Neste artigo, o colunista do portal Logweb Paulo Roberto Bertaglia aponta como a logística evoluiu, as forças que a movem hoje e o que a impulsionará no futuro.
Recentemente dei uma palestra com este título com a pergunta provocativa. Afinal, essa pergunta traz uma reflexão além dos galpões, das estradas e das rotas aéreas. Muitas vezes, associamos logística apenas ao transporte de cargas, às entregas rápidas do e-commerce ou à complexidade dos estoques globais.
Porém, a logística também é o sistema invisível que coloca milhões de pessoas em movimento todos os dias: trabalhadores que usam ônibus, passageiros em trens metropolitanos, turistas em aeroportos, cidadãos que dependem de metrôs e aplicativos de mobilidade para chegar ao destino.

A logística, portanto, é mais do que um conjunto de processos técnicos. Ela é um organismo vivo que responde a necessidades humanas, pressões econômicas, demandas ambientais e avanços tecnológicos. Ao longo deste artigo, exploraremos como a logística evoluiu, quais forças a movem hoje e o que a impulsionará no futuro. Sempre lembrando que, ao mover produtos e pessoas, a logística move também sociedades inteiras.
O motor histórico da logística: de caravanas a cadeias globais
A história da logística é tão antiga quanto a história da humanidade.
Nas primeiras civilizações, a logística nasceu da necessidade de sobrevivência. Povos organizavam caravanas para trocar alimentos, tecidos e metais. Estradas e rotas marítimas surgiram para sustentar o comércio e o intercâmbio cultural. A famosa Rota da Seda, que conectava a China ao Mediterrâneo, movimentava tanto produtos quanto pessoas – mercadores, soldados, viajantes – e se tornou um dos primeiros grandes sistemas logísticos do mundo.
Na era das grandes navegações, a logística foi movida pelo espírito de conquista e expansão. Caravelas transportavam especiarias, ouro e escravos, mas também abriam caminhos para a circulação de pessoas entre continentes.
Durante as guerras mundiais, a logística ganhou reconhecimento formal como disciplina. Era impossível vencer batalhas sem abastecer soldados com alimento, água, armamentos e equipamentos. Mais uma vez, movimentar produtos e pessoas se confundia com o próprio destino das nações.
No século XX, com a globalização, a logística empresarial emergiu como pilar estratégico. O que a moveu foi a busca incessante por competitividade e eficiência. Ao mesmo tempo, crescia o transporte de massas. O advento dos ônibus urbanos, trens suburbanos e aviação comercial. Todos eles exigindo planejamento, rotas, manutenção e coordenação.
Assim, desde sempre, a logística esteve a serviço de dois movimentos: garantir o fluxo de produtos e assegurar a mobilidade das pessoas.
As forças que movem a logística hoje
Se a logística sempre acompanhou os movimentos da sociedade, hoje ela é impulsionada por forças ainda mais complexas.
– Pessoas
No transporte de cargas, a falta de mão de obra qualificada é um desafio global. Motoristas, operadores de armazéns, planejadores de demanda e especialistas em tecnologia são demandados em larga escala. Já no transporte de passageiros, a logística depende de profissionais que assegurem a operação segura de ônibus, trens, metrôs e aeronaves. Sem pessoas capacitadas, não há movimento. Nem de mercadorias e nem de cidadãos.
– Tecnologia
Se a logística é o corpo, a tecnologia é o seu sistema nervoso. Nos produtos, ela aparece em torres de controle, inteligência artificial, digital twins e algoritmos de otimização. Nas pessoas, surge em sistemas de bilhetagem eletrônica, aplicativos de mobilidade urbana, integração multimodal e análise de fluxos de passageiros em tempo real. A tecnologia hoje é o motor silencioso que orquestra ambos os universos.
– Sustentabilidade
A pressão ambiental move a logística de forma inescapável. Nas cargas, isso significa reduzir emissões, adotar transportes menos poluentes e repensar embalagens. No transporte de pessoas, implica migrar para sistemas coletivos mais eficientes, energia limpa em frotas urbanas e incentivo à mobilidade ativa, como bicicletas e caminhadas. O ESG é, hoje, um combustível essencial da logística.
– Consumidores e cidadãos
A mesma pessoa que exige entregas rápidas em casa também deseja chegar ao trabalho sem atrasos e com conforto. Consumidores e cidadãos são faces de uma mesma moeda: o desejo por velocidade, qualidade e experiência positiva. Isso coloca pressão constante sobre empresas, governos e operadores logísticos.
Em resumo: a logística contemporânea se move por pessoas, tecnologia, sustentabilidade e expectativas sociais cada vez mais elevadas.
Os desafios invisíveis: o que sustenta os bastidores
A logística visível, que é a mercadoria entregue ou o ônibus chegando ao ponto, é apenas a ponta do iceberg.
Nos bastidores, há sistemas de planejamento, previsão de demanda, escalas de motoristas, manutenção de veículos, gestão de estoques e coordenação entre múltiplos elos da cadeia. O sucesso logístico depende desses elementos invisíveis, que raramente recebem destaque, mas sustentam todo o movimento.
