Mas como enfrentar desafios como infraestrutura precária, imprevistos e restrições logísticas? São vários os recursos disponíveis para atender às crescentes demandas do mercado, que busca rapidez sem comprometer a qualidade do serviço.
Grandes distribuidores, que obviamente têm como base grandes Centros de Distribuição, possuem como premissa básica a pontualidade. Esse é um dos pilares fundamentais para o bom funcionamento de uma operação logística em larga escala. “Outros pilares, não menos importantes, mas que desempenham uma função primordial para o fechamento desse ciclo – que chamo de ‘ciclo do bem’ –, garantem que, se todas essas variáveis funcionarem bem, o risco de ‘algo dar errado’ será muito pequeno, com grandes possibilidades de correção a um custo ‘baixo ou zero’. Esses pilares são: rastreabilidade, transparência nas informações em tempo real e responsabilidade com a integridade da carga – incluindo embalagens de embarque e secundárias, entre outros.”
Com esta análise, Marcos Landiosi, gerente de Operações/Responsável por Operações Logísticas e Projetos voltados às operações de armazéns da IBL, abre esta matéria especial sobre entregas para grandes distribuidores. Aqui, ele relaciona as principais exigências dos grandes distribuidores em relação às entregas.
A estas, Jefferson Henrique de Campos, coordenador de Logística da Cap Logística, acrescenta agendamentos, pedidos sem cortes de produtos, veículos em bom estado e higienizados. “As principais exigências giram em torno da pontualidade, pois cumprir os prazos de entrega acordados é crucial para suas operações. Também demandam rastreabilidade em tempo real para monitorar o status das remessas, a integridade da carga para garantir que os produtos cheguem em condições ideais e flexibilidade para se adaptar às mudanças na demanda ou nas rotas”, especifica Alvaro Loyola, Country Manager da Drivin Brasil.
Em sua grande maioria, como se pode notar, as exigências são pontualidade de coleta e entrega, pois questões como integridade da carga já são “comoditizadas”, ou seja, não existe tolerância para avarias ou algo do gênero. “O que vejo é a necessidade de um sistema único: a maioria dos embarcadores ainda trabalha com vários sistemas – um para coleta, agendamento e outro para cadastro, etc. Ainda existem oportunidades diversas. No mercado, existem várias soluções e cada embarcador está buscando melhorar as suas escolhas”, diz, agora, Eduardo Ghelere, CEO da Ghelere Transportes.
Desafios
Expondo sua visão como embarcador, Leandro Cosmo de Souza, coordenador de Logistica na Indústria e Comércio de Produtos de Beleza Yama, tem uma ampla lista não com as principais exigências dos grandes distribuidores em relação às entregas, mas com os desafios enfrentados pelas empresas de transporte para atender a estes distribuidores, e que também implicam no atendimento às exigências citadas.
São eles: infraestrutura e congestionamento urbano – estradas precárias e restrições ao tráfego impactam a pontualidade; gestão de rotas – exigência de tecnologias avançadas para otimizar custos, prazos e reduzir emissões; rastreabilidade – necessidade de integração tecnológica para monitoramento em tempo real; integridade da carga – produtos sensíveis demandam condições específicas de transporte; logística reversa – devoluções eficientes são complexas e aumentam custos; regulamentações e sustentabilidade – exigem conformidade com padrões rigorosos e práticas sustentáveis; falta de mão de obra – profissionais capacitados são escassos, comprometendo operações; demandas sazonais – picos de volume testam a capacidade operacional.
Mas, há outros desafios, apontados por Campos, da Cap Logística: gestão de estoque, controle de qualidade atento e atuante no embarque dos produtos, motoristas treinados para efetuar as entregas seguindo o padrão solicitado pelo cliente. Também há a necessidade de responder rapidamente a imprevistos, como trânsito ou condições climáticas adversas, como coloca Loyola, da Drivin Brasil. Especificamente no caso do e-commerce, ele ressalta que rapidez e flexibilidade são fundamentais, com prazos de entrega que, muitas vezes, são inferiores a 24 horas. Já a indústria farmacêutica enfrenta desafios rigorosos na cadeia de frio e no cumprimento de regulamentações para garantir a qualidade de produtos sensíveis, incluindo o monitoramento adequado dessas informações e o envio de alertas em caso de não conformidades, destaca o Country Manager da Drivin Brasil.
