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Conteúdo 23 de janeiro de 2023

Pátios de triagem de veículos pesados de carga: solução logística aliada à ação de cidadania e mobilidade urbana

 

Sempre que tenho oportunidade, gosto de registrar que uma cidade portuária é dadivosa. Nela, virtuosamente, prosperam segmentos que emergem da atividade principal, gerando emprego e renda para seus cidadãos, e desenvolvimento tanto para o seu entorno, quanto para as regiões de sua hinterlândia.

Uma cidade portuária fomenta o desenvolvimento industrial da região, fortalecendo o comércio e a “clusterização” de serviços diversos. Nos elos que se entrelaçam ao núcleo da operação portuária, vamos encontrar o transporte de carga e a armazenagem; as empresas de agenciamento e suporte marítimo, serviços logísticos e de tecnologia para o setor; capacitação técnica e universitária para a força de trabalho e formação de liderança; serviços de vendas de autopeças e de manutenção; da venda de veículos de carga e demais equipamentos de operações, de segurança, dentre tantos outros.

Se por um lado essa cadeia é virtuosa e, seguramente o é, os impactos nas cidades, nas vias urbanas e no seu entorno, se não houver planejamento estratégico e gestão profícua dos ativos portuários, podem ser desastrosos! Desde engarrafamentos, impactos ambientais, como a poluição do ar, vazamentos de produtos e combustíveis, acidentes viários por veículos estacionados no entorno dos portos e de seus terminais, incitação a uma série de vícios localizados, tanto na vizinhança dos sítios portuários quanto nas vias de acesso de e para eles, podendo contribuir para outras mazelas que o uso indevido do núcleo urbano para esse fim pode causar.

Em abordagem acadêmica, técnica e operacional – dentre outros, quatro são os principais fundamentos para uma logística eficiente e eficaz: (1). o lign up contínuo – i.e., fluidez sem interrupção; (2). a garantia de geração de escala operacional; (3). a conectividade entre os muitos elos da cadeia logística de valor e do seu ecossistema; e (4). a sustentabilidade das operações, mitigando os riscos e os impactos socioambientais, levando em conta a segurança das pessoas, das vias, das cargas e dos seus equipamentos operacionais.

Nesse contexto, encontramos como solução adequadamente estrutural, os Pátios de Triagem, sendo estes uma tendência global que vêm sendo edificados em muitos portos e centros logísticos em todo o mundo, inclusive no Brasil, já sendo uma realidade em muitos estados da federação.

Como forma de garantir o disciplinamento e agilização do fluxo de cargas atuais do porto e evitar futuros congestionamentos, a CODEBA (Companhia Docas do Estado da Bahia) formalizou o processo para implantação de um pátio de triagem e estacionamento de caminhões que abraçará e oferecerá importantes soluções para o ecossistema do seu entorno e das cidades pelo porto impactadas.

O empreendimento tem o objetivo também de atender às normas internacionais de segurança e vai proporcionar aos caminhoneiros uma estrutura com comodidades e facilidades diversas, como banheiros, restaurantes, serviços de manutenção em geral.

Além disso, os caminhoneiros serão beneficiados com uma significativa redução no tempo de espera, uma vez que utilizarão aplicativo de agendamento, via seus aparelhos móveis celulares, permitindo o acesso ao porto de acordo com o horário previamente determinado para a entrega ou recebimento das cargas. É a inovação vindo ocupar um importante espaço na modernização portuária.

Em todo o mundo, os pátios de triagem são adotados como soluções para evitar congestionamentos de caminhões nas vias de acesso aos portos. No Brasil, um número cada vez maior de portos tem adotado essa iniciativa. Em Santos (SP), os pátios de triagem evoluem a cada ano, garantindo a fluidez do complexo portuário. Em Paranaguá (PR) e em Itaquí (MA), não é diferente. Em 2020, no Porto de Suape (PE), foram instalados três pátios e, este ano, foram iniciadas as obras de implantação em Barcarena (PA) e Cabedelo (PB).

Destarte, entende-se que deve pertencer ao passado cenas de ruas que se transformam em verdadeiros estacionamentos de caminhões, os quais, quando não provocam congestionamentos, são locais de extrema vulnerabilidade propiciando uma série de problemas para o seu entorno, para a economia e, para os elos mais fracos dessa cadeia: o cidadão e o motorista caminhoneiro.

Assim são os Pátios de Triagem, os quais foram desenvolvidos por técnicos e especialistas que buscaram uma solução, através da construção de uma facilidade estrutural, que contasse com um pátio de estacionamento seguro, bem iluminado, dispondo de serviços e tecnologias tais que dessem ao caminhoneiro, aos terminais portuários e logísticos, bem como às transportadoras, embarcadores, e aos demais stakeholders desse ecossistema, maior segurança, previsibilidade, condições de dignidade, higiene e segurança; além do ganho de produtividade, fluidez e organização do tráfego das vias públicas.