No transporte de produtos, exemplos incluem planejamento S&OP, estoques de segurança, infraestrutura portuária e alfandegária. No transporte de pessoas, os bastidores englobam desde o controle de tráfego aéreo até os algoritmos que organizam o funcionamento de linhas de metrô ou de ônibus em horário de pico.
Esses bastidores não aparecem nas capas de jornais, mas são eles que garantem que um avião decole em segurança ou que um supermercado não fique sem produtos essenciais. Portanto, o que realmente move a logística é, muitas vezes, o que o olho humano não vê.
Mobilidade de Pessoas: o outro lado da logística
Quando pensamos em logística, é comum a associarmos imediatamente à movimentação de produtos. No entanto, o transporte de pessoas é parte essencial desse ecossistema e, muitas vezes, recebe menos atenção do que merece. A logística de passageiros garante não apenas deslocamentos, mas também inclusão social, acesso a oportunidades e qualidade de vida.
Nas grandes cidades, milhões de pessoas dependem diariamente de sistemas complexos de ônibus, metrôs, trens e aviação regional. Essa engrenagem exige o mesmo nível de planejamento, coordenação e inovação que encontramos na logística de cargas. Horários precisam ser cumpridos, rotas devem ser ajustadas em tempo real, manutenção preventiva é obrigatória, e o desafio de oferecer segurança, pontualidade e conforto se torna cada vez mais central.
A mobilidade de pessoas também está no centro da pauta de sustentabilidade. Incentivar o transporte coletivo eficiente e a integração multimodal reduz emissões, descongestiona cidades e melhora o bem-estar coletivo. Da mesma forma, iniciativas como veículos elétricos, bicicletas compartilhadas e corredores exclusivos de ônibus são respostas logísticas a um problema urbano cada vez mais crítico.
Além disso, a digitalização está transformando a experiência do passageiro. Bilhetagem eletrônica, aplicativos que integram modais e informações em tempo real são exemplos de como a logística de pessoas se reinventa para atender a uma sociedade que exige velocidade, previsibilidade e transparência.
Assim como a logística de produtos sustenta cadeias globais de suprimentos, a logística de pessoas sustenta cadeias sociais, conectando indivíduos a empregos, saúde, educação e lazer. Sem mobilidade, não há desenvolvimento. Esse é o outro lado da moeda que move a logística: não basta entregar mercadorias, é preciso garantir que as pessoas também cheguem ao seu destino.
O futuro: o que moverá a logística nos próximos anos?
Na minha humilde opinião, se o passado foi marcado por sobrevivência e expansão, e o presente por eficiência e tecnologia, o futuro da logística será moldado por algumas grandes forças. Tudo tem seu tempo e sua hora.
– Digitalização radical
A inteligência artificial deixará de ser suporte para se tornar cérebro da cadeia de suprimentos e da mobilidade urbana. Previsões de demanda, rotas de transporte coletivo, gestão de tráfego aéreo e até operação de veículos autônomos serão conduzidos por algoritmos capazes de aprender e ajustar-se em tempo real.
– Sustentabilidade como imperativo
Não será opcional. Governos, consumidores e cidadãos cobrarão resultados tangíveis em redução de carbono, eficiência energética e inclusão social. Logística de produtos e mobilidade de pessoas convergirão em busca de soluções de baixo impacto ambiental. Estamos apenas no começo, mas quero crer que a conscientização irá evoluir em todas as esferas e prevalecerá o bom sendo pela busca de soluções e cuidado de nosso planeta.
– Colaboração e integração
O futuro da logística será de redes interconectadas. Empresas competirão e cooperarão ao mesmo tempo. Cidades precisarão integrar modais de transporte público, privado e individual para oferecer uma experiência fluida de mobilidade. Cadeias globais de suprimento precisarão trabalhar em ecossistemas compartilhados, baseados em dados.
– Busca por transporte alternativo
O crescimento das cidades e as pressões ambientais impulsionarão o uso de bicicletas, motocicletas elétricas, patinetes, drones, veículos compartilhados e outras formas de micromobilidade. Essas alternativas, integradas a sistemas digitais e coletivos, serão fundamentais para reduzir congestionamentos, melhorar a qualidade do ar e ampliar o acesso de milhões de pessoas a diferentes regiões urbanas.
O que moverá a logística, portanto, será a capacidade de equilibrar tecnologia, sustentabilidade e colaboração em um mundo de crescente complexidade e busca de soluções alternativas.
Conclusão
A logística movimenta produtos e pessoas. Mas o que realmente a move são necessidades humanas, avanços tecnológicos, pressões ambientais e expectativas sociais.
Se olharmos para trás, veremos que ela nasceu da sobrevivência e da conquista. Hoje, é movida por competitividade, velocidade e qualidade. No futuro, será movida por inteligência digital, sustentabilidade e integração entre sistemas.
Mais do que uma disciplina operacional, a logística é um organismo vivo que reflete a sociedade em que está inserida. Cada carga entregue e cada passageiro transportado são expressões de algo maior: a busca incessante do ser humano por conexão, movimento e transformação.
A pergunta que nos resta é: estamos preparados para mover a logística com propósito e visão de futuro?
Por hoje é só. Ao infinito e além. Que a força esteja conosco.
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Nos vemos por aí; no mundo virtual e quem sabe no presencial.
Ao infinito e além!










