A Black Friday deixou de ser apenas uma data promocional para se consolidar como um período que pressiona toda a cadeia logística nacional. Em 2024, o e-commerce brasileiro faturou mais de R$ 200 bilhões, enquanto a projeção para 2025 chega a R$ 234 bilhões, segundo a Edrone. Além disso, a Black Friday de 2023 movimentou R$ 7,1 bilhões em apenas três dias, com crescimento de 16% no volume de pedidos, conforme dados da Neotrust. Esse cenário reforça a sobrecarga sobre o transporte rodoviário de cargas, responsável por 62% da movimentação no país.
Os custos vêm aumentando de maneira consistente. O Instituto ILOS estima que a logística consumiu R$ 940 bilhões em 2024, o equivalente a 15% do PIB. Embora o transporte rodoviário tenha registrado expansão de 6,6% nos fretes em comparação a 2023, os reajustes continuam insuficientes diante da elevação dos insumos. Segundo a NTC/Logística, a defasagem média no valor do frete permanece em 15,3%, sendo 12,6% na carga fracionada e 17% na carga lotação.

Esse desequilíbrio, somado à demanda mais intensa no fim do ano, faz com que o custo do frete expresso aumente até 30% em períodos como novembro e dezembro, de acordo com a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL). A pressão é ainda maior na última milha, que pode representar até 40% do custo total durante os picos de vendas.
“A Black Friday é uma oportunidade para vender mais, mas também um enorme desafio para entregar bem. Quem não planeja com antecedência paga mais caro e corre o risco de perder clientes. O frete mal dimensionado corrói margens e afeta a reputação da empresa”, afirma Célio Martins, gerente de novos negócios da Transvias.
Interiorização do consumo e impactos no transporte
A interiorização do e-commerce amplia outros gargalos. Conforme a Neotrust, 35% das compras online realizadas em 2024 vieram de cidades fora das capitais. Para atender essa demanda crescente, transportadoras recorrem com mais frequência ao redespacho em centros regionais. A Transvias destaca que essa prática otimiza distâncias e prazos. “Hoje não basta pensar no grande centro; é preciso atender a nova demanda do interior. O redespacho deixou de ser custo extra e virou investimento em eficiência”, afirma Martins.
Agronegócio e disputa por caminhões
Além da alta do e-commerce, setores como o agronegócio também impactam diretamente a malha rodoviária nos meses de novembro e dezembro. O escoamento das safras eleva a disputa por caminhões. A Conab registrou que, em 2024, o frete agrícola subiu 39% no Piauí, 26,8% no Maranhão e até 20% no Paraná. Assim, quando esse movimento coincide com o pico do varejo digital, o efeito é uma intensificação da elevação dos custos logísticos.
Projeções para a logística brasileira
Mesmo com os desafios, as perspectivas são de crescimento. A Mordor Intelligence projeta expansão anual de 4,3% no mercado de logística até 2029. Já estudo da CartaCapital aponta que o setor como um todo pode avançar 23% até 2029, impulsionado pela digitalização, automação e pelo próprio e-commerce.
“A solução está em tecnologia e planejamento. Diversificar transportadoras, usar roteirização inteligente e adotar plataformas digitais de cotação ajudam a reduzir custos e garantir eficiência em épocas de pico”, reforça Martins.









