Um estudo inédito da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra como os investimentos em rodovias têm gerado efeitos diretos sobre o PIB do transporte ao longo das últimas duas décadas. A análise revela que, embora diferentes em intensidade e velocidade, tanto os aportes privados quanto os públicos desempenham papel essencial e complementar para o desenvolvimento da infraestrutura rodoviária e da economia brasileira.
Segundo a nova edição da Série Especial de Economia – Investimentos em Transporte, um aumento de 1% nos investimentos privados resulta em crescimento imediato de 0,09% no PIB do setor, alcançando o pico de 0,17% em apenas nove meses. Já os investimentos públicos, no mesmo patamar, geram expansão inicial de 0,02%, com o pico de 0,15% somente após um ano e meio.

Comparativo entre investimentos públicos e privados em rodovias
Nos últimos cinco anos, a média do PIB do setor de transporte, armazenagem e correio foi de R$ 312,02 bilhões. A média anual dos investimentos públicos federais em infraestrutura rodoviária foi de R$ 10,16 bilhões. Na prática, um aumento de 1% nesses aportes (R$ 101,60 milhões) teria impacto gradual: R$ 62,42 milhões no curto prazo e R$ 471,56 milhões após um ano e meio.
Já os investimentos privados em rodovias, entre 2020 e 2024, registraram média de R$ 11,45 bilhões. Um acréscimo de 1% nesse montante (R$ 114,49 milhões) produziria efeito mais imediato: R$ 295,64 milhões de impacto contemporâneo, chegando a R$ 545,60 milhões em apenas nove meses.
A CNT ressalta que os efeitos imediatos e de longo prazo não se anulam, mas se acumulam, garantindo ganhos econômicos que se prolongam ao longo da vida útil das rodovias.
Complementaridade entre investimentos públicos e privados
Apesar das diferenças de impacto, a análise destaca que ambos os modelos são indispensáveis. O investimento privado apresenta retorno mais rápido, enquanto o público se mostra essencial em regiões de menor atratividade econômica.
“Enquanto o setor público desempenha papel essencial na promoção de investimentos estruturantes, especialmente em áreas menos atrativas economicamente, o setor privado contribui com eficiência operacional, capacidade de execução e foco em metas de desempenho, como se observa nas rodovias concedidas. A articulação entre esses dois tipos de investimento permite alavancar recursos, otimizar resultados e ampliar os benefícios para a infraestrutura de transporte rodoviário”, afirma Vander Costa, presidente do Sistema Transporte.
O peso econômico do transporte rodoviário
Em 2024, o transporte gerou R$ 366,26 bilhões em riqueza – o equivalente a 3,1% do PIB nacional e 5,3% do PIB de serviços – e empregou 2,88 milhões de trabalhadores, cerca de 6% dos empregos formais no país.
O modal rodoviário tem participação decisiva, respondendo por 65% do volume de mercadorias movimentadas e pela mobilidade de mais de 90% das pessoas. No entanto, a malha rodoviária brasileira ainda enfrenta sérias limitações. Apenas 12,4% das estradas estão pavimentadas, com densidade de 25,1 km por mil km². Além disso, 67% da extensão avaliada pela CNT em 2024 foi classificada como regular, ruim ou péssima.
A diretora executiva interina da CNT, Fernanda Rezende, reforça a importância dos investimentos. “Ainda operamos com uma infraestrutura deficiente e desigual. Investir nesse setor não significa apenas aprimorar a malha logística, mas, também, impulsionar o crescimento econômico sustentável. Tanto os recursos públicos quanto os privados são indispensáveis. Quanto melhor forem direcionados, mais rápido e expressivo será o impacto no PIB do transporte e na competitividade do Brasil”, afirma.
Desafios para infraestrutura rodoviária no Brasil
A CNT estima que seriam necessários R$ 99,77 bilhões para recuperar, restaurar e manter a malha rodoviária avaliada. Sem esse aporte, o setor continuará limitado em competitividade.
No ranking do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 116ª posição entre 141 países em qualidade de rodovias, ficando atrás de vizinhos como Chile, Argentina e Uruguai. “O desempenho do setor pode ser impulsionado se os desafios logísticos do país forem superados. É fundamental uma agenda contínua de investimentos para garantir segurança, alcançar eficiência e sustentar o crescimento econômico de forma sustentável”, conclui o presidente do Sistema Transporte.
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