O Porto do Açu e o Porto de Antuérpia-Bruges assinaram, nesta segunda-feira (3), uma carta de intenções para criar um corredor marítimo verde entre o Brasil e a Europa, com potencial para se tornar a primeira grande rota global de exportação de e-combustíveis. A expectativa é que a operação tenha início antes de 2030, marcando um avanço significativo na descarbonização do transporte marítimo internacional.
O acordo é resultado de um estudo de pré-viabilidade desenvolvido pelo Rocky Mountain Institute (RMI) e pelo Global Maritime Forum (GMF), apresentado durante o evento Oceans of Opportunity Summit, realizado no Rio de Janeiro. O encontro reuniu lideranças dos setores portuário, marítimo, energético, financeiro e governamental para discutir o futuro da transição energética e o papel do Brasil na agenda de descarbonização marítima.

Segundo Rogério Zampronha, CEO da Prumo, controladora do Porto do Açu, “trabalhamos para que o Porto do Açu seja um hub global de exportação de combustíveis marítimos de emissão zero, estrategicamente posicionado para conectar a produção brasileira à crescente demanda europeia por soluções de baixo carbono. A criação do corredor reforça nossa estratégia de ser o porto da transição energética no Brasil”.
O Porto de Antuérpia-Bruges, considerado um dos maiores hubs industriais da Europa, planeja importar de 6 a 10 milhões de toneladas de amônia verde por ano até 2030 — o que equivale a 1,2 a 1,5 milhão de toneladas de hidrogênio verde. Essa demanda poderá ser suprida pela produção brasileira, em especial a proveniente do hub de hidrogênio e derivados do Porto do Açu.
De acordo com Eugenio Figueiredo, CEO do Porto do Açu, “a parceria com o Porto de Antuérpia-Bruges mostra o poder da cooperação internacional e como podemos contribuir para uma economia marítima sustentável e circular. O Açu é um ecossistema que entrega resultados reais, com disponibilidade de energia e um modelo de porto privado que garante agilidade, eficiência e os mais altos padrões ESG”.
O estudo de pré-viabilidade destaca que o corredor Açu-Antuérpia apresenta vantagens comerciais e regulatórias. A operação dos navios pode alcançar paridade de custos com os combustíveis convencionais, beneficiando-se de novos incentivos da Organização Marítima Internacional (IMO). Além disso, a infraestrutura necessária já foi mapeada, abrangendo terminais, protocolos de segurança e requisitos regulatórios, o que reforça a viabilidade comercial do projeto.
Para Kristof Waterschoot, CEO do Porto de Antuérpia-Bruges Internacional, “a parceria com o Porto do Açu é um marco na construção de um corredor transatlântico de energia verde. Juntos, estamos preparando os primeiros fluxos de importação de amônia verde do Açu para Antuérpia-Bruges, impulsionando uma economia marítima verdadeiramente sustentável e circular”.
O estudo ainda aponta que o Brasil possui condições competitivas para se tornar um dos principais produtores globais de e-combustíveis, favorecido por uma matriz elétrica predominantemente renovável, políticas públicas favoráveis e baixo custo de capital. A implementação do IMO Net Zero Framework, prevista para iniciar em breve, somada às políticas europeias FuelEU Maritime e Emissions Trading System (ETS), deve criar incentivos adicionais para combustíveis de emissão zero. Atualmente, o setor marítimo responde por cerca de 80% do comércio mundial em volume e por aproximadamente 3% das emissões globais.
“O Brasil tem os recursos para liderar o mundo em combustíveis marítimos sustentáveis e competitivos”, destaca Jon Creyts, CEO da RMI. Já Johannah Christensen, CEO do Global Maritime Forum, reforça que “o corredor verde entre o Porto do Açu e Antuérpia-Bruges é mais do que uma rota comercial; é um símbolo do que podemos alcançar por meio de uma ação climática coordenada e de uma liderança estratégica”.
O hub de hidrogênio do Porto do Açu vem se consolidando como um dos principais polos de produção de hidrogênio de baixo carbono no Brasil. Em apenas um ano, a primeira área licenciada — com 1 milhão de metros quadrados — foi totalmente destinada a projetos voltados à exportação de amônia verde e e-metanol para o mercado internacional. O licenciamento ambiental de mais 4,5 milhões de metros quadrados está em andamento, acompanhando o aumento do interesse de investidores.
Até o momento, cinco desenvolvedores internacionais já garantiram seis reservas de terrenos dentro do hub de hidrogênio e derivados do Açu, reforçando o papel estratégico do porto como ponto de conexão entre a produção brasileira e os mercados globais de energia limpa. O próximo passo será a realização de um estudo de viabilidade completo, que detalhará custos, contratos de offtake, disponibilidade de navios e motores compatíveis, além da estrutura financeira do projeto, combinando incentivos da IMO, programas nacionais e políticas europeias.









