Projeto do Porto Sul destaca o intermodalismo como opção do futuro

12/12/2008

Um porto que une no mesmo espaço todos os tipos de modais. Esse é o projeto ambicioso do Porto Sul, na região de Ilhéus, litoral sul da Bahia. Os planos contam com o apoio do Governo Federal e podem virar realidade a partir de 2011.

O empreendimento deve receber investimentos de cerca de R$ 6 bilhões, e contará com cais, interligação com rodovia e hidrovia, além da construção de uma nova ferrovia e um aeroporto. O objetivo é integrar todos os modais e toda a região, para facilitar e baratear a importação e exportação e solucionar as deficiências e o atual gargalo existente nas instalações portuárias de Salvador e Aratu.

Com o superporto, a expectativa é de que a Bahia consiga se reintegrar aos grandes eixos de produção no Brasil e crie mais um corredor de entrada e saída de produtos. Para o superintendente de comércio e serviços da Secretaria de Industria, Comércio e Mineração, Antônio Celso Pereira, o Porto Sul é o ponto de partida para o futuro. “O nosso objetivo principal é o intermodalismo. Nós queremos criar um complexo que melhore e tone mais fácil o acesso, um novo portal”, disse Pereira.

Um dos pontos do projeto prevê a privatização da BR 116, atualmente o caminho mais utilizado para chegar aos três portos do estado, Salvador, Aratu e Ilhéus. De acordo com Pereira, além de investir na rodovia, a intenção é fazer com que as cargas utilizem muito mais os meios ferroviários. “Será construída uma nova ferrovia, que vai cruzar todo o estado, do serrado ao litoral, e se interligar à outras. Queremos fazer aqui o que foi feito nos Estados Unidos no século XIX”, afirma ele. A nova linha de trem deverá ligar o litoral da Bahia aos estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e o Distrito Federal.

O Porto Sul deve ter, ainda, um aeroporto com pista de 3 km, maior que a do atual aeroporto da região, na cidade de Ilhéus, que é de cerca de 1,5 km. Para Pereira, isso trará também melhora no turismo: “A movimentação de turistas, até mesmo do turismo de negócios, deve aumentar. É um empreendimento positivo não só para o porto, mas para a cidade e os moradores, que também terão mais postos de trabalho”. A previsão da secretaria é de que o superporto gerará entre 8 e 10 mil novos empregos na fase de implantação.

Uma das novidades desse projeto é a nova condição para participação da iniciativa privada. A licitação do Porto Sul terá como base as novas regras delimitadas pelo Decreto 6.620, assinado em 29 de outubro, permitindo que empresas participem dos processos licitatórios mesmo que a empresa vencedora não possua, necessariamente, carga própria para movimentar. “Seremos uma espécie de projeto-piloto da nova lei, que conjuga porto público e privado. Parte dos investimentos virá do Programa de Aceleração do Crescimento” disse Pereira.

Em sua passagem por Santos, o ministro Pedro Brito, da Secretaria Especial de Portos, fez questão de elogiar o Porto Sul e frisar que ele foi escolhido por questões técnicas como um dos projetos pioneiros a ser licitado nos moldes do Decreto 6.620. “A Bahia tem hoje três portos, sendo que Ilhéus é de porte pequeno, atendendo a uma dinâmica mais regional. A idéia do governo do estado é construir um porto perto deste para atender a demanda que será criada com a ferrovia Leste-Oeste e que escoará grãos e, principalmente, minério de ferro do oeste baiano. Esse é o projeto que será publicado já de acordo com a nova concepção da lei, de concessão via licitação pública. O governo da Bahia tornou um terreno de utilidade pública e é lá que faremos as primeiras concessões nos novos moldes”.

Quando pronto, o porto ocupará de 1.771 hectares, na localidade de Ponta da Tulha, no sentido Ilhéus-Itacaré. Ele poderá movimentar mais de R$ 4 bilhões por ano em mercadorias e agilizar a exportação de minério de ferro, de grãos e de cargas conteinerizadas. No início, o Porto Sul ficará dependente da exploração e escoamento do minério de ferro na região de Caetité, mas deverá escoar também álcool e açúcar produzidos pelas fábricas da Bahia. O complexo de exploração de minério de ferro exigirá investimentos de até US$ 1,6 bilhão, a ser explorado pela empresa Bahia Mineração. Dessa forma, a região explorada se tornará a terceira maior produtora de minério de ferro do País, atrás de Carajás, no Pará, e do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. A licitação para as obras da ferrovia e do Porto Sul devem ter os editais publicados a partir de janeiro do próximo ano.

Outro lado: ambientalistas se preocupam com exploração de área de preservação

O projeto do Porto Sul não conquistou apenas fãs. Ambientalistas da região de Ilhéus se mostram bastante preocupados com a implantação do porto, uma vez que, segundo eles, a área em questão é uma das ultimas reservas de mata atlântica, e o impacto poderia ser desastroso.

Um dos especialistas que se posiciona contra a construção do superporto é o engenheiro agrônomo, mestre em meio ambiente e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Rui Barbosa da Rocha. Ele trabalha com meio ambiente desde 1990, quando atuou na Amazônia, e desde 1996 trabalha na região da mata atlântica do Sul da Bahia, além de orientar uma equipe de 20 pesquisadores do Instituto Floresta Viva, do qual ele é um dos fundadores.

Rocha afirma que o novo porto trará diversos problemas para a região. “O Porto Sul será voltado para escoar minérios, a exemplo de ferro, urânio, níquel, e o impacto ambiental pode ser generalizado na região, desde poluição atmosférica e desmatamentos na mata atlântica e ambientes costeiros a mudança na rota de baleias jubarte e comprometimento de corais”.

 

Fonte: Revista Santos Modal

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