Neste artigo, Gabriel Freire, colunista do Portal Logweb, analisa as complexidades operacionais enfrentadas pelo e-commerce brasileiro diante de um cenário de transformação digital, escassez de mão de obra qualificada e alta exigência por entregas rápidas. Ele defende que soluções escaláveis e integradas são o caminho para manter competitividade.
O e-commerce se tornou protagonista no varejo brasileiro nos últimos anos, impulsionado por mudanças no comportamento do consumidor, digitalização acelerada e novas exigências logísticas, além da pandemia de Covid-19, que acelerou algumas tendências já esperadas. Esse crescimento trouxe consigo desafios operacionais intensos, que pressionam margens e exigem soluções mais escaláveis e flexíveis.
Ao contrário do varejo físico, são exigidas operações logísticas altamente adaptáveis, com tempos de resposta curtos. A competição por entregas em até 24 horas, ou menos, aumentou significativamente a complexidade das cadeias de suprimento.

No varejo tradicional, historicamente dependente de trabalhos operacionais e repetitivos, há um cenário de alta rotatividade e baixos níveis de qualificação. Além dos desafios tradicionais, o e-commerce frequentemente exige turnos estendidos, picos sazonais (como Black Friday) e atuação em Centros de Distribuição complexos.
No entanto, a escassez de mão de obra qualificada e o desinteresse da Geração Z por funções repetitivas e físicas dificultam a manutenção de uma força de trabalho estável. Ao mesmo tempo, os altos custos operacionais, pressionados por inflação, encargos trabalhistas e ineficiências logísticas, colocam as margens desse segmento sob forte pressão.
Como resposta, muitos players do e-commerce vêm investindo em postos de trabalho com maior apoio tecnológico, interfaces mais amigáveis (uso de tablets, em vez de coletores tradicionais) e automação parcial para reduzir o esforço físico, além de soluções robóticas para operações mais críticas. Embora ainda existam dúvidas sobre a viabilidade econômica da automação, especialmente em empresas de médio porte, os incrementos observados nos últimos anos tornam essas tecnologias mais acessíveis.
Soluções como self-checkouts, robôs móveis para movimentação de estoque, etiquetas inteligentes (RFID) e analytics baseados em IA estão mais baratas, escaláveis e fáceis de implementar. Além disso, modelos modulares permitem adotar automações de forma progressiva, o que reduz investimentos iniciais e facilita a adaptação a contextos diversos.
Apesar disso, um ponto de atenção é que, em muitos casos, a estrutura atual da companhia é sustentada por sistemas dependentes, como WMS (Warehouse Management System) e TMS (Transportation Management System), que foram implantados sem integração ou flexibilidade necessárias para suportar inovações mais avançadas. Essa dependência cria silos operacionais e reduz a agilidade para implementar mudanças significativas.
Mesmo com as barreiras apresentadas, a automação tem mostrado retorno mais rápido no e-commerce do que no varejo tradicional. Isso se deve ao maior volume de pedidos, à repetitividade de tarefas e à possibilidade de modularidade, que permite aplicar tecnologia apenas nos gargalos operacionais. Alguns exemplos incluem a implementação de robôs de picking apenas em áreas de alto giro, esteiras e sorters modulares para separação por transportadora.
Outra observação relevante é a inteligência artificial que tem ganhado espaço em áreas como previsão de demanda, roteirização de entregas e detecção de fraudes e assim agrega valor mesmo fora da operação física. Um ponto relevante é que a reforma tributária em andamento no Brasil deve impactar profundamente o setor de e-commerce, especialmente em relação à atual estratégia de distribuição descentralizada de estoques e à utilização de diferentes regimes fiscais estaduais.
Com a possível substituição de tributos como ICMS, ISS, PIS e COFINS por um modelo de IVA dual, haverá necessidade de reavaliar a localização dos Centros de Distribuição, visto que incentivos fiscais regionais tendem a ser reduzidos ou eliminados. Além disso, haverá mudanças nas regras de apuração e recolhimento, exigindo adaptações nos sistemas de gestão (ERP, WMS, TMS) para garantir conformidade e eficiência. Embora a transição demande investimentos e ajustes, a nova estrutura tributária tende a trazer maior transparência, simplificação e previsibilidade, o que pode beneficiar o planejamento estratégico e logístico no longo prazo.
O e-commerce brasileiro é hoje um dos setores mais propícios à adoção de automação, tanto por necessidade quanto por oportunidade. Os desafios de mão de obra, margens estreitas e pressão por velocidade podem ser enfrentados com soluções tecnológicas que vão além do chão de fábrica e passam por sistemas e dados e levam a decisões inteligentes e massivas para o negócio. Para players do setor, o caminho está em construir maturidade operacional, revisar os processos antes de automatizá-los e apostar em soluções modulares, escaláveis e integradas, que permitam acompanhar e se adequar a um mercado em constante transformação com novas implementações e com bom aproveitamento de soluções já implementadas, em especial para as mudanças de macro cenários tributários que se aproxima.










