A logística reversa frigorificada
A logística reversa é uma estratégia operacional fundamental que visa gerenciar o retorno de produtos e materiais desde o consumidor final até o ponto de origem, seja para reciclagem, reuso, descarte adequado ou outras formas de reaproveitamento. No contexto brasileiro, a implementação eficaz da logística reversa é crucial não apenas para atender às regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas, mas também para promover a sustentabilidade e a responsabilidade socioambiental nas operações empresariais.
Conceito literal da Logística Reversa – É o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência, custo efetivo do fluxo de matérias primas, estoques em processo, produtos acabados e o controle das ações do consumo para o ponto de origem (produção), com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada destruição. (Dale Rogers / Ronald Tibhen-Lembke – 1998)
O Conceito Empresarial – É a área da Logística Empresarial quem planeja, opera, controla o fluxo e as informações correspondentes ao retorno de bens pós-venda e de pós consumo ao ciclo do negócio ou ao ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversa, agregando valores de natureza – Econômica, Ecológica, Legal, Logística, de Imagem Corporativa; entre outros. (Prof. Paulo Roberto Leite – 2006)
Como diferenciar a Logística Tradicional da Logística Reversa
Na logística tradicional, os processos estão centralizados na cadeia de abastecimento; ou seja, desde a produção até a distribuição física ao cliente. Toda essa operação tem sua eficiência focada em tecnologias, capacitação operacional e desempenho das equipes multifuncionais.
Na logística reversa, torna-se importante que todas as partes do Meio Social estejam envolvidas no processo; ou seja, produtores, fabricantes, Operadores Logísticos, transportadores, consumidores e, por fim, o Poder Público, que é quem define a regulação para essa atividade.
Na prática, a Logística Reversa caracteriza-se pela coleta e encaminhamento à reciclagem (ou outra destinação ambientalmente adequada) de produtos e seus resíduos após o consumo e descarte do consumidor final.
Foi somente a partir da Década de 90 que esse conceito começou a ser discutido e implementado por algumas empresas no Brasil, ainda de forma incipiente; iniciando com o recolhimento de embalagens de agrotóxicos, lixo hospitalar, medicamentos e embalagens de produtos químicos.
Com o crescimento do conceito da “sustentabilidade” nas empresas e da conscientização da população, outros produtos foram incluídos nessa lista, como lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias, componentes eletrônicos, embalagens plásticas, entre outros.
A legislação vigente sobre a Logística Reversa
No Brasil, a Resolução Nº 7.404, de 2010, implementou as normativas para a Logística Reversa, criando o PGRS – Programa de Gestão de Resíduos Sólidos, e através da Lei 12.305 de 2010, introduzida através do PNRS – Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que trata dos procedimentos e processos de retorno e destinação dos produtos e embalagens da Cadeia Produtiva.
Empresas que produzem os seguintes produtos devem ter canais de logística reversa por Lei no Brasil:
– Agrotóxicos;
– Pilhas e baterias;
– Pneus;
– Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
– Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
– Produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
A logística reversa – cadeia do frio
A logística reversa na cadeia frigorífica é uma área específica da gestão da cadeia de suprimentos que se concentra no retorno de produtos, materiais e embalagens da ponta de consumo, de volta ao ponto de origem ou a outros destinos apropriados. Na cadeia frigorífica, que engloba o transporte, armazenamento e distribuição de produtos perecíveis e refrigerados com temperatura controlada, a logística reversa desempenha um papel crucial em garantir a eficiência operacional, reduzir desperdícios e minimizar impactos ambientais.
Para a Cadeia do Frio, a Logística Reversa tem alguns componentes adicionais, que podem ser considerados como “pós-consumo”, pois são perecíveis, com prazos de validade controlados, produtos não comercializados por questões de qualidade assegurada (condições de temperatura, embalagens danificadas ou defeituosas, condições inadequadas de transportes e distribuição), que, de alguma forma, são devolvidos aos seus produtores/fabricantes para análise de reaproveitamento ou mesmo destinação adequada para descarte.
A Legislação para o Mercado Frigorificado – Cadeia do Frio
O que se observa no mercado logístico, incluindo aí o segmento frigorificado, é que Embarcadores, Operadores Logísticos, Armazéns Gerais e Empresas de Transportes avaliam a melhor forma de desenvolver essa atividade considerando a complexidade dos processos necessários para sua implementação.
