Por que a inovação na cadeia de abastecimento não significa reinventar a roda

Em seu novo artigo, o colunista do Portal Logweb Elcio Grassia destaca que a a verdadeira inovação raramente exige começar do zero. Muitas vezes, o que realmente transforma uma cadeia de suprimentos é revisitar, reavaliar e otimizar os processos, infraestruturas e ferramentas já disponíveis.

A cada nova disrupção – seja uma instabilidade geopolítica, congestionamentos nos portos, escassez de mão de obra, mudanças nas fontes de suprimento ou oscilações cambiais – ocorre uma corrida para “inovar” nas cadeias de suprimentos. No entanto, a verdadeira inovação raramente exige começar do zero. Muitas vezes, o que realmente transforma uma cadeia de suprimentos é revisitar, reavaliar e otimizar os processos, infraestruturas e ferramentas já disponíveis.

Por que a inovação na cadeia de abastecimento não significa reinventar a roda

Encontrando confiabilidade em um mundo volátil

No ambiente atual, extremamente dinâmico, a resiliência da cadeia de suprimentos brasileira – notadamente em setores como alimentos, farmacêutico e bens de consumo – depende não da rigidez dos métodos tradicionais, mas da flexibilidade e capacidade de adaptação. Inspiradas em modelos como o SCOR e nas boas práticas de gerenciamento estratégico da cadeia de suprimentos, as empresas devem entender que os avanços mais impactantes surgem da melhoria contínua das operações existentes, e não da adição de camadas desnecessárias de complexidade.

Você está inovando ou apenas complicando?

No Brasil, vemos muitas iniciativas logísticas atoladas em complexidades: múltiplos novos fornecedores, sistemas de TI implantados às pressas e processos fragmentados que ainda não resolvem gargalos históricos, como a ineficiência nos portos, a dependência do modo rodoviário ou o custo elevado de transporte interno. Se os projetos ditos “inovadores” não trazem ganhos mensuráveis, é hora de refletir: Estamos otimizando o que já temos ou apenas complicando nossa operação?

Essa reflexão é essencial para evitar “compensações logísticas mal gerenciadas”.

Além da redução de custos de curto prazo

Cortar custos é uma meta válida, mas, no mercado brasileiro – com sua complexa malha logística e infraestrutura desigual – medidas simplistas, como mudar para transportadoras de menor custo sem avaliar impactos na qualidade, podem trazer prejuízos a médio prazo: mais avarias, prazos estendidos e clientes insatisfeitos.

O alinhamento estratégico que integra custos, eficiência e valor ao cliente é fundamental. Reduzir custos e elevar a eficiência deve ser o norte para os líderes de Supply Chain.

Questione seus modelos de logística inbound

O tradicional modelo de entrada de cargas por grandes portos (Santos, Paranaguá) seguido de centralização em armazéns na região Sudeste precisa ser constantemente revisitado. Com a descentralização do consumo para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste, empresas como Carrefour Brasil já vêm reposicionando seus Centros de Distribuição.

Será que reconfigurar a localização dos seus centros de estoque, aproximando-os dos polos de consumo, não reduziria significativamente o seu custo de transporte e melhoraria a satisfação do cliente?

Eficiência como pilar da inovação

A verdadeira inovação consiste na simplificação inteligente: eliminar atividades desnecessárias, maximizar o uso da capacidade instalada e buscar excelência operacional.

Pense:

– Quantos pontos de manuseio sua carga percorre até chegar ao cliente?

– Sua estratégia de inbound é a mais rápida e previsível possível?

– Ineficiências foram aceitas como “normais” apenas pela força do hábito?

– Seu uso da infraestrutura existente é realmente o ideal?

Estas perguntas são ainda mais relevantes no Brasil, onde gaps de infraestrutura exigem criatividade e pragmatismo.

Inovação através de um novo olhar

Em muitos casos, como mostram estudos de caso de empresas brasileiras, o próximo salto de performance virá não da implantação de um novo sistema, mas de um olhar renovado sobre o que já existe.

Revisar processos, melhorar rotinas de previsão e reposição (como no CPFR) e integrar melhor os parceiros logísticos e fornecedores são caminhos mais sólidos do que adotar modismos.

Repensar, realinhar, revigorar

Quando foi a última vez que sua empresa questionou as premissas fundamentais da sua operação logística?

O que estudos e modelos como SCOR reforçam é que as inovações mais poderosas surgem da simplificação, integração e do uso inteligente de recursos já disponíveis.

Por exemplo, ao adotar a estratégia de adiantamento (postponement) para produção e estoque, empresas brasileiras conseguiram reduzir os efeitos da variabilidade de demanda.

Conclusão

Inovar em Supply Chain no Brasil, um dos países com logística mais desafiadora do mundo, não significa necessariamente “reinventar a roda”. Significa adaptar, otimizar e alinhar estratégias com a realidade dinâmica dos mercados e das infraestruturas disponíveis, sempre com foco no cliente e na eficiência operacional.

Ao invés de buscar soluções mirabolantes, a liderança logística no Brasil do futuro será daqueles que conseguirem maximizar o valor das ferramentas e processos já à mão — e que souberem fazer isso melhor, mais rápido e com mais inteligência do que seus concorrentes.

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Elcio Grassia

Elcio Grassia

Sócio-Fundador e CEO da Nazar Systems, plataforma SaaS para digitalização da Cadeia de Abastecimento do Varejo Alimentar. Vice-Presidente de Programas do CSCMP Roundtable Brasil. Vice-Presidente da BSCA (Blockchain Supply Chain Association para o leste da América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguay e Uruguay). Sócio-Consultor da Integrare Consulting, com foco em Logística e gestão da Cadeia de Abastecimento, tendo desenvolvido projetos para clientes como Ambev, Aqua Capital Partners, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Burguer King, Cacau Show, Carapreta Carnes Nobres, Comfrio, Consórcio Rio Energia, FEMSA, FGV Projetos, Global Environment Fund, WalMart / Intelligrated, Mendes Junior, Novus, Radhakrishna Foodland, Secretaria de Logística do Estado de São Paulo, The Fifties e Vale, entre outros. Tem 45 anos de experiência em Logística, Supply Chain, Operações, Gerência Geral e Desenvolvimento de Negócios em empresas como Havi Global Solutions, McDonald’s Brasil e América Latina, Martin-Brower Brasil e Nestle Brasil. “Board Emeritus”, ex-Channel Partner e ex-membro do Global Research Committee da ASCM – Association for Supply Chain Management.

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