Utilizar protocolos padronizados para atuação em caso de sequestro de carga ou de veículos também ajuda. Porém, é preciso equilibrar o investimento em segurança com a necessidade de manter a eficiência operacional e a competitividade.
Em um cenário logístico cada vez mais desafiador, a segurança tornou-se um fator crítico para a integridade das operações de transporte no Brasil. O país convive com altos índices de roubo de carga, especialmente no modal rodoviário, afetando desde produtos de alto valor até itens de consumo básico.
Diante desse panorama, empresas do setor têm investido em tecnologia, estratégias preventivas e capacitação de equipes para mitigar riscos e garantir a fluidez das entregas. Sistemas de rastreamento em tempo real, telemetria, bloqueio remoto e protocolos de emergência vêm se tornando aliados indispensáveis na luta contra o crime organizado. Mas a eficácia dessas medidas depende também de planejamento logístico, integração com forças de segurança pública e de uma cultura organizacional voltada à prevenção.

Modais mais afetados
Como já mencionado, o modal rodoviário é o maior alvo do roubo de cargas. E isto é confirmado pelos participantes desta matéria especial. “Entendemos que o modal rodoviário continua sendo o mais vulnerável, por sua ampla capilaridade e dependência nacional. As ocorrências mais frequentes envolvem abordagens armadas, falsificação de documentos e uso de motoristas com identidade ou histórico adulterado. Cargas de alto valor agregado e de fácil escoamento, como alimentos, combustíveis, eletrônicos e produtos farmacêuticos, seguem como os alvos preferenciais”, explica Kelly Cossiaki, CEO da Global 5 – Gerenciadora de Riscos.
Eulálio Toledo, gerente de riscos da IBL Logística, também destaca que as ocorrências mais comuns envolvem assaltos em áreas urbanas e periurbanas, interceptações em rodovias com baixa fiscalização, uso de bloqueadores de sinal (jammers) e falsos bloqueios policiais. “As cargas mais visadas incluem produtos fracionados, alimentos, eletrônicos, minérios e cigarros, devido à facilidade de revenda e dificuldade de rastreamento.”
Considerando que a nossa malha rodoviária é responsável pela movimentação de mais de 60% das mercadorias, Antoni Giorgi da Silva, diretor comercial da Maxton Logistica e Transportes, destaca que as ocorrências de roubo estão concentradas em três tipos principais: Primeiro, roubos a mão armada com utilização de veículos furtados e equipamentos que bloqueiam sinais de satélite (jammers). “Este tipo de roubo é o mais perigoso e traumático para o motorista, pois na grande maioria das vezes o levam como refém e, enquanto a carga não é descarregada, ele não é liberado. O uso de força e pressão psicológica sobre o motorista é imenso.”
O segundo tipo envolve os saques de carga em acidentes ou congestionamentos. Esta modalidade está se tornando cada vez mais frequente. “Os criminosos perderam o escrúpulo e violam veículos em plena luz do dia, observam o que tem dentro do caminhão e, se não interessar, deixam passar. Se for produto visado, aí a ‘farra’ está feita: jogam a carga no chão, deixam baú aberto e fazem uma bagunça só. O mesmo acontece com o saque da carga acidentada.”
Terceiro, furtos simples, que ocorrem quando o veículo precisa abastecer ou quando o motorista faz refeição ou descanso. “Criminosos oportunistas violam os caminhões e retiram poucas mercadorias, o que já causa transtorno na viagem para o motorista. Além disso, este tipo de furto também está relacionado ao roubo de peças do caminhão, especialmente módulos eletrônicos que têm alto valor agregado. Com o aumento de veículos mais novos e tecnológicos, este tipo de ocorrência está se tornando cada vez mais frequente”, completa Giorgi.
Tido como um dos principais desafios da logística, as cargas fracionadas são líderes nos índices de roubo de cargas – seja por interceptação de veículo, furto de carga estacionada e quadrilhas organizadas –, ao passo que, devido à diversidade de produtos transportados nessas rotas, os responsáveis arcam somente com o espaço útil do caminhão, deixando as cargas mais suscetíveis aos atos criminosos.