“O maior desafio ainda é a infraestrutura e temos muito a avançar. Qualquer chuva mais intensa trava as BRs do Sul, atrasa operações de portos, ocorrem muitos acidentes e existem gargalos conhecidos há anos sem solução, como trevos em pista. Ainda temos problemas com mão de obra com baixa qualificação. Temos muita gente avançando, mas ainda há muito o que fazer”, desabafa Eduardo, da Ghelere Transportes.
Na verdade, cada indústria tem o seu desafio, pois cada embarcador tenta deixar o sistema personalíssimo e acaba pecando nas integrações entre os variados sistemas, prossegue o CEO da Ghelere Transportes. “No e-commerce, o desafio é a velocidade. Neste sistema é necessário ser rápido acima de tudo. No nosso segmento de bebidas, além da ociosidade do próprio mercado, o desafio é o volume que fica concentrado em períodos. No verão não há veículo que supra a demanda e, no inverno, os carros ficam parados, naturalmente pela falta de venda. Existem ainda os gargalos, como falta de espaço na planta ou no CD na quinta-feira, e no sábado falta de produto. Tudo é muito just in time”, diz Eduardo.
“À medida que evoluímos cada vez mais no que tange à inteligência artificial, a infraestrutura da maioria dos grandes clientes não tem acompanhado esse avanço no mesmo ritmo. Nos deparamos com filas, apesar de a grande maioria praticar o que se chama de ‘janela de descarga’ (agendamento), e com morosidade devido à vinculação do recebimento à retirada de volumes na modalidade ‘reversa’. São vários os motivos para essa lentidão, como, por exemplo, produtos próximos ao vencimento ou vencidos, avarias totais ou parciais, entre outros.”
A gestão de rotas, por outro lado, ainda segundo Landiosi, da IBL, não chega a ser o grande vilão, pois atualmente há softwares que têm flexibilizado ao máximo esse trabalho. Esses sistemas permitem o alinhamento ao melhor trajeto, a redução de custos, a otimização da carga, entre outras melhorias.
Já a infraestrutura das rodovias, os acessos a grandes centros e as inúmeras restrições, sem oferecer a mesma gama de recursos, têm dificultado e encarecido o transporte de cargas no Brasil como um todo — e ainda mais em regiões como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, entre outras. “Um dos principais desafios é superar a lenta evolução da infraestrutura logística, especialmente da malha viária. E aqui não me refiro apenas às rodovias; a precariedade de outros modais também contribui para o problema. Essa situação eleva os custos, sem que os transportadores consigam repassá-los, criando gargalos na oferta de serviços de qualidade”, completa Landiosi.
Atrasos nas entregas
Os atrasos nas entregas impactam muito os negócios dos grandes distribuidores e dos seus clientes finais, principalmente pela falta de produto disponível para a venda. O cliente da ponta (supermercadista) já sabe que o espaço dele é muito valioso, ele precisa receber em menores quantidades com maior frequência. Por sua vez, a indústria quer expedir menos pedidos. Temos um desafio logístico claro já neste cenário. Cada negócio tem um impacto diferente, mas o cerne deles é a ruptura de venda: o cliente quer comprar o produto, mas ele não está disponível. “Este é o pior cenário, pois ele vai ficar frustrado. Consequentemente, irá comprar um substituto ou simplesmente não comprar. Neste caso, a venda não é feita, e é difícil mensurar, pois fica na ponta. Esse é o pior caso”, diz Eduardo, da Ghelere Transportes.
