A escalada do conflito no Oriente Médio acende um sinal de alerta no agronegócio brasileiro. Embora um cessar-fogo tenha sido anunciado entre Irã e Israel, a participação dos Estados Unidos e a continuidade das tensões mantêm a instabilidade geopolítica elevada. O mercado segue sensível a qualquer mudança na região, com efeitos diretos para a cadeia agropecuária nacional.
Mesmo a milhares de quilômetros dos ataques, o agronegócio brasileiro já sente impactos. A alta do petróleo pressiona custos de produção e transporte, enquanto a cadeia de fertilizantes, ainda em recuperação após a guerra na Ucrânia, enfrenta incertezas de fornecimento. Crescem também os riscos logísticos e as incertezas nas exportações de grãos, com fretes internacionais mais caros.

Alta do petróleo afeta frete e insumos agrícolas
O Irã possui a 3ª maior reserva de petróleo do mundo, segundo a EIA (Administração de Informação de Energia). Qualquer ameaça à produção ou exportação iraniana impacta os preços globais do petróleo, com reflexos imediatos nos custos de frete, energia e fertilizantes nitrogenados.
O barril do Brent superou US$ 75 nas últimas semanas, elevando o custo do combustível marítimo (VLSFO), altamente correlacionado ao petróleo bruto. Isso aumenta os custos logísticos e, consequentemente, o preço final de insumos agrícolas importados, como fertilizantes e defensivos.
Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro, alerta: “O aumento do petróleo encarece o transporte, eleva o custo de toda a cadeia produtiva e pressiona o produtor rural brasileiro em várias frentes”.

Dependência de fertilizantes do Irã preocupa setor
O Irã responde por cerca de 20% da ureia importada pelo Brasil e tem produção anual entre 9 e 10 milhões de toneladas, participando com 4% da oferta global. Apesar da participação modesta mundialmente, seu volume é crucial para o Brasil, altamente dependente de fertilizantes nitrogenados importados.
Além da alta do petróleo e gás natural — matérias-primas para amônia e ureia — há risco de interrupção logística, já que o Irã exporta por portos de Omã e Emirados Árabes Unidos, que também podem ser afetados por eventuais bloqueios.
“Um cenário de bloqueio no Estreito de Ormuz ou em portos alternativos pode restringir acesso a insumos vitais. O Brasil precisa repensar sua segurança agroalimentar”, alerta Jordy. Ele completa: “O estreito é via crítica para transporte de gás natural, ureia e amônia. Um bloqueio parcial pode gerar efeito dominó nas rotas, atrasando embarques e elevando custos”.

Exportações brasileiras podem perder ritmo
O Irã é o 7º maior importador de milho no mundo e um dos principais destinos do cereal brasileiro, além de comprar cerca de 1 milhão de toneladas de soja do Brasil. A continuidade dos conflitos, com danos em infraestrutura portuária ou novas sanções, pode limitar essas exportações, provocando sobreoferta interna.
“Com supersafra no Brasil, grandes volumes também vindo de Argentina e EUA, e risco de perder um comprador importante, o resultado pode ser pressão nos preços e margens mais apertadas ao produtor”, finaliza Jordy, da Biond Agro.










