Plano estratégico prevê Rio como referência em logística mundial

13/12/2016

Um panorama para tornar a logística de transporte do Rio referência no Brasil. É o que prevê o Plano Estratégico de Logística e Cargas do Estado do Rio de Janeiro. Lançado em 2013 e apresentado recentemente, após trinta meses de trabalho, o estudo identifica o que deve ser realizado nos próximos trinta anos para que o estado esteja entre as principais plataformas logísticas da América do Sul.

“Sem dúvida, é um plano inovador que fortalecerá ainda mais a importância estratégica de nosso estado, funcionando como uma plataforma de logística nacional visando o desenvolvimento ordenado do sistema de cargas”. É o que garante Eduardo Rebuzzi, presidente do Conselho Empresarial de Logística e Transporte da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRio) e da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga).

Batizado de PELC RJ 2045, o Plano Estratégico, inédito no estado e construído com representantes dos setores público, privado e da sociedade civil, identifica gargalos e as principais soluções para dar fluidez à produção nos diferentes meios de transporte, como ferrovias, portos e importantes vias do estado e do país, como as BRs 101, 040, 116, Via Light, entre outras, para citar os exemplos rodoviários.

Além de essencial a longo prazo, a execução das análises identificadas nos documentos é uma das saídas para aquecer a economia e contribuir para retirar o Rio da crise, contribuindo para a economia nacional. O objetivo é que, com a realização das propostas contidas na análise, o Rio tenha mais competitividade e possa ampliar o mercado. Mas a velocidade para tirar os projetos do papel pode atrasar a saída da atual recessão econômica.

“Existem em nosso estado alguns gargalos que precisam ser resolvidos, com a maior brevidade possível, apesar da conhecida deficiência de recursos financeiros e entraves burocráticos e ambientais. Posso destacar alguns, como descida da Serra das Araras, na Rodovia Presidente Dutra, as obras paralisadas na Rio-Petrópolis, a demora na duplicação na Rio-Campos, a obra incompleta do Arco Metropolitano e o acesso aos portos do Rio de Janeiro e do Açu, entre outros”, explica Rebuzzi.

Segundo ele, independentemente da crise, a burocracia brasileira não contribui. “Temos atuado muito junto às autoridades e concessionárias no sentido de agilizarmos os processos e providências, e adianto que nem sempre os recursos financeiros são a maior dificuldade, mas, sim, a demora nas decisões e ações. Por isso, é importante e fundamental que a sociedade, através de suas instituições, cobre e pressione por ações das autoridades que venham a evitar acidentes e vítimas nas rodovias e travas ao desenvolvimento econômico”.

E enquanto as soluções não saem do papel, a realidade da logística no estado continua prejudicando consumidor e empreendedores, como o caso do empresário Cesar Kranzfeld, que trabalha com transporte de embalagens.

Para Cesar, as atuais condições do transporte de cargas dificultam o escoamento da produção e aumentam os custos. “Infelizmente essa é a nossa realidade. Poderia ser diferente, se as autoridades competentes fizessem o que realmente deveria ser feito. Como é hoje, sem o transporte adequado, todo o processo fica comprometido. Se o custo com combustível e manutenção fosse menor, o reflexo seria sentido no bolso do consumidor, que pagaria menos pelos produtos”. Cesar diz que um dos piores pontos enfrentados por ele é a Serra das Araras. “Além de travar, é altamente perigosa”.

A percepção de Cesar é o que também identificou o PELC, que revelou que a Serra das Araras é um dos que mais travam o eixo Rio-São Paulo. Com apenas 8 quilômetros dos 402 da Dutra, o trecho é como uma artéria entupida na rodovia que transporta cerca de 50% do PIB. O Plano Estratégico aponta que a solução é a transformação da pista de subida em pista de descida, com duas faixas com velocidade de 60km/h e dois acostamentos.