Também na visão de Souza, da Yama, os atrasos nas entregas causam impactos profundos tanto para os grandes distribuidores quanto para os Operadores Logísticos, influenciando vários aspectos dos negócios e da cadeia de suprimentos. Esses efeitos vão além das perdas financeiras imediatas, comprometendo a percepção de qualidade, a confiança dos clientes e a eficiência operacional. Entre os principais impactos, destacam-se: perdas financeiras, insatisfação dos clientes, danos à reputação, multas contratuais, redução da confiança e perda de contratos, danos à imagem de eficiência e sobrecarga operacional.
Campos, da Cap Logística, também dá destaque para as perdas financeiras – principalmente em casos onde há ofertas em encarte e o produto atrasa ou pequenos comércios que não possuem área de estoque e precisam do produto para atender ao cardápio –, além de insatisfação e consequente desgaste na relação fornecedor-cliente e danos à reputação.
Na verdade, como afirma Landiosi, da IBL, toda a cadeia logística é afetada direta ou indiretamente pelos atrasos nas entregas. “Com o avanço da IA, cada vez mais precisamos trabalhar para oferecer excelência nos serviços, com prazos menores e custos que, no mínimo, acompanhem o mercado – fator que, a curto prazo, não será suficiente. Ou seja, ou você oferece o menor custo, ou estará fora do mercado.”
O foco dos Operadores Logísticos e transportadores está voltado para a redução de custos. Porém, prossegue o gerente, em hipótese alguma isso deve acarretar efeitos colaterais, como a insatisfação do cliente pelo não cumprimento dos SLA’s combinados, o que pode resultar em perdas financeiras para ambas as partes e, pior ainda, em danos à reputação de todos os envolvidos.
Agendamentos não respeitados
Os grandes distribuidores enfrentam desafios logísticos que podem levar ao não cumprimento dos agendamentos de entrega. As principais causas desse problema são bastante conhecidas por quem atua no setor de transporte e logística. “Estamos falando aqui de trânsito e condições das estradas, atrasos na origem, imprevistos operacionais, excesso de demandas e capacidade limitada, restrições nos locais de entrega, problemas com documentação e conferência, falta de integração entre sistemas, etc.”
Ainda segundo Nilson Santos, diretor do Grupo TGA e head na Expresso TGA (Transporte Internacional), para minimizar esses problemas, “acredito que os distribuidores podem investir em tecnologias de rastreamento, inteligência artificial para otimização de rotas, comunicação mais eficiente com transportadoras e maior flexibilidade nos processos de recebimento”.
O que se pode notar é que os agendamentos não respeitados nas entregas para grandes distribuidores são frequentemente resultado de uma combinação de fatores logísticos e operacionais que afetam diretamente a eficiência, a pontualidade e a qualidade das operações, também explica Souza, da Yama. Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas transportadoras e Operadores Logísticos, ele destaca: imprevistos no trânsito, infraestrutura deficiente, falhas na comunicação entre as equipes de transporte e os distribuidores, problemas operacionais internos, planejamento ineficiente de rotas, exigências operacionais rígidas dos distribuidores, alta variabilidade de demanda e condições climáticas adversas.
Também podem ser citados, na visão da Loyola, da Drivin Brasil, falhas operacionais, como falta de veículos disponíveis, e erros no planejamento de rotas ou na previsão de demanda. “Além dos mais conhecidos, como imprevistos no trânsito e falhas na comunicação, existem as situações onde a própria distribuidora prioriza o carregamento e descarga de seus veículos, ocupando a doca e não atendendo à agenda criada”, argumenta Campos, da Cap Logística.
Na sua grande maioria, devido a percalços e/ou imprevistos durante o trajeto, os Operadores Logísticos atualmente dispõem de inúmeras ferramentas para gerenciar a “carteira de agendamentos”, acrescenta Landiosi, da IBL. Portanto, o impeditivo não é a “desinformação ou falha de comunicação”, mas sim, mais uma vez, a infraestrutura das rodovias, marginais saturadas, obras inacabadas ou em andamento, além de vias públicas que não foram projetadas para o volume de veículos que transitam com “carga fracionada”, pequenos volumes e “entrega porta a porta”.
