produtos exige uma operação diferente. É necessário obedecer às boas práticas de produção, armazenagem e transporte para alimentos e medicamentos, adequar as operações às normas voltadas para segurança de alimentos, assim como cumprir normas especiais, como ANVISA e transporte de produtos perigosos, e, na exportação, as regras de food defense e controle antiterrorismo para os EUA”, revela Luiz Silva, diretor da empresa.
Sobre os maiores problemas encontrados pela Ajinomoto na logística destes produtos, Silva destaca que fazer a logística dentro de um país continental como o Brasil e, também, para exportação traz alguns desafios. Entre eles, o alto custo de distribuição para produtos de baixo valor agregado, equiparados às commodities; a relação direta da operação com os custos de combustível e outros itens de composição do frete; conseguir utilizar ao máximo a multimodalidade de transportes, como o ferroviário e o fluvial, além do portuário, que possui potencial para aprimorar sua infraestrutura; processos para liberação de cargas; e adequação às mudanças na legislação.
“Seria possível resolver essas questões com o aprimoramento da estrutura ferroviária e fluvial (balsas) no Brasil, bem como na infraestrutura portuária, buscando maior eficiência no Porto de Santos e aumento do fluxo de transporte de commodities em outros portos, simplificar a legislação sobre e reduzir a carga tributária sobre os principais itens que compõe o custo logístico”, diz o diretor.
Sobre o relacionamento da Ajinomoto com os seus Operadores Logísticos e transportadoras, Silva diz que a empresa possui um compromisso com seus parceiros de ser transparente e justa. “Através do Programa de Relacionamento com o Fornecedor, o APICE, uma ferramenta utilizada como instrumento de planejamento, acompanhamento, desenvolvimento e alcance de resultados, a empresa busca desenvolver e fortalecer parcerias de longo prazo. Com isso, é possível garantir a excelência no nível dos serviços oferecidos pela Ajinomoto aos seus clientes e, também, reconhecer os fornecedores que apresentarem o melhor desempenho, como forma de estímulo ao contínuo aprimoramento.”
O diretor também diz que os seus Operadores são importantes na transferência de tecnologia e boas práticas de mercado, contribuindo com a inovação em sua cadeia de abastecimento, assim como a melhoria no nível de serviço e custos operacionais. “Eles são responsáveis por unir operações de outros clientes, deixando nossa estrutura mais enxuta e otimizada.”