No entanto, prossegue Stephano Galvão, diretor de Operações da Norcoast, as cargas de fácil escoamento e alto valor agregado são mais prejudicadas, sendo eles produtos alimentícios, eletrônicos, componentes, produtos de higiene e limpeza, cigarros, medicamentos e têxteis.
Daniela Cunha, Key Account Manager da Ruedata Brasil, também destaca que os principais tipos de ocorrências são o roubo da carga, que atingiu, entre São Paulo e Rio de Janeiro, o patamar de 10.275 ocorrências em 2024. Em segundo lugar, estão as apreensões de armas, diretamente correlacionadas ao roubo. São Paulo somou 14.220 apreensões em 2024, seguido do Estado de Minas Gerais com 12.384 registros. Vale citar que as cargas fracionadas e produtos como alimentos, higiene, limpeza, cigarros e eletrônicos são os principais alvos das quadrilhas.
“Majoritariamente, os grupos criminosos utilizam armas de alto calibre e são sempre muito bem organizados – talvez esse seja um dos motivos do por que o índice de recuperação da carga seja muito baixo – em média não chega a 10% ao ano”, diz Daniela. Ainda de acordo com ela, os desvios da carga por parte de motoristas e transportadores também se classificam nesse tipo de ocorrência.
Tecnologias
O roubo de cargas é um crime especializado e organizado e precisa ser combatido com uma composição de tecnologias e um bom serviço de monitoramento. O direcionamento da tecnologia depende do contexto que envolve algumas variáveis, como trajeto, valor agregado da carga etc.
Ainda de acordo com Gustavo Rocha, CEO da Gestão Segura, as tecnologias mais utilizadas são o rastreador GPRS com redundância e com dispositivo anti-jammer, bloqueadores de violação, rastreamento via satélite ou radiofrequência, iscas de carga, câmeras embarcadas, RFID (identificação por radiofrequência) e dispositivo de controle de jornada do motorista. Tudo isso associado a um bom serviço de gestão de risco, monitoramento e até escolta armada.
Acompanhando a evolução das tecnologias voltadas para rastreamento, monitoramento e resposta a roubos de cargas, Michael Bogajo, Head de Risco e Prevenção à Fraude da Frete.com, vê uma intensificação de treinamentos dos motoristas, análise preventiva de riscos aliadas ao uso de rastreabilidade em tempo real, Inteligência Artificial (IA) e integração de dados em plataformas.
Entre elas, Bogajo destaca, principalmente:
Rastreamento via GPS com telemetria avançada: essa tecnologia continua sendo o pilar da segurança.
Integração com Inteligência Artificial: a IA tem sido usada para analisar padrões de rotas, horários e perfis de motoristas, prevendo possíveis situações de risco antes que elas aconteçam. Em muitos casos, as decisões operacionais são tomadas automaticamente para mitigar esses riscos.
Câmeras embarcadas e videomonitoramento com reconhecimento facial: equipamentos instalados na cabine ajudam a identificar tentativas de sequestro do motorista ou troca de condutores. O reconhecimento facial é integrado com bases de dados para verificar se o motorista autorizado está ao volante.
Integração com o Sinesp e bancos de dados da PRF: muitas empresas de rastreamento integram suas plataformas com o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) e com sistemas da Polícia Rodoviária Federal, otimizando o tempo de resposta em casos de roubo.
Anderson Hoelbriegel, diretor de negócios na ICTS Security, também pontua que o GPS é o recurso mais usado, por mostrar a localização em tempo real, identificar desvios de rota e facilitar a recuperação da carga em caso de roubo. “Já o GPRS garante que essas informações cheguem de forma contínua à central de monitoramento, permitindo uma resposta rápida. Quando o GPS falha, como em túneis ou galpões fechados, a radiofrequência (RF) entra em ação, rastreando a carga mesmo em locais de difícil acesso.”
A telemetria monitora temperatura, umidade, impacto e até o comportamento do motorista, ajudando a detectar riscos antes que virem problemas, diz Hoelbriegel.