Tecnologias
Quando o assunto envolve as tecnologias que podem ser utilizadas para melhorar a eficiência e a precisão dos agendamentos de entrega, Landiosi, da IBL, lembra que dispomos de inúmeras plataformas e sistemas de gestão de transporte que possuem qualidade suficiente não apenas para garantir a precisão e eficiência das entregas, mas também para aprimorá-las. Contudo, essas ferramentas, por si só, não são suficientes para atender ao “conjunto da obra”. Ou seja, grandes plataformas de gestão podem funcionar perfeitamente, mas, se a infraestrutura física não acompanhar, as rupturas serão cada vez mais frequentes, gerando custos, insatisfação, perda de imagem, entre outros problemas.
É primordial, na visão do gerente de Operações, que um Operador Logístico, cuja operação de transporte seja um dos pilares, seja suportado por um bom TMS, especialmente para a gestão eficiente do transporte de cargas.
“Toda tecnologia é bem-vinda. Hoje temos as posições de GPS atualizadas, que podem ser usadas com tratamento de imagem e comprovantes de entrega. Tudo isso já existe, mas geralmente de maneira separada ou com pouca integração. Existe uma grande oportunidade de melhorar as integrações entre o veículo, a transportadora e o embarcador”, acrescenta Eduardo, da Ghelere Transportes.
Loyola, da Drivin Brasil, ressalta que sistemas de gestão de transporte (TMS), Internet das Coisas (IoT) para monitoramento em tempo real e inteligência artificial para análise preditiva e otimização de rotas são ferramentas-chave para aumentar a eficiência. “Essas tecnologias não apenas otimizam os processos logísticos, mas também proporcionam maior visibilidade e controle ao longo de toda a cadeia de suprimentos”, diz Souza, da Yama, acrescentando: Machine Learning, plataformas de roteirização e otimização de rotas, Big Data e análise preditiva, Blockchain para rastreabilidade e transparência e aplicativos móveis para monitoramento e comunicação em tempo real. “A implementação dessas tecnologias avançadas permite que os Operadores Logísticos aprimorem a precisão dos agendamentos de entrega, aumentem a eficiência operacional, minimizem erros e imprevistos e melhorem a experiência do cliente. A integração dessas soluções resulta em uma cadeia logística mais ágil, transparente e adaptável, capaz de atender às exigências de um mercado dinâmico e altamente competitivo”, completa.
Otimização de rotas
O setor de transportes desempenha um papel essencial na economia, sendo responsável por garantir que produtos cheguem ao destino com eficiência e dentro dos prazos estabelecidos. No entanto, essa atividade enfrenta desafios constantes, como os já mencionados anteriormente, incluindo exigências rigorosas dos grandes distribuidores, dificuldades no cumprimento de agendamentos e a necessidade de adaptação às mudanças econômicas.
Na ótica de Santos, do Grupo TGA, as transportadoras podem investir em várias melhorias para aumentar a agilidade das entregas, garantindo maior eficiência e competitividade no mercado. Algumas estratégias incluem o uso de tecnologia e automação, capacitação e treinamento da equipe, frota moderna e bem-mantida, parcerias estratégicas, flexibilidade e planejamento logístico inteligente, incluindo a otimização de rotas.
Esta iniciativa melhora a eficiência da logística, contribuindo para a redução de imprevistos. Entre as ferramentas de otimização, que hoje podemos lançar mão, estão:
– Softwares para planejamento de roteirização, onde é possível identificar rotas mais rápidas, com menos trânsito, além daquelas com melhores condições de estradas.
– Integração com sistema de gestão, uma vez que a comunicação eficiente entre as etapas da logística é de suma importância para corrigir imprevistos. Além disso, é importante para um melhor planejamento de coletas e entregas.
– Monitoramento em tempo real e comunicação com os motoristas, ou seja, aplicativos ou softwares que forneçam dados de localização em tempo real da mercadoria com o cliente, deixando-o mais seguro, reduzindo a sua insatisfação.
