Com base em sua ampla experiência em Supply Chain, Leonardo Benitez, colunista do Portal Logweb, enfatiza que a reforma não é apenas um tema tributário, mas um teste de estratégia e agilidade. Ele defende a criação de equipes multidisciplinares e o uso de simulações avançadas para recalcular custos e redes logísticas, enfatizando que o sucesso dependerá da capacidade das empresas de antecipar mudanças e agir com rapidez antes que o novo “mapa fiscal” se consolide.
A reforma tributária promete simplificar o sistema, mas, para o setor de logística, o que está em jogo vai muito além de alíquotas e siglas. O novo modelo de tributação no destino do consumo pode desmontar, em poucos anos, a lógica de localização que sustentou décadas de investimentos em Centros de Distribuição e plantas industriais.
O mapa fiscal muda – e, com ele, o mapa logístico do país. A questão é: as empresas estão fazendo as contas certas, e na hora certa?

Os Business Cases que orientam investimentos logísticos costumam ter horizontes longos – cinco, dez, às vezes vinte anos. Só que o cronômetro da reforma já está correndo, e muitos desses estudos ainda usam premissas tributárias e de custeio do passado. A combinação é perigosa: se o ponto ótimo de operação mudar e a infraestrutura física não acompanhar, parte dos ativos atuais – especialmente galpões automatizados e fábricas recém-inauguradas – pode se tornar ineficiente ou economicamente obsoleta antes de completar o retorno do investimento.
Há ainda uma armadilha de tempo: realocar um Centro de Distribuição ou adaptar uma planta industrial leva anos, e não meses. O desafio é que as decisões precisam ser tomadas agora, quando as regras ainda estão sendo detalhadas e o impacto real nas margens é incerto. Fazer o Business Case cedo demais é arriscado; fazê-lo tarde demais pode custar o mercado.
E as premissas de custeio? Estão sendo reavaliadas com a profundidade necessária? Sob o novo modelo, o frete, o aluguel, o custo de energia, a mão de obra e até o imposto sobre o ativo imobilizado terão impactos cruzados diferentes – inclusive sobre créditos e deduções. Ou seja: o custo total logístico precisará ser recalculado do zero. Não basta trocar fórmulas em planilhas; será preciso repensar a estrutura de margem, o modelo operacional e até o que significa “eficiência” em uma rede fiscalmente neutra.
Enquanto isso há dois riscos simultâneos: ociosidade onde antes havia vantagem fiscal e escassez de infraestrutura nas regiões de consumo. Parte dos investimentos recentes em automação e galpões de alto padrão pode se perder no processo – não por erro tecnológico, mas por erro de timing.
A reforma tributária é, na prática, um teste de estratégia. Não vencerá quem entender melhor a lei, mas quem conseguir antecipar o comportamento da rede – e agir antes que o custo da inércia se torne maior que o da mudança.
O caminho para mitigar esses riscos passa por ação coordenada e planejamento inteligente. Empresas devem formar grupos multidisciplinares que unam tributaristas, especialistas logísticos e especialistas em dados para construir modelos de simulação tributária e de fluxo de rede, revendo a viabilidade de cada ativo. Além disso, devem prever ativos logísticos flexíveis, modulares e geograficamente adaptáveis.
Em tempos de reforma, o maior ativo será a agilidade estratégica – a capacidade de recalcular a rota antes que o novo mapa fiscal seja definitivo.







