A automação logística brasileira patina sobretudo pela ausência de planejamento. Em uma amostra de 554 profissionais de empresas de diferentes portes e ramos, 61% afirmaram que a falta de estratégia e de planos estruturados é o principal entrave para implantar soluções tecnológicas. Outros 29% mencionaram a escassez de mão de obra qualificada, enquanto 9% responsabilizam fornecedores despreparados e apenas 1% citou a diversidade tecnológica como obstáculo. Esses dados integram a Pesquisa Visão 360º na Supply Chain, apresentada por Sidney Rago, diretor e head de Estratégias e Performance da IMAM Consultoria, durante a INTRA-LOG Expo South America, realizada em São Paulo, de 23 a 25 de setembro.
O levantamento, que traça um retrato abrangente da logística e da intralogística, revela também quem está por trás das respostas: 30% gerentes, 30% analistas, 28% supervisores e coordenadores e 12% executivos C-Level. Esse equilíbrio entre níveis hierárquicos reforça a consistência da amostra e amplia a representatividade das conclusões.

Entre os setores que mais demandam investimento em tecnologia, gestão de estoques lidera com 35%, seguida de transporte e roteirização (32%) e armazenagem e intralogística (26%). Inteligência artificial aparece de forma incipiente, com apenas 7%, demonstrando que, apesar do debate crescente, a adoção da IA ainda é limitada. “Os maiores custos logísticos concentram-se justamente no transporte e nos estoques, que podem responder por até 70% das despesas da operação”, observou Rago ao apresentar os números.
As motivações para investir em tecnologia também reforçam o pragmatismo do setor. Retorno sobre o investimento é a força predominante, citada por 58% dos entrevistados, enquanto 32% veem nos gargalos e operações travadas o gatilho para acelerar a automação. Fatores como pressão da concorrência ou baixo nível de investimento ficaram em apenas 5% das menções. “A decisão de investir continua sendo fortemente financeira e orientada à necessidade imediata de manter a operação fluindo”, avaliou o executivo.
Na dimensão da excelência operacional, a pesquisa identificou que 43% dos profissionais escolheriam logística e supply chain como área prioritária de melhoria, seguidos de planejamento e controle (29%) e produção e operações (18%). A falta de conhecimento técnico, apontada por 46%, é a maior barreira para o avanço de processos, seguida de liderança não engajada (27%) e resistência das equipes (18%). Apesar disso, práticas de gestão já começam a se consolidar: 33% relatam reuniões de gestão da rotina bem estruturadas, 27% trabalham com gestão à vista e indicadores e 25% aplicam programas de melhoria contínua, como o 5S.
O estudo vai além ao investigar quais fatores são mais determinantes para alcançar excelência operacional. Processos bem definidos foram mencionados por 40%, enquanto envolvimento das pessoas aparece em 30% das respostas e liderança comprometida em 25%. Apenas 5% acreditam que tecnologia e automação, sozinhas, possam garantir esse patamar. Para Rago, a mensagem é direta: “A excelência operacional é indutora da tecnologia. Sem processos robustos e liderança engajada, a automação não se sustenta”.
A Pesquisa Visão 360º na Supply Chain expõe, portanto, um desafio duplo para a logística brasileira: de um lado, planejar estrategicamente e formar equipes aptas a implementar soluções avançadas; de outro, fortalecer processos e lideranças para que a tecnologia gere resultados reais. Em meio ao crescimento do e-commerce, à demanda por entregas rápidas e à pressão por redução de custos, os números funcionam como um mapa para empresas que desejam acelerar sua jornada de digitalização e ganhar competitividade.