Diferentemente dos pátios de estacionamento, que trazem em si uma lógica estática, os Pátios de Triagem de Caminhões, de Veículos de Carga, ou ainda de Veículos Pesados, localizados em um raio economicamente viável para atender aos propósitos dos muitos setores conectados aos portos e aos centros industriais e logísticos, trazem um comportamento dinâmico que estimula o desenvolvimento sustentado e sustentável da atividade, contemplando benefícios diversos para o setor.

Nesses locais, concebidos sob projetos de engenharia específicos e qualificados para a atividade, trazem soluções completas, além de serem um verdadeiro shopping de serviços, desde posto de abastecimento a preços competitivos, posto de autosserviços para manutenção e lojas de autopeças, oferecendo tecnologia de triagem moderna, disponibilizando internet de alta velocidade para conectividade e comunicação de seus usuários, serviços de atendimento médico em parceria com o “Sistema S”, dentre outros.

Ao deixarem as ruas, e passarem a se utilizar dos Pátios de Triagem, os veículos de carga estarão protegidos e livres de multas de trânsito, como estacionamento em local proibido, além de devolverem às cidades e aos seus cidadãos, as vias públicas desobstruídas.

No mundo em que o uso de energia renovável é inexorável, os veículos de carga movidos a energia limpa, principalmente a elétrica, em futuro próximo, seu uso demandará pontos de recarga, sendo os Pátios de Triagem, os locais mais adequados para esse fim.

Salvador é um exemplo clássico de um porto inserido no coração da cidade, pois dele a cidade emergiu. Por 214 anos (1549 a 1763) Salvador foi a primeira capital do Brasil e, desde a sua fundação (29/03/1549), por Tomé de Sousa, muita coisa mudou, menos a sua vocação extraordinária como porto estratégico do Atlântico Sul, por reunir condições únicas vis-à-vis a sua localização em relação ao país, a Europa, África e América do Norte. O Porto de Salvador reúne ainda condições inigualáveis em termos de condições naturais. Está localizado em uma baía abrigada e de águas profundas, sendo a Baía de Todos os Santos a maior baía do Brasil e segunda maior do mundo.

No que concerne ao fluxo viário para o Porto de Salvador, em 2013 dá-se um importante passo com a implantação da Via Expressa Baía de Todos os Santos, ligando a BR-324 com o Porto de Salvador, sendo a BR-324 o único eixo de ligação da capital peninsular com as principais rodovias estratégicas de conexão do Nordeste com o Sudeste, como a BR-116 e BR-101.

O Porto de Salvador tem recebido importantes investimentos, principalmente na expansão do seu terminal de contêineres, que deve triplicar sua capacidade instalada nos próximos anos, com equipamentos que contam cada vez mais com tecnologias de ponta, neles embarcados, demandando, evolutivamente, de fluidez e organização viária.

Com base na tese vista na abertura deste artigo, um porto presta-se para garantir fluidez, geração de escala, conectividade e segurança operacional. Hoje, o sítio portuário conta com uma via expressa que desemboca em um modesto pátio de caminhões, com vagas insuficientes para que se veja garantido o crescimento para os próximos anos, além de não oferecer ao motorista caminhoneiro condições de permanência digna de higiene e segurança.

Infraestrutura portuária e de transportes são caracterizadas por elevado CAPEX (despesas de capital ou investimentos em bens de capitais), portanto, precisam ser previstas e disponibilizadas a tempo para que tais soluções possam convergir com o crescimento da demanda.

Ademais, toda a área disponível em um sítio portuário deve estar reservada e dedicada para o seu negócio principal: a movimentação, carga e descarga de mercadorias. Não é recomendável que uma área tão nobre dentro do perímetro portuário seja ocupada como pátio para estacionamento de caminhões.

Cada porto, por certo, tem suas características locacionais, perfil de carga, escala operacional etc. Salvador, por peninsular que é, vê-se diante de riscos iminentes de gargalos viários, demandando soluções capazes de garantir a fluidez logística a baixo custo, que ofereçam elevada eficiência ao sistema. Nessa perspectiva, os Pátios de Triagem trazem esse benefício, essa característica que contempla o desenvolvimento da atividade portuária, da economia, e do bem-estar dos moradores do seu entorno e dos seus usuários.

 

Carlos Cesar Meireles Vieira Filho Carlos Cesar Meireles Vieira Filho

Mestre em administração de empresas pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com especialização em Conselhos pela FDC/MG e MBA em Economia e Gestão de Relações Governamentais pela FGV/SP. Com 35 anos de experiência em logística e infraestrutura, atuou no Polo Industrial de Camaçari, no Governo do Estado da Bahia e em vários Operadores Logísticos e Portuários no país, tendo sido co-fundador e presidente da ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos) por nove anos. É consultor e conselheiro de empresas, atuando em planejamento estratégico, desenvolvimento de novos negócios, fusões e aquisições. É sócio-diretor da TALENTLOG – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda.

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