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Extremismo ideológico e divergências históricas profundas inviabilizam a construção de uma nova ordem internacional

Como escreveu o jornalista Fareed Zakaria em seu último artigo (“O alto custo de alterar a ordem mundial”), publicado no Estadão do dia 08 de março último, “Ao longo da história dos EUA, os americanos com frequência hesitaram em apoiar guerras no exterior e maquinações internacionais”.  Entretanto, “desde a fundação de seu país, os americanos geralmente sabem por quem torcer – por aqueles que buscam a liberdade – e a quem condenar – aqueles que tentam esmagar a liberdade”. Sabem ou sabiam?

Essa era, também, a percepção e o pensamento reinante em quase todos os países do mundo, recém-saídos da 2ª Guerra Mundial, que acreditavam estar surgindo, e aqui me socorro das palavras do ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger (“Ordem Mundial”, Editora Objetiva, 2014), “um processo efetivo de cooperação entre os países, e não de confrontação”, de tal forma que se estabelecesse uma nova ordem mundial, na qual a liberdade e a democracia teriam papéis fundamentais. Buscava-se aquilo que até então não tinha sido possível: “uma paz justa e duradoura”.

Kissinger, inclusive, defendia a ideia de que os EUA, ao proclamarem como um de seus principais objetivos de guerra, “não apenas punir seus inimigos, mas melhorar a vida do povo em questão”, uma vez que buscavam “a vitória não na dominação, mas no ato de compartilhar os frutos da liberdade”, deveria caracterizá-los como um país especial.

Vale relembrar que em todo o mundo ocidental, a visão norte-americana, de que as pessoas são “razoáveis e inclinadas ao compromisso pacífico, ao senso comum e à negociação equilibrada”, propiciava maior difusão dos conceitos democráticos e o desejo de uma ‘nova ordem mundial’.  “Os livres-mercados acabariam por fazer os indivíduos progredirem, enriquecer as sociedades e substituir as tradicionais rivalidades internacionais pela interdependência econômica.”

O ex-presidente Bill Clinton, em discurso na ONU, em 1993, corroborava com esse pensamento ao dizer que “nosso propósito primeiro, deve ser o de expandir e fortalecer a comunidade mundial das democracias baseadas em economias de mercado”. Essa seria a forma pela qual a política norte-americana contribuiria para o estabelecimento de “um mundo de democracias vigorosas que cooperariam umas com as outras e viveriam em paz”.

Não interferência nos assuntos internos dos outros Estados, inviolabilidade das fronteiras, soberania dos Estados e encorajamento ao direito internacional seriam alguns dos pontos inegociáveis, caso uma ‘nova ordem mundial’ fosse estabelecida.

Infelizmente, muitos desses objetivos não foram alcançados, e já no início do século XXI, o mundo é abalado por um conjunto importante de contestações, que impacta diretamente a ordem considerada como universal pelos países ocidentais. Conceitos como democracia, direito internacional e direitos humanos, por exemplo, passaram a ter interpretações próprias. Diferentes e às vezes totalmente divergentes de um país para outro, tudo passou a ser criticado e as premissas estabelecidas, até então, totalmente questionadas.

Kissinger, aqui já citado, havia percebido isso ao detectar que a estrutura existente a partir do início deste século tinha muitas dificuldades para compreender questões importantes e que eram essenciais para o desenvolvimento e a evolução do processo de convívio entre as nações. As divergências e o desacordo entre as diversas organizações políticas e econômicas existentes no mundo eram cada vez mais claras. Assim como a falta de mecanismos para que as grandes potências conversassem mais e cooperassem umas com as outras. Havia, de fato, impossibilidades de se construir novo sistema internacional.

O fato é que o mundo vive momentos de grandes incertezas e tem, como agravantes, uma quantidade crescente, e com intensidades muito maiores, de conflitos entre países e desses com organizações terroristas, um forte e constante crescimento da extrema-direita e mudanças geopolíticas significativas. Sem dúvida, o surgimento de lideranças ‘complicadas’ também pode ser considerado como uma desses agravantes. O maior exemplo atual, difícil discordar, é o do presidente Trump.

Não se pode esquecer que na era Trump, por exemplo, a mudança de comportamento da diplomacia norte-americana tem se caracterizado por um posicionamento truculento e extremamente intimidatório, isto é, totalmente discordante daquilo que entendemos por ‘valores democráticos’. No mínimo, ignoram o conceito de soberania dos Países. Os casos dos imigrantes ilegais que vivem nos EUA, o canal do Panamá, as discussões com o Canadá, o México, a Dinamarca (Groenlândia), e com um conjunto significativo de países, outrora amigos indiscutíveis, ilustram o que aqui queremos expressar.

