Um novo estudo da Rede de Trabalhos Amazônicos (GTA), divulgado durante a COP30, detalha como os caminhões a diesel que abastecem a Zona Franca de Manaus concentram quase metade das emissões de transporte em todo o Norte do Brasil. O relatório “Caminhões a Diesel na Zona Franca de Manaus: Impactos e Alternativas Sustentáveis para a Logística Amazônica” aponta que o diesel intensifica danos sociais, ambientais e à saúde das populações amazônicas, especialmente em municípios expostos diariamente ao tráfego de veículos pesados.
Segundo o documento, o abismo entre compromissos globais de descarbonização e a falta de ação efetiva no território cria um risco de credibilidade para a indústria. Embora marcas como Volvo e Daimler liderem a frota regional, o estudo destaca que nenhuma delas comercializou caminhões elétricos na Amazônia até o momento, mesmo com metas públicas de emissão zero.
Além disso, o relatório apresenta dados consolidados da saúde pública. Entre 2014 e 2022, as internações por doenças respiratórias em municípios amazônicos cresceram 50%, gerando um custo de R$ 55 milhões anuais ao SUS. Para os pesquisadores, esse quadro reforça a urgência de soluções que reduzam a circulação de veículos a diesel.

Eletrificação como alternativa e recomendações
O estudo estima que 12 estações de recarga rápida permitiriam a operação de 300 caminhões elétricos na região, reduzindo o tempo de viagem em 15% e economizando 5,4 milhões de litros de diesel por ano. A transição para a eletrificação ao longo de corredores logísticos sensíveis, como BR-319, BR-163 e Transamazônica, também poderia diminuir o ruído, preservar paisagens sonoras naturais, eliminar emissões tóxicas como NOₓ e PM2.5, reduzir riscos de contaminação da água e estruturar corredores de baixas emissões com monitoramento ambiental contínuo.
O relatório ainda chama atenção para impactos sociais e territoriais associados ao transporte pesado. As grandes rodovias amazônicas, segundo o estudo, têm acelerado desmatamento, grilagem, garimpo ilegal, tráfico e pressões sobre terras indígenas e comunidades tradicionais, muitas vezes sem consulta prévia, o que contraria a Convenção 169 da OIT.
Para garantir que a transição seja justa, o documento recomenda assegurar o Consentimento Livre, Prévio e Informado dos povos afetados, respeitar protocolos comunitários de tráfego e implementar medidas de compensação ambiental e tecnológica — como energia solar e conectividade indígena. O estudo reforça que toda a infraestrutura de recarga precisa ser alimentada por fontes renováveis para evitar novos vetores de impacto socioambiental.