O RFID também é muito útil, ainda segundo ele, especialmente no controle de estoque. Com ele, é possível rastrear produtos e contêineres com precisão e detectar movimentações suspeitas sem precisar de linha de visão.
Uma estratégia discreta e eficaz é a isca de carga: pequenos rastreadores escondidos dentro da mercadoria que continuam enviando sinais mesmo se o sistema principal for desligado, facilitando a recuperação.
E, para reforçar tudo isso, as câmeras de monitoramento registram o que acontece dentro e fora do veículo, e em pontos estratégicos da operação. Em muitos casos, elas contam com inteligência artificial para identificar comportamentos suspeitos automaticamente.
“Usar essas tecnologias de forma integrada, com apoio de uma central especializada, transforma a segurança logística, agindo de forma mais preventiva, inteligente e eficaz”, completa o diretor de negócios na ICTS Security.
João Paulo, CEO da Mundo Seguro, é outro entrevistado a destacar que as soluções mais eficazes combinam rastreamento GPRS/Satelital em tempo real com tecnologias embarcadas. Sensores que detectam abertura de portas, desengate, variações de temperatura, ou até vibrações incomuns, disparam alertas automáticos para as centrais de monitoramento das empresas responsáveis por gerenciar risco.
Outro destaque são as cercas eletrônicas (geofencing), que permitem o bloqueio automático do veículo ao sair da rota programada. Além disso, sistemas integrados com câmeras embarcadas e torres de controle 24h permitem tomada de decisão em tempo real, o que pode ser crucial em casos de tentativa de roubo. “A inteligência artificial também tem sido usada para prever áreas de risco com base em dados históricos de ocorrências, otimizando o planejamento de rotas.”
Além das tecnologias tradicionais, baseadas em GPS, internet e redes celulares, as soluções de rastreamento por IoT via satélite vêm se tornando uma alternativa cada vez mais eficaz, principalmente em regiões remotas, acrescenta Oscar Delgado, diretor de vendas da Myriota para a América Latina.
Essas soluções permitem que os dispositivos coletem dados periodicamente em áreas com zonas rurais ou ao longo de rotas secundárias. Esses dados, que incluem localização da carga, paradas inesperadas e detecção de impactos, ajudam a identificar desvios e gerar alertas. “O envio periódico de informações é suficiente para prevenir roubos, permitir respostas em casos de incidentes e aumentar a rastreabilidade das operações logísticas”, acrescenta Delgado.
Integração
Ao responder à questão como as transportadoras estão integrando ferramentas como geolocalização, telemetria e bloqueio remoto aos seus sistemas logísticos, Kelly, da Global 5, diz que elas estão investindo em tecnologias integradas de monitoramento que conectam sistemas de rastreamento via GPS com telemetria embarcada, permitindo acompanhar o comportamento de motoristas, desvios de rota, paradas não programadas e excesso de velocidade em tempo real. “Na prática, temos observado um movimento de modernização acelerada no setor.”
De fato, Giorgi, da Maxton, aponta que os sistemas de rastreamento estão evoluindo dia a dia, tendo uma atuação autônoma, identificando jammers nas redondezas e aplicando ações de autobloqueio e outras medidas para diminuir os roubos. Já as gerenciadoras de riscos estão cruzando ocorrências e trocando informações para identificar padrões dos roubos e regiões críticas, de modo a atuar de forma preditiva. “Acredito que a utilização de IA embarcada em um futuro próximo irá auxiliar de forma preditiva para diminuir as ocorrências.”
Aparecido de Brito Costa, gerente de implantação da Maxtrack, lembra que ferramentas como geolocalização, telemetria e bloqueio remoto, que antes eram vistas como diferenciais, hoje se tornaram praticamente indispensáveis para quem atua no transporte, pois a agilidade na tomada de decisão em situações cotidianas pode aumentar a taxa de efetividade em evitar sinistros na operação.
Neste caso, as transportadoras podem buscar ferramentas e tecnologias capazes de contribuir para a prevenção de casos em suas operações, especialmente com os avanços no gerenciamento de dados em tempo real, telemetria e vídeo monitoramento apoiado por inteligência artificial.