Mas há outros exemplos que caracterizam esse comportamento cada vez mais fechado, intransigente e retrógrado do governo Trump. Para tanto, utilizo-me do que escreveu o jornalista Lourival Sant’Ana, no Estadão do dia 09 de março último (“O mensageiro do Caos”): fechamento do Departamento de Educação do governo norte-americano, indulto a policiais brancos que foram condenados pela morte de pessoas negras, decretação que nos EUA só se reconhecem dois sexos (masculino e feminino), expulsão de oficiais das Forças Armadas vinculados aos movimentos pró-diversidade, eliminação dos programas que tratam da ‘transição de gênero’, ordem para que a Agência de Segurança e Infraestrutura Cibernética não mais monitore e nem tampouco relate possíveis ameaças russas. Sem dúvidas, são atitudes que, além de contrárias aos valores democráticos do ocidente, neste século, fazem parte de uma receita indigesta e que desrespeita quaisquer outros interesses a não ser os próprios.

O que pensar da proposta de se discutir diretamente com Vladimir Putin um possível acordo a respeito do conflito com a Ucrânia, mas sem as participações do governo Zelensky e de representantes da Comunidade Europeia? E como compreender as discussões com Zelensky e a decisão de ‘abandonar’ a Ucrânia exatamente no momento no qual Putin aumenta seu ‘apetite imperialista’? Mostrar-se cada vez menos confiável ao mundo ocidental, em especial a Europa, principalmente agora que a extrema-direita cresce na maioria dos países daquele continente e as ameaças russas se concretizam, é um comportamento correto e digno da maior potência mundial? São amostras de quem quer preservar os valores democráticos do mundo ocidental?

É preciso compreender, e me socorro novamente do que escreveu o jornalista Zakaria, que “Trump não está apenas mudando a política externa americana. Ele está reorientando a bússola moral dos EUA, uma bússola que esteve ajustada firmemente desde a fundação do país, quase 250 anos atrás”.

Assim também entendeu o jornalista Lourival Sant’Ana, aqui já comentado: “Donald Trump está derrubando os pilares da relativa igualdade de oportunidades, justiça racial, tolerância, prosperidade e segurança, conquistadas pelos americanos com esforço e talento ao longo de décadas”.

E se as mudanças – geopolíticas, econômicas, comerciais e de valores – muitas delas proporcionadas por Trump, reconfiguram as relações internacionais em todo o mundo, e com impactos junto a todos, mais do que nunca governantes, empresários e executivos precisarão estar atentos para entender o que está acontecendo, pois o que não se pode e não se quer é viver momentos intensos e demorados de ‘incertezas’.

Preocupada com o tema, em janeiro deste ano, a McKinsey publicou um artigo interessante para abordar assuntos relativos à geopolítica mundial. Com o título “Geopolítica e a Geometria do Comércio Global: atualização de 2025”, os especialistas da McKinsey afirmam que “as relações comerciais continuam a se reconfigurar, e a mudança geopolítica é uma das principais razões”.

Lembrou o artigo da McKinsey que enquanto os Estados Unidos continuavam substituindo o comércio que tinham com a China para México ou Vietnã, por exemplo, “as economias europeias se afastavam do comércio com a Rússia” e aumentavam seus fluxos comerciais com o próprio EUA e outros parceiros em desenvolvimento. E estes países, tais como o Brasil, a Índia e diversas outras nações do Sudeste Asiático, ainda em desenvolvimento, passaram a responder pela maioria das importações e exportações da China.

Não à toa, e conforme confirmam as pesquisas, uma grande maioria de executivos e empresários mundiais passou a considerar a “instabilidade geopolítica uma grande ameaça à economia global, não apenas no curto prazo, mas também no longo prazo”, estando extremamente “interligado aos mercados de trabalho e ao desenvolvimento econômico”. Vale lembrar que mesmo nos EUA os investidores vêm, por cautela, demorando para tomar suas decisões. Principalmente em face de uma possível recessão que, coincidentemente, Trump nega.

Parece claro que as mudanças que ocorrem no cenário geopolítico atual têm impactos significativos no comércio, na economia e na sociedade como um todo, obrigando os países a elaborarem suas estratégias de acordo. Mas como concluíram os especialistas da McKinsey, “a geopolítica mutável pode criar riscos, mas navegá-la cuidadosamente também pode gerar oportunidades”.

Coincidentemente, na última reunião de Davos, ao serem analisados os possíveis impactos na economia mundial, oriundos da evolução tecnológica, das decisões de Trump e das guerras do Oriente e da Ucrânia, parecia unânime entre os principais executivos mundiais ali presentes que todos os esforços deveriam estar voltados na busca de estratégias que aumentassem a resiliência, a produtividade e o crescimento.