Também falando especificamente sobre como a otimização de rotas pode contribuir para a redução dos atrasos nas entregas, Souza, da Yama, diz que a adoção de tecnologias avançadas, como as já citadas, tem o potencial de transformar profundamente a gestão de rotas, gerando significativos ganhos de eficiência e redução de custos operacionais. Entre os principais benefícios da otimização de rotas, destacam-se a redução de tempo e custos operacionais, o planejamento dinâmico e ajustes em tempo real, a análise de dados para previsão de tráfego e demanda, o uso de algoritmos de roteirização inteligente, o aumento da visibilidade e rastreabilidade e a redução do impacto ambiental. Com essas melhorias, as empresas de transporte não apenas elevam sua eficiência operacional, mas também entregam um serviço de qualidade superior aos seus clientes, consolidando sua posição no mercado competitivo e atendendo às crescentes demandas de agilidade e sustentabilidade.
De fato, como também afirma Campos, da Cap Logística, o uso de softwares de roteirização, assim como a análise de dados, ajudam. Porém, destaca, como estamos frente a um processo onde o ser humano está integrado, o treinamento dos motoristas e a expertise do roteirizador são chaves para o sucesso do atendimento pontual aos agendamentos. O fato é que, como também diz Loyola, da Drivin Brasil, a otimização de rotas, apoiada por softwares avançados e análise de dados, permite calcular as mais rápidas e eficientes, considerando variáveis como trânsito, restrições de tempo e capacidade dos veículos. Isso reduz significativamente os tempos de entrega e a probabilidade de atrasos. “Otimizar as rotas é essencial para a redução de custos. Considerando que o maior custo é o combustível, é mandatório utilizar as melhores rotas. Além disso, no transporte de carga lotação, estamos passando por um período de adaptação para a nova resolução da ANTT, em que é obrigatório o pagamento via TAG, e isso está impactando nas rotas que já estavam planejadas”, diz Eduardo, da Ghelere Transportes, acrescentando mais informações.
As plataformas de roteirização atualmente desempenham um papel primordial no dia a dia de Operadores Logísticos, embarcadores e transportadoras. Elas têm como objetivo garantir a melhor rota para a distribuição, otimizando o número máximo de entregas, considerando a “ocupação por perfil de veículo”. Isso assegura um frete rentável para o Operador Logístico ou transportador, sem aumentar os custos para quem contrata o serviço e, consequentemente, para o cliente final. “Essa ampla gama de informações, como a análise de dados e variáveis, permite maior eficiência e equilíbrio nos custos, atendendo de forma otimizada toda a cadeia de suprimentos”, completa Landiosi, da IBL.
Qualidade das entregas
A colaboração entre grandes distribuidores e empresas de transporte é crucial para melhorar a qualidade das entregas, embora ainda esteja engatinhando em muitas situações. Historicamente, essas parcerias eram mais transacionais e com pouca troca de informações. No entanto, as crescentes demandas por eficiência, pontualidade e rastreabilidade tornaram necessário um trabalho mais integrado.
“A troca de informações, o desenvolvimento de indicadores de desempenho e o planejamento conjunto são fundamentais para fortalecer essa colaboração. Com uma parceria mais estreita, a logística se torna mais eficiente, resultando em entregas pontuais e de alta qualidade, o que melhora a satisfação do cliente e o sucesso dos negócios”, diz Souza, da Yama.
Porém, como atesta Eduardo, da Ghelere Transportes, ainda existe uma lacuna a ser preenchida: o transportador possui muitos dados e, às vezes, a informação não chega para o cliente. Todo o sistema é pensado de maneira a focar nas necessidades do cliente, sem passar pelo transporte, que, por sua vez, tem muito a oferecer. “Temos exemplos claros: com a recente atualização da legislação, é permitido carretas maiores. E alguns embarcadores/distribuidores não conseguem ajustar seus pedidos para preencher a capacidade máxima do caminhão. Também não possuem informação do tempo aguardado em cada etapa do processo ou da indisponibilidade. Tudo pode ser melhorado se houver contribuição entre as partes, pegando os dados já existentes e melhorando as informações.”
