O mercado vive de lançar novas tendências. Mas nem todas as novidades são positivas. Um termo em inglês está ganhando espaço na mídia nos últimos meses como uma nova atitude do universo empresarial. No entanto, embora a nomenclatura seja recente, a prática já acontece. O quiet quitting, demissão silenciosa, é quando o profissional limita a suas tarefas e produção estritamente ao necessário, o suficiente para mantê-lo na função, sem vestir a camisa.
Na logística, usamos muito os KPIs, indicadores-chave de desempenho. Agora estou olhando com muito carinho para indicadores-chaves de pessoas, para observar o que acontece com essas pessoas no dia a dia. Com esses indicadores é possível observar quando as pessoas da sua equipe mostram falta de motivação, de presença e entregas inconstantes. A empresa precisa ter ferramentas para se aproximar das pessoas e para que as pessoas se aproximem da empresa.
De modo geral, as companhias que estão mais vulneráveis a essa falta de engajamento são as que ainda mantêm grande percentual das pessoas em home office. Por isso os indicadores-chave de pessoas são importantes na rotina da gestão. Em grandes empresas, com mais de 500 funcionários, esse movimento é mais perceptível. Se o gestor estiver próximo, com um olhar diferenciado em relação às pessoas, ele vai conseguir identificar o problema.
Via de regra, a razão é financeira, mas existem duas possibilidades. Uma delas é que o jovem profissional de hoje não tem mais pretensões de permanecer longos períodos na empresa, como acontecia há 15 anos, está muito suscetível a mudanças e enxerga motivos para sair em diferentes situações. A outra possibilidade é relativa à empresa, quando o funcionário não vê perspectivas de crescimento ou a empresa não tem a atratividade que ele procura, portanto, ele perde a motivação.
Nesses casos, é preciso uma avaliação dos Recursos Humanos com o gestor, para tentar entender porque o movimento está acontecendo e buscar alternativas para engajar o profissional. Embora seja um grande movimento midiático, a demissão silenciosa não é exatamente uma preocupação nas empresas. O quiet quitting acontece há algum tempo e hoje está tendo publicidade porque algumas empresas não sabem como lidar com isso.
O maior impacto na saúde financeira da companhia é o aumento do turnover, que no Brasil já é alto, varia entre 10% e 30%, e isso custa treinamento e recontratação, entre outros aspectos. Mesmo que esse impacto não seja expressivo, a empresa precisa cuidar das pessoas para evitar a falta de engajamento. E jamais adotar respostas como o quiet firing, outra nomenclatura que vem ganhando a mídia e que significa estimular o funcionário a pedir demissão, a conhecida “fritura”.
Quando o trabalhador não atende à empresa, não importa o comportamento, o gestor precisa atuar para trazê-lo para dentro da curva. Não pode haver uma dinâmica de “quiet firing”. Todo gestor tem uma relação com seus funcionários em uma curva dos melhores para os piores. Isso deve nortear a gestão. É possível reverter essa curva para ter mais melhores que piores, identificando comportamentos nocivos e atuando para repará-los.
Horários mais flexíveis, ambientes de trabalho mais leves e soltos, tudo isso deve fazer parte das regras de convivência entre empresas e funcionários, que é como uma convivência familiar. Se a empresa não mantiver princípios básicos para uma relação saudável, não haverá funcionários estimulados e a empresa também não vai ser estimulante. Existem muitos formatos para isso e ferramentas que trazem resultados. Tudo é questão de gestão.