Para as transportadoras, o uso dessas tecnologias representa um avanço não só na proteção das cargas, mas também no aprimoramento do setor como um todo. “Elas contribuem para reduzir os índices de sinistro, aumentam a confiança dos clientes, melhoram a reputação da transportadora e criam um ambiente mais seguro e eficiente para toda a cadeia logística”, completa Costa.
Mas, quando se fala de integração entre as tecnologias, é preciso ter em mente que hoje existem mais de 60 tecnologias envolvidas nesse contexto e que conectar tudo isso exige uma estrutura eficiente e confiável, alerta, por seu lado Daniela, da Ruedata.
Até há alguns anos, os sistemas logísticos estavam praticamente restritos aos embarcadores e buscavam ferramentas que pudessem auxiliar na gestão dos insumos e, desta forma, acompanhar de perto as linhas de produção, ao evitar desperdício de produtos, ou a falta deles, otimizando as fábricas. Para que as informações fossem mais precisas, os transportadores precisavam transmitir o sinal do GPS da tecnologia de rastreamento embarcada para o sistema logístico do embarcador.
Hoje, as transportadoras também se beneficiam das ferramentas logísticas, criando suas “Torres Logísticas, Control Tower e Centro de Operações”, entre outros nomes. Em paralelo, cada vez mais, grandes embarcadores estão preocupados com sua corresponsabilidade na segurança do transporte e passaram a exigir, além dos rastreadores, tecnologias voltadas à prevenção de acidentes, como telemetrias, câmeras de fadiga (ADAS e DSM), contingências e bloqueios inteligentes, e não mais somente sob a ótica do roubo de carga.
Neste caso, diz a Key Account Manager da Ruedata, os benefícios são muitos, como monitoramento em tempo real, segurança, otimização das rotas e a condição do veículo (consumo de combustível, temperatura do motor, desgaste de pneus, etc.). No caso da telemetria, é importante ressaltar que ela vai além da localização, pois permite a coleta uma grande variedade de dados do veículo e do motorista por meio de sensores e do sistema eletrônico do caminhão.
A integração dessas ferramentas cria um ecossistema poderoso para as transportadoras e embarcadores, o que gera vantagens como, além de maior segurança, rastreamento em tempo real, combinado com alertas de telemetria (como desvios de rota ou comportamentos de risco), permitindo uma resposta rápida a emergências. Em casos de roubo, a geolocalização exata do veículo é a principal ferramenta para a recuperação da carga e do caminhão.
“Eu mencionaria, ainda, a redução de custos operacionais (telemetria ajuda a identificar motoristas que consomem mais combustível ou que dirigem de forma agressiva), a manutenção preditiva (baseada nos dados do veículo, evita quebras inesperadas e prolonga a vida útil da frota) e bloqueio remoto – em emergências, como o roubo, o bloqueio remoto é essencial. Após a confirmação da ocorrência, o gestor de frotas pode enviar um comando para o rastreador que desativa a ignição do veículo, impedindo que ele se mova e facilitando sua recuperação”, finaliza Daniela.
Por seu lado, Galvão, da Norcoast, lembra que, com o intuito de aprimorar a segurança, rastreabilidade e eficiência operacional, estas ferramentas estão sendo implementadas por meio de plataformas integradas.
Em resumo, as transportadoras utilizam sensores e dispositivos instalados nos veículos para coletar dados. Estes são enviados para uma plataforma central, em que são processados e analisados. Acessada por meio de sistemas web ou aplicativos, as plataformas, comumente em nuvem, permitem que os gestores monitorem a frota em tempo real e tomem decisões precisas.
Erros
Os principais erros cometidos por empresas no transporte rodoviário de cargas, que acabam aumentando a vulnerabilidade a furtos e assaltos, geralmente estão ligados à falha na gestão de risco, negligência operacional e uso inadequado de tecnologia, explica Bogajo, da Frete.com. Ele cita alguns exemplos:
Divulgação de fretes e cargas em redes sociais e WhatsApp: com o avanço da tecnologia tornou-se habitual a divulgação de cargas e fretes via redes sociais e WhatsApp. Geralmente, quando os fretes são contratados dessa forma, não há nenhuma verificação das partes envolvidas, aumentando risco de golpe para ambos os lados.
