*por Thomas Gautier
Temos um grande poder em nossas mãos. Pelo tamanho do Brasil e sua diversidade de recursos naturais, nossa indústria é fundamental para a transformação sustentável no mundo inteiro. Na mineração, por exemplo, produzimos ao menos 11 matérias-primas consideradas estratégicas para a transição energética em diversos setores – inclusive lítio, essencial para as baterias de carros elétricos. No caso do minério de ferro, podemos ajudar a suprir a demanda global pelo produto com alto teor de pureza, que polui menos no processamento siderúrgico.
O cenário é tão positivo que, diante do maior investimento que o setor de mineração planeja fazer em uma década (US$ 50 bilhões previstos entre 2023 e 2027, atualmente cerca de R$ 250 bilhões), tem gente acreditando que os números possam dobrar futuramente. Em inovação, estamos avançados neste debate. Uma pesquisa divulgada em 2023 pela Federação das Indústrias de Minas Gerais identificou 42 startups no mundo com foco em mineração sustentável – pouco mais da metade é brasileira.
Embora dentro das minas se concentrem incalculáveis oportunidades de inovação, precisamos pensar do lado de fora delas: tudo o que acontece de sua saída até os portos e outros destinos. Um levantamento da Fundação Dom Cabral, publicado no ano passado, indica que o custo de transporte no setor minerador, em diferentes modais, representou o correspondente a 26,1% do faturamento bruto das empresas. Simplesmente, mais que o dobro da média de ao menos outras treze indústrias.
O transporte rodoviário, responsável por cerca de 60% das cargas transportadas no país, é uma das peças-chave para fazer a roda girar de maneira mais sustentável e eficiente. Ao lado de processos de extração mineral mais inteligentes, a logística tem força para impulsionar um desenvolvimento ainda maior das companhias mineradoras no Brasil.
Com inteligência de dados, é possível ajudar empresas a reprogramar a jornada completa do caminhoneiro, obtendo ganhos de performance e diminuindo os altos custos com a logística. Os dados devolvem o protagonismo do transporte às organizações, sendo mais fácil identificar onde há ineficiências do frete que comprometem a competitividade – e, assim, corrigir os rumos. Na prática, organizações que otimizam rotas conseguem agilizar prazos de entrega, reduzir gastos de combustível e facilitar o cumprimento de metas ambientais, que são sensíveis nesta área.
Além de tecnologias que proporcionam maior segurança, a inovação permite ao caminhoneiro se planejar melhor e rodar menos tempo vazio em busca de novas cargas. Esse processo simplificado diminui o trânsito extra nas rodovias, o desgaste dos veículos e dos próprios profissionais – o que ajuda a promover melhores práticas com foco nas pessoas. Tudo isso sem contar o potencial de redução de custos do frete.
A partir dos dados, a logística se torna mais personalizada. Com base nas informações geradas em tempo real, as empresas contratam em modo acelerado motoristas dispostos a percorrer os trajetos que conhecem e que já estão acostumados a carregar determinadas matérias-primas. Profissionais experientes no setor de mineração, que agilizam e simplificam os processos, fazendo ainda mais diferença no trabalho nas minas.
Se a mineração brasileira tem o potencial de apoiar a transição energética no mundo, precisa pegar carona com a logística para juntos chegarmos até lá.
*Thomas Gautier tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021. O executivo iniciou sua carreira na França e tornou-se CFO da Repom, no Brasil, em 2013. Em 2017, virou diretor-geral da Repom e, em 2018, passou a ser Head de Logística do Grupo Edenred, quando, em sua gestão, o Freto nasceu.