Eduardo Rebuzzi destaca a importância da solução. “A Serra das Araras acaba sendo um marco negativo na operação desta que é uma das principais rodovias do país, ligando as duas maiores metrópoles brasileiras. Existe um grande atraso na construção da nova descida e é fundamental que essa situação seja resolvida imediatamente. Qualquer obstáculo que persista precisa ser vencido pois trata-se de uma grande obra que demandará investimentos e tempo de construção, lembrando ainda que, além do gargalo logístico, nesse trecho é onde acontece o maior número de acidentes, matando e ferindo pessoas”.

Segundo a concessionária que administra a via, há um projeto pronto para ser executado que levaria cerca de 44 meses para ficar pronto. No entanto, a concessionária aguarda aprovação da agência reguladora para assinatura de um aditivo de extensão de prazo contratual, com tempo suficiente para pagar os investimentos a serem liberados pela ANTT. O PELC prevê, além das melhorias na Serra das Araras, a ampliação da Via Light entre Queimados e Avenida Brasil, uma via cortando a Baixada ligando Duque de Caxias à Avenida Brasil, melhores condições na chegada aos portos e aeroportos, e acesso por diferentes modais ao Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil está em 75º lugar em competitividade mundial. Ocupa, ainda, a 65ª posição entre 160 países no ranking de desempenho logístico de acordo com o Logistics Performance Index e o 145º lugar entre 189 economias no quesito que mede a facilidade para a realização de comércio no ranking Doing Business. Em contrapartida, para citar o exemplo da indústria de automóveis, o país é o sétimo maior produtor mundial de veículos. Grande parte das montadoras se estabeleceram em cidades como Resende, Porto Real e Itatiaia, região hoje conhecida como polo automotivo, com capacidade de produção de 300 mil automóveis e 100 mil caminhões e ônibus por ano.

O Plano Estratégico

Criado por processo participativo, o estudo, realizado com financiamento do Banco Mundial através de pedido realizado pelo Governo do Estado, foi dividido em 12 diferentes eixos, chamados de Âncoras Logísticas. Segundo o documento, as ações prioritárias englobam, além do sistema rodoviário, portos, aeroportos, ferroviais e heliportos.

No estudo, foram analisados os aspectos fundamentais da logística para o estado, prevendo melhorias para os setores de óleo e gás, indústria naval, automobilística, além das ligações por diferentes meios de transporte entre os estados que fazem fronteira com o Rio e melhoria do tráfego de veículos da Região Metropolitana. Esses apontamentos, se executados, deverão contribuir para maior competitividade do Rio no cenário nacional e internacional, na geração de empregos e queda no valor dos produtos. Segundo o estudo, o transporte é o que mais acarreta custo no processo logístico. Por isso, a criação de um plano que busca desenvolvimento planejado e sustentável.

“O PELC vem a preencher importante lacuna no planejamento logístico setorial, uma vez que permite o ordenamento das intervenções segundo critérios de eficiência social, econômica e ambiental. É um plano de Estado, que tem como objetivo ampliar significativamente o peso econômico do Rio de Janeiro no cenário nacional. Para isso, conta com amplo apoio da sociedade, e indica caminhos para uma decisiva participação da iniciativa privada na sua viabilização”, explica Delmo Pinho, subsecretário da Secretaria Estadual de Transporte e supervisor geral do Plano Estratégico.

Segundo o documento, a implantação dos projetos de infraestrutura que constam no PELC jamais poderá ser custeada sem o suporte de recursos da iniciativa privada. O estudo prevê, ainda, a possível implementação de diversas vias à iniciativa privada, através de concessão ou, em alguns casos, parcerias público-privadas (PPP).

Leonardo Perrone, dono de restaurante no Centro do Rio, acredita que a execução de medidas previstas no plano podem contribuir para a economia. “O que queremos é qualidade no serviço. Nenhum empresário quer deixar de atender o cliente por conta das condições do transporte. Seja em qualquer ramo. Mas a realidade hoje é essa. Como sabemos que não dá para contar com o governo por conta da recessão, é preciso criar mecanismo para realizar as obras. A iniciativa privada é uma saída”, acredita.

Fonte: O Dia

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