Contratação de motoristas e agregados sem a devida checagem e validação: o uso de motoristas sem um processo rigoroso de validação, inclusive cruzamento com bases de dados e verificação de histórico profissional, ainda é comum. Ausência de sistemas de rastreamento e monitoramento em tempo real: surpreendentemente, muitas pequenas e médias transportadoras ainda operam sem rastreamento ativo ou com soluções desatualizadas. Sem visibilidade em tempo real, a resposta a incidentes é praticamente nula.
Já na opinião de Rocha, da Gestão Segura, o principal risco é padronizar a tecnologia, independente da carga e do trajeto. “A tecnologia deve ser aplicada conforme o modus operandi do crime. Não adianta utilizar a mesma aplicação de uma carga de eletrônicos para uma carga de alimentos. Cada quadrilha tem a sua característica de atuação e esse entendimento talvez seja o mais importante no combate aos furtos e assaltos.”
Outro erro comum é o planejamento ineficiente das rotas. Quando a empresa não considera fatores como áreas de risco, trânsito ou pontos de parada seguros, acaba tornando os trajetos previsíveis e facilitando a ação de criminosos. Na ótica de Hoelbriegel, da ICTS Security, a falta de um planejamento logístico detalhado também agrava o problema, gerando improvisos, aumento de custos e falta de medidas preventivas.
Outro ponto crítico é não contar com monitoramento em tempo real. Sem visibilidade constante da carga, a empresa perde a chance de identificar anomalias e agir rapidamente diante de incidentes. Isso se soma à subutilização da tecnologia, quando ferramentas modernas, como rastreadores inteligentes, IA e telemetria, não são adotadas ou são usadas de forma limitada, e a operação fica defasada e vulnerável.
Mesmo quando a tecnologia está presente, a falta de integração entre sistemas e equipes pode comprometer tudo, alerta o diretor de negócios da ICTS Security. Sem comunicação fluida entre motoristas, monitoramento e gestão, decisões importantes se atrasam, abrindo brechas de segurança. Além disso, não acompanhar indicadores de desempenho relacionados à segurança impede que a empresa avalie o que está funcionando e onde precisa melhorar.
A previsibilidade é um erro comum segundo João Paulo, da Mundo Seguro: rotas repetidas, horários fixos e paradas sempre nos mesmos locais. Isso facilita a ação de quadrilhas especializadas, principalmente próximo a regiões metropolitanas.
Além disso, muitas empresas negligenciam a qualificação dos motoristas, não utilizam checklist de segurança e terceirizam o transporte sem avaliar o histórico do profissional ou da transportadora subcontratada. Outro ponto crítico é operar sem sistemas ativos de rastreamento ou deixar equipamentos inoperantes por falta de manutenção. Por fim, completa o CEO da Mundo Seguro, muitas vezes, os departamentos logístico e comercial não se conversam, o que leva à contratação de fretes mais baratos, mas com alto risco.
E, complementado, Delgado, da Myriota, diz que outro erro é confiar exclusivamente em apenas uma forma de conectividade sem fio (como a rede móvel, ou “conectividade celular”) para o rastreamento, o que pode comprometer a visibilidade da carga em áreas com rede móvel fraca ou inexistente de sinal.
Além disso, muitas empresas ainda não integram os dados de monitoramento para estabelecer padrões que poderiam ajudar a prever e, consequentemente, prevenir problemas – acabam atuando de forma reativa.
Treinamento
A capacitação de motoristas e equipes operacionais é essencial para a prevenção de sinistros e para uma resposta eficiente em emergências.
Os programas de treinamento devem abordar temas como direção defensiva, uso de tecnologias embarcadas, procedimentos em caso de tentativa de roubo e cuidados com a saúde do condutor. Os participantes, inclusive, podem obter certificações.
“Por outro lado, observamos que empresas que investem na qualificação de seus motoristas registram menor incidência de multas, maior confiabilidade nas entregas e até redução no consumo de combustível. Além disso, frotas com condutores certificados costumam ter acesso a condições mais vantajosas junto às seguradoras”, completa Toledo, da IBL Logística.