A colaboração entre grandes distribuidores e transportadoras também é essencial para Loyola, da Drivin Brasil. Compartilhar informações em tempo real, estabelecer indicadores-chave de desempenho (KPIs) e trabalhar juntos para resolver desafios operacionais garantem um melhor alinhamento e, consequentemente, um serviço superior para o cliente final.
“Acredito que além da troca de informações, há também a participação do cliente atuando naqueles casos onde as demoras acarretam um efeito dominó nas demais entregas daquele veículo no dia. Através de operações constantes, transportadora e distribuidora podem utilizar estatísticas confiáveis para desenvolvimento de indicadores de desempenho, a fim de propor melhorias”, também afirma Campos, da Cap Logística.
Com a evolução das tecnologias de informação, passamos a trocar mais informações e a enfrentar desafios logísticos. Quando uma rota que apresenta dificuldade para uma cadeia de prestadores de serviços é corrigida, todos lucram. É claro que é necessário tomar sempre o cuidado devido em relação às regras de “compliance”, compartilhando, discutindo, analisando e propondo soluções em conjunto que não prejudiquem o bem comum de cada uma das partes, aconselha Landiosi, da IBL.
Gestão de estoque
Outro pilar fundamental para uma cadeia logística bem estruturada, segura e que mantém a qualidade assegurada é a eficiência na gestão de estoques.
“Pense bem: você já passou por uma situação em que, ao adquirir um produto pela internet, concluiu a compra, efetuou o pagamento online e, horas depois, ou no dia seguinte, recebeu a informação de que ‘ocorreu uma falha sistêmica’ e o produto não está mais em estoque? Isso gera uma insatisfação total. Talvez você nunca mais compre naquela plataforma, tudo por conta de uma falha que pode e deve ser evitada. Atualmente, os grandes Operadores Logísticos estão cada vez mais comprometidos em otimizar os SLA’s (Acordos de Nível de Serviço) na gestão de estoques, pois sabem que qualquer falha, por menor que seja, pode ser ‘fatal’ na perda de um cliente.”
Além disso, continua Landiosi, da IBL, uma separação eficiente possibilita maximizar o uso do espaço de armazenamento dentro de um Centro de Distribuição, reduzindo custos com locação de áreas e otimizando a ocupação dos veículos de transporte. Um pedido que não é gerado na sua totalidade, por exemplo, acarreta morosidade nas tratativas administrativas e operacionais, comprometendo diretamente a agilidade nas entregas e a satisfação do cliente.
Atualmente, existem ferramentas que suportam essa gestão com agilidade e eficiência, como o WMS e RFID, e sistemas de etiquetas inteligentes que permitem a realização de inventários dinâmicos, rápidos, eficientes e com menor custo, completa o gerente de Operações da IBL.
A gestão de estoque influencia diretamente a capacidade de atender à demanda de forma rápida e precisa, também pondera Souza, da Yama. Um controle eficaz de estoques, combinado com previsões de demanda bem elaboradas, permite reduzir significativamente os tempos de resposta, evitar rupturas de estoque e otimizar toda a cadeia de suprimentos. Quando a gestão de estoque é bem alinhada com as operações logísticas, os produtos são entregues de forma pontual e sem erros, o que fortalece a agilidade da cadeia e minimiza riscos de interrupções. Com a implementação de tecnologias avançadas e processos integrados, as indústrias podem aprimorar suas operações logísticas, garantindo entregas mais rápidas, eficientes e com maior nível de satisfação para o cliente, alega o coordenador de Logística da Yama.