Nesse sentido, algumas preocupações foram externadas. Com base em um excelente trabalho de análises feito pela McKinsey, permito-me, aqui, e de forma resumida, citar algumas delas: 1) atenção com relação às guerras comerciais ‘em desenvolvimento’, principalmente quando dizem respeito aos setores diretamente ligados às suas empresas, seja sob o ponto de vista do cliente, do fornecedor ou dos investidores; 2) foco para a elaboração de estratégicas geopolíticas – as empresas asiáticas, por exemplo, poderão ter muito mais oportunidades do que as de outras regiões, considerando-se a forte influência que elas têm no mundo político atual; 3) disposição para realizar mudanças estruturais que, de fato, conectem suas organizações ao que mais moderno há no campo tecnológico; 4) no caso dos governos e empresas europeias, aceleração dos investimentos, aumento das escalas de produção e o estabelecimento de metas mais audaciosas (exemplos: “um conjunto de políticas fiscais greenfield – projetos que saem do ‘zero’), regras trabalhistas e padrões regulatórios entre países”, e maior colaboração entre empresas e formuladores de políticas; 5) foco no desenvolvimento de estratégias específicas com relação à transição energética, mas compreendendo que a utilização de energias derivadas de combustíveis fósseis e de energia limpa ainda deverão ser mantidas e funcionando em paralelo por muito mais tempo do que se gostaria; 6) aproveitamento, sempre que possível, do crescimento da “economia espacial”, posto que ela cria valores para diversos segmentos das atividades econômicas e de produção, seja na forma de trabalhar ou nos impactos que se obtêm diante do desenvolvimento das cadeias de suprimentos, de comunicação, educacional etc.; 7) foco na capacitação, no aprendizado continuo e no desenvolvimento dos novos líderes deste ‘novo mundo’, pois para resistir às incertezas e às interrupções esperadas, há que se ter muito dinamismo e um conjunto de habilidades diferenciado. Não havendo dúvidas, por exemplo, que a inteligência artificial, importante no desenvolvimento das novas estratégias, permitirá que se realizem análises sobre problemas mais complexos, na medida em que é capaz de aumentar, automatizar e organizar de forma significativa a entrada de dados, informações e conhecimento. Observação: isso exigirá muito mais criatividade e habilidades específicas de todos os envolvidos.

Henry Kissinger, em seu livro aqui já citado, escreveu de forma categórica: “nunca houve uma verdadeira ordem mundial, pois por toda a história as civilizações definiam seus próprios conceitos de ordem”. “Hoje, as relações internacionais ocorrem em uma base global e os diferentes conceitos históricos sobre ordem mundial estão se encontrando. Contudo, não há consenso entre os maiores atores a respeito das regras e dos limites que guiam esse processo, ou sua direção principal. O resultado é uma crescente tensão”, levando a todos nós ao grande desafio: “construir uma ordem internacional partilhada num mundo de perspectivas históricas divergentes, conflitos violentos, proliferação tecnológica e extremismo ideológico”. Portanto, restará a todos nós, governantes, empresários, executivos e pensadores, aceitar que as mudanças são muito mais significativas do que se pensava anteriormente, e que uma nova e correta compreensão sobre tudo aquilo que vem acontecendo ultimamente precisa ser feita. E o mais urgente possível.

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Paulo Roberto Guedes

Paulo Roberto Guedes

Formado em ciências econômicas (Universidade Brás Cubas de Mogi das Cruzes) e mestre em administração de empresas (Escola de Administração de Empresas de São Paulo/FGV); Professor de logística em cursos de pós-graduação na FIA (Fundação Instituto de Administração); Consultor da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, da qual também foi fundador; Membro do Conselho de Administração da ANHUMAS Corretora de Seguros; Membro do Conselho Editorial da Revista Tecnologística; Consultor Associado do escritório de Nelson Faria Advogados; Consultor empresarial e palestrante nas áreas de planejamento estratégico, finanças, economia e logística; Articulista de diversas revistas e sites, com mais de 300 artigos publicados (Guia do TRC, Tecnologística, Orbisnews, Logweb e Faria de Oliveira Advogados); Exerceu cargos de direção em diversas empresas (Veloce Logística, Armazéns Gerais Columbia, Tegma Logística Automotiva, Ryder do Brasil e Cia. Transportadora e Comercial Translor) e em associações dos setores de logística e de transporte (ABOL – Assoc. Brasileira de Operadores Logísticos, NTC&L – Assoc. Nacional do Transporte de Cargas e Logística, ANTV – Assoc. Nacional dos Transportadores de Veículos e ABTI – Assoc. Brasileira de Transp. Internacional); Foi membro de diversos Conselhos de Administração de empresas do setor logístico (Veloce, Columbia Logística, Columbia Trading, Eadi Salvador, Consórcio ZFM Resende, Ryder e Translor); Exerceu cargos de consultoria e aconselhamento em instituição de ensino e pesquisa (Celog-Centro de Excelência em Logística da FGV) e de instituição portuária (CAP-Conselho de Autoridade Portuária dos Portos de Vitória e Barra do Riacho do Espírito Santo); Lecionou em cursos de MBA e pós-graduação na área de Logística Empresarial em várias escolas: EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), ENS (Escola Nacional de Seguros) e FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras); Lecionou em cursos de graduação de economia e administração de empresas em diversas faculdades (FAAP-Fundação Armando Álvares Penteado, Universidade Santana, Faculdades Ibero Americana e Universidade Brás Cubas); Agraciado com a Medalha Ministro Celso Furtado por serviços prestados à classe dos Economistas, outorgada pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo.

 

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