Giorgi, da Maxton, lembra que ninguém está preparado para o roubo, principalmente se for à força ou em acidentes. O treinamento constante ajuda a condicionar o motorista e a equipe de suporte operacional sobre como se comportar nestes casos extremos, pois situações críticas podem colocar em risco a vida do motorista que está na estrada.
Ainda para o diretor comercial da Maxton, as empresas devem investir em treinamento utilizando as gerenciadoras de riscos, a Polícia Civil e a PRF, e podem atuar em conjunto em campanhas, pois fazem parte do ecossistema e têm acesso a muitas informações. Os mesmos atuam nas ocorrências e podem contribuir com o enriquecimento do conteúdo a ser transmitido aos envolvidos e atuar de forma preditiva nas estradas.
“Desenvolver a consciência situacional permite a identificação de comportamentos suspeitos, rotas perigosas e pontos de atenção ao longo da viagem. Isso pode reduzir a necessidade de paradas desnecessárias em locais de risco, seguir os protocolos de comunicação com a central e manter a calma em situações de estresse, por exemplo”, diz o gerente de implantação da Maxtrack, ao destacar que o treinamento e capacitação são pilares importantes na prevenção e na gestão de situações de risco ou emergência no transporte de cargas. Segundo ele, profissionais bem preparados não apenas reduzem a chance de um incidente ocorrer, como também sabem agir com mais eficiência e segurança quando enfrentam uma tentativa de roubo ou outro tipo de ameaça.
“Primeiramente, é importante destacar que o treinamento deve ser visto como um investimento, e não como um custo. O valor investido em treinamentos é significativamente menor comparado às vidas envolvidas, ao valor das cargas e do patrimônio rodante, que orbitam nesse ecossistema do transporte de cargas. Já há alguns anos as empresas vêm se especializando em treinamentos direcionados às suas operações, como os de cargas químicas, de minérios, florestais, entre outros. O importante é internalizar o conceito que a segurança é a principal prioridade”, comenta, agora, Cunha, da Ruedata.
Durante o treinamento, os motoristas e equipes operacionais aprendem protocolos de comunicação, passam por simulações e preparação psicológica, tudo para que possam identificar sinais de alerta, como comportamentos suspeitos de terceiros ou áreas de risco de acidentes. Aprendem direção defensiva, análise de carregamento adequado para evitar acidentes em função do deslocamento da carga, além de acompanhamento das manutenções dos veículos, evitando problemas mecânicos durante o trajeto, como, por exemplo, mau funcionamento dos freios.
“Falando sob a ótica do roubo de carga, embora as tecnologias com seus sensores e atuadores, somadas aos integradores das empresas especializadas em gerenciamento de risco desempenhem um papel importante, eles ainda não substituem a vigilância humana. Uma equipe de gerenciamento de riscos bem preparada consegue tomar ações rápidas e eficazes, orientando o motorista, acionando as equipes de pronta resposta e até mesmo a polícia, para que ajam de forma preditiva e segura. Em caso de ameaça, a colaboração entre motorista e a equipe de segurança é crucial para uma resposta rápida e coordenada e reduz danos humanos, ambientais e materiais. E em situações de roubo concretizado, é importante que o motorista saiba como se portar, evitando confronto e colaborando com os criminosos”, diz o Key Account Manager da Ruedata.
Protocolos padronizados
Protocolos padronizados para atuação em caso de sequestro de carga ou de veículos são aplicados especialmente entre empresas estruturadas. Pelo menos é o que diz Bogajo, da Frete.com. Eles envolvem ações preventivas, monitoramento constante e resposta rápida. O motorista recebe treinamento específico, há botão de pânico no veículo e a central de monitoramento acompanha tudo em tempo real.
Se o sistema identifica desvio de rota, parada suspeita ou perda de sinal, a empresa é alertada imediatamente. Quando confirmada a ocorrência, a central aciona a polícia e, se for seguro, bloqueia o veículo remotamente.