Também se referindo a como a gestão de estoque pode impactar diretamente a agilidade das entregas, Campos, da Cap Logística, explica que o principal foco é evitar o corte de produtos solicitados na nota fiscal da entrega. A falta gera atrasos para a localização do produto e o seu picking e separação. Esse efeito em cascata não só atrasa o embarque e a saída do motorista, como pode levar ao consequente atraso na entrega dos produtos. Outro aspecto interessante são os procedimentos na descarga dos produtos na doca das distribuidoras. A nota fiscal que apresenta corte tem um fluxo operacional mais demorado. “Uma gestão eficiente de estoques garante que os produtos estejam disponíveis no momento e local certos, evitando rupturas de estoque e reduzindo o tempo entre o pedido e a entrega. Isso inclui uma previsão precisa da demanda e a manutenção de níveis ótimos de inventário”, acrescenta Loyola, da Drivin Brasil.
Com as entregas trabalhando de maneira regular, é possível reduzir o estoque de segurança e, consequentemente, deixar de ter dinheiro na prateleira. Isso é bom para quem vende, para quem compra e para o transportador, pois este sabe que o seu veículo não ficará como o estoque sobre rodas. “Quanto mais afinada é a logística de uma empresa, menor tende a ser seu custo de transporte efetivo”, conclui Eduardo, da Ghelere Transportes.
Tendências
As tendências emergentes no setor de transporte, como veículos autônomos, drones e veículos elétricos, têm o potencial de revolucionar a forma como as entregas são realizadas para grandes distribuidores. No entanto, é fundamental compreender que essas inovações ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento e que sua implementação em larga escala levará tempo. Apesar de promissoras, essas tecnologias exigem significativos investimentos, adaptações regulatórias e soluções para desafios técnicos e operacionais. A adoção dessas soluções ocorrerá de forma gradual, acredita Souza, da Yama, e seus impactos reais nas operações de entrega dos grandes distribuidores serão sentidos apenas a médio ou longo prazo.
“Tendências como o uso de veículos autônomos, drones para entregas em áreas de difícil acesso e tecnologias verdes, como caminhões elétricos já utilizados por alguns clientes, estão transformando a logística de última milha, permitindo operações mais rápidas, sustentáveis e lucrativas”, diz Loyola, da Drivin Brasil.
O setor do transporte tem passado por transformações em tecnologias e inovação que impactam diretamente nas entregas para grandes distribuidores, também diz Santos, do Grupo TGA. Ele aponta algumas dessas transformações e inovações:
• Monitoramento contínuo para minimizar riscos de acidentes e otimizar rotas;
• Rastreamento inteligente em real time, bem como sensores em veículos que fornecem atualizações em tempo real sobre localização da mercadoria, possibilitando melhor previsão de entregas;
• Centro de Distribuição com robôs, que agilizam a separação do produto, trazendo melhor precisão de estoque e redução de erros.
A infraestrutura no recebimento, áreas de manobra, docas dedicadas e plataformas independentes são essenciais. “Nossa frota de veículos precisa urgentemente de renovação. É necessário mais incentivo para implementar sistemas de conferência dinâmicos, como scanners inteligentes, drones para conferência por leitura, mapeamento de carga, cubagem, leitura de etiquetas inteligentes, entre outros. É fundamental que Operadores Logísticos ofereçam serviços compartilhados em diversos modais, com ênfase em ‘armazenagem e transporte’. Além disso, é importante que esses grandes centros disponham de tecnologias avançadas, como as já mencionadas”, diz Landiosi, da IBL.
Já Eduardo, da Ghelere Transportes, diz que temos muito a avançar. “Como tendência, ainda acredito nos veículos elétricos para os grandes centros, melhoria da gestão de coleta e entrega com a entrega sem canhoto – ‘é lento, atrasa o processo, etc.’ –, personalização ainda das entregas – ajuste para recebimento noturno – e o crescimento do modelo colaborativo.”
Sustentabilidade
Concluindo esta matéria especial, não poderíamos deixar de focar como a sustentabilidade pode ser integrada às operações de entrega para grandes distribuidores.