Para o Segmento da Industria Farmacêutica que atua com temperaturas controladas na armazenagem, nos transportes e na distribuição dos seus produtos, o desenvolvimento da logística reversa na estrutura da Cadeia do Frio foi um dos setores mais impactados na adequação e na capacitação dos seus procedimentos, em razão da movimentação e operacionalização de produtos com temperatura variadas (vacinas, insumos e medicamentos etc.) que necessitam de um controle diferenciado, inclusive no processo da distribuição reversa.
Há de se destacar que a implementação da Logística Reversa para a Cadeia do Frio requer atividades diferenciadas na sua infraestrutura operacional, quando comparada a outros segmentos:
Infraestrutura necessária para operacionalização
– Centros de Distribuição preparados para receber os produtos retornáveis;
– Áreas de Triagem e Armazenagem especificas para acondicionamento dos produtos;
– Controle de Qualidade Assegurada responsável pela movimentação dos produtos;
– Transportes Frigorificados Especializados (rastreamento e monitoramento de cargas);
– Equipe Administrativa responsável pela tramitação documental das respectivas cargas devolvidas;
– Sistemas informatizados integrados aos sistemas do fluxo normal de distribuição;
– Treinamento e conscientização das equipes que irão operacionalizar tais processos.
Atividades operacionais dentro da Cadeia de Abastecimento (Supply Chain)
Atividades necessárias que necessitam ser desenvolvidas para que se possa obter a maior eficiência junto aos processos relacionados à logística reversa.
Manuseio de produtos retornados
– Defeitos/danificados
– Estoques sazonais
– Revendas/reposição
– Produtos vencidos
– Balanceamento de estoques
Reciclagem e reutilização
– Reutilização de materiais
– Produtos remanufaturados
– Reprocesso e restauração
– Descarte de produtos
Gestão & Controle de Resultados
Muito embora todos esses aspectos possam sugerir um aumento de custos operacionais nas empresas, verifica-se que os custos da Logística Reversa podem ser minimizados através do reprocessamento dos materiais retornáveis.
Para que isso possa ser viável são necessários estudos e avaliações das atividades-fim de cada empresa, de tal forma que não se perca a sua qualidade ou capacidade produtiva.
Com ações planejadas, busca-se otimizar a lucratividade e a economia de recursos, criando um balanceamento econômico nos resultados das empresas.
Mercado – Como está o desenvolvimento da Logística Reversa
No Brasil, o que se observa é que, ainda, a maior quantidade de material pós consumo acaba por ir para os aterros e lixões públicos. Podemos verificar que o país tem um desempenho pífio se considerarmos os dados obtidos recentemente:
– No Brasil, estima-se que 5,5% dos Custos Logísticos sejam destinados a logística reversa;
– O Brasil recicla somente 6,5% do seu potencial bruto de produtos;
– Possui credenciadas 1.900 Cooperativas de Catadores de produtos recicláveis. Essas Cooperativa estão em 1.200 Municípios dos 5.750 existentes no País;
– Somente 37% do papel produzido vai para o processo de reciclagem;
– Materiais como vidro têm reaproveitamento, pelas indústrias produtoras, que não chega a 40%;
– Latas de alumínio atualmente representam o maior volume de reciclagem, cerca de 97%;
– De acordo com levantamento do Business Insider, em torno de 25% a 30% das vendas de e-commerce são devolvidas, ao passo que para lojas físicas é da ordem de 9%;
– Segundo dados coletados pelo Jornal 24 Horas, o país é responsável por gerar 79,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Somente 3% deste total é reciclado.
– Estima-se que o Brasil atualmente perde cerca de R$ 8,0 bilhões anualmente com materiais que poderiam ser reprocessados ou remanufaturados.
Podemos concluir que a logística reversa desempenha um papel fundamental na cadeia logística frigorificada, ajudando as empresas a lidar de forma eficaz com os desafios relacionados ao retorno de produtos e materiais, enquanto promovem práticas sustentáveis e ambientalmente responsáveis.
Pesquisas & Créditos para que esse artigo fosse elaborado:
MMA – Ministério do Meio Ambiente
An Examination of Revival Logistics (Dale S. Rogen/Ronald Tibben-Lemke)
Logística Reversa – Meio Ambiente/Produtividade (Carla Fernanda Muellen)
A Logística Reversa (Prof. Paulo Roberto Leite)
Jornal 24 Horas/Business Insider