Afinal, como diz Souza, da Yama, a sustentabilidade tem se consolidado como uma tendência crescente no setor de transporte e logística, oferecendo grandes oportunidades para ser integrada às operações de entrega de grandes distribuidores. Com a crescente relevância das questões ambientais em escala global, as empresas estão buscando ativamente soluções que minimizem seu impacto ambiental, ao mesmo tempo em que atendem às expectativas dos consumidores e cumprem as exigências regulatórias.
Em resumo, a incorporação de práticas sustentáveis nas operações de entrega é uma tendência promissora com grande potencial de transformação no mercado, acredita o coordenador de logística. O uso de modais de transporte mais ecológicos, a otimização de rotas, embalagens sustentáveis e a logística reversa são algumas das principais estratégias que as empresas podem adotar para reduzir seu impacto ambiental. Além de contribuir para um planeta mais saudável, essas práticas atendem às demandas dos consumidores conscientes e das regulamentações, proporcionando uma vantagem competitiva cada vez mais relevante no mercado.
“Além de modais mais sustentáveis, eu citaria que a priorização de descarga de produtos refrigerados. Estes veículos têm uma emissão maior de poluentes, pois precisam ficar ligados durante a espera para descarregar. A agilidade nessas descargas seria importante também para evitar a troca térmica, a fim de manter a temperatura do baú. O aquecimento deste ambiente demanda mais do compressor que utilizam gás para o resfriamento dos veículos. A sustentabilidade é uma cultura, deve acompanhar todo o fluxo operacional e não estar limitada ao uso de equipamentos com esse viés tecnológico”, sugere Campos, da Cap Logística.
Para Loyola, da Drivin Brasil, a sustentabilidade pode ser incorporada pelo uso de meios de transporte mais limpos, como veículos elétricos ou bicicletas; pela otimização de rotas para reduzir o consumo de combustível; pela utilização de embalagens ecológicas; e pela promoção de práticas como a logística colaborativa, para maximizar a capacidade dos veículos e reduzir as emissões.
“Entendo que há um passo anterior, ou seja, melhorar nossa performance na reciclagem e, paralelamente, continuar buscando embalagens sustentáveis de forma cada vez mais consciente. No entanto, ainda temos um ponto a ser desenvolvido: as embalagens retornáveis e sustentáveis. Aponto essa dificuldade devido aos desafios e ao alto custo da nossa logística reversa”, diz, agora, Landiosi, da IBL.
O que se pode concluir é que o ESG já é realidade e está presente em todos os embarcadores e transportadores relevantes. “Tendemos a reduzir (e muito) o plástico utilizado, bem como ter mais embalagens retornáveis nos produtos e até no transporte de peças e itens para a cadeia de produção. A busca pela melhor eficiência energética vai continuar, bem como aumentar a capacitação e conscientização de toda a cadeia. Podemos ter algumas soluções como diesel verde, mas nada disruptivo. O que deve acontecer é uma pegada mais firme nos relatórios de sustentabilidade e verificação do fornecimento responsável, das práticas éticas no mercado de trabalho”, finaliza Eduardo, da Ghelere Transportes.
Participantes desta matéria
CAP Logística Frigorificada – Especializada na armazenagem de produtos frigorificados, atendendo tanto o mercado interno quanto o externo. Atualmente também trabalha com carga seca.
Drivin – Scale-up que otimiza os processos logísticos de grandes players em variados segmentos, com destaque aos bens de consumo.
Ghelere Transportes – Atua no setor de transporte rodoviário de cargas, tendo larga experiência no segmento de bebidas em todo Brasil e Mercosul.
Grupo IBL – Operador logístico atuante em todos os modais com movimentação inbound e outbound no suporte de Centros de Distribuição estratégicos. Atualmente atende todos os segmentos, sendo os principais o farmacêutico, eletrônico, alimentício e, agora, o internacional.
Grupo TGA – Formado pelas unidades TGA Logística, TGA Transportes (transporte nacional) e Expresso TGA (transporte internacional), é uma importante consolidadora de carga terrestre e marítima no Brasil e Mercosul.
Yama – Marca que hoje é referência nacional em cosméticos. Atualmente são mais de 300 produtos.