Após o incidente, a empresa faz análise do caso, dá suporte ao motorista e ajusta seus processos. O foco principal é preservar a vida e recuperar a carga. “Empresas mais preparadas seguem esses protocolos com alto grau de eficiência — mas muitas transportadoras menores ainda falham nesse ponto”, destaca o Head de Risco e Prevenção à Fraude da Frete.com.
De fato, em situações de roubo ou sequestro de carga, cada minuto conta. Ter protocolos bem definidos, equipes treinadas e uma resposta rápida faz toda a diferença na recuperação da mercadoria e na redução dos prejuízos, também destaca Hoelbriegel, da ICTS Security.
O primeiro passo é acionar imediatamente a polícia pelo 190. Quanto mais rápida e precisa for essa comunicação com o COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar), maiores as chances de localizar o veículo. A ocorrência precisa ser registrada no sistema da polícia e, idealmente, um alerta geral deve ser enviado às viaturas da região via rádio ou tablet.
Na sequência, se a empresa tiver contrato com uma gerenciadora de riscos, ela também deve ser acionada. Essas empresas têm acesso a tecnologias específicas e contato direto com forças de segurança, o que ajuda a acelerar o processo de localização e recuperação da carga.
Outro ponto fundamental é o registro do Boletim de Ocorrência (BO), que deve ser feito o quanto antes na delegacia mais próxima. O BO é essencial para formalizar o crime e dar andamento aos processos legais, inclusive junto à seguradora. Algumas empresas contam com suporte especializado para acompanhar a vítima e garantir que o documento seja emitido de forma correta e rápida.
“Mas nada disso funciona sem treinamento constante. Motoristas, operadores e demais envolvidos precisam estar preparados para saber como agir em uma situação de risco. Simulações e instruções práticas ajudam a manter a calma, observar detalhes importantes e garantir uma comunicação clara.”
Outro fator decisivo – ainda de acordo com o diretor de negócios na ICTS Security – é a agilidade na troca de informações. Ter canais diretos e eficientes entre a empresa, a polícia e a gerenciadora de riscos é essencial. Quanto mais rápido o fluxo de dados, maiores as chances de uma resposta bem-sucedida.
A integração entre tecnologias e equipes também faz diferença. Sistemas de rastreamento conectados à central de monitoramento e às autoridades permitem visualizar a carga em tempo real e agir com mais precisão.
Por fim, é fundamental que a empresa tenha um plano de contingência bem estruturado, que inclua todas as etapas da resposta, desde o acionamento até o suporte emocional e jurídico aos envolvidos. Esse plano deve ser revisado com frequência, incorporando aprendizados e atualizações de segurança.
Delgado, da Myriota, lembra, ainda, que em países em desenvolvimento, como os da América Latina, é comum o uso de um recurso de envio de mensagens remotas (over the air) para desligar o motor e imobilizar o veículo, permitindo que as autoridades possam reagir com rapidez e a tempo. A utilização de tecnologias que operam independentemente de rede móvel de celular, como o IoT via satélite, torna esse processo mais eficiente, pois garante que eventos suspeitos sejam reportados, mesmo em locais isolados.
Plano de segurança
Já um plano de segurança para operações de alto valor agregado precisa ir além do básico. Ele deve começar com inteligência logística, utilizar dados para planejar rotas seguras, horários adequados e prever riscos antes da viagem.
Na prática, ainda segundo Bogajo, da Frete.com, o plano deve incluir:
• Tecnologia embarcada de rastreamento e telemetria, com alertas em tempo real e redundância contra bloqueadores de sinal;
• Escolta armada ou monitorada, conforme o perfil da carga e a exigência da seguradora;
• Sigilo da operação – quanto menos pessoas souberem da carga, rota e destino, menor o risco;
• Monitoramento 24 horas, com equipe treinada para acionar a polícia e bloquear o veículo se necessário;
• Protocolos claros para o motorista, com treinamento específico e botão de pânico discreto;
• Controle de acesso nos Centros de Distribuição, com câmeras, biometria e registro de todos os envolvidos.
“É importante que o plano seja revisado com frequência, com simulações de incidentes e auditorias para garantir que tudo funcione de fato”, completa o Head de Risco e Prevenção à Fraude da Frete.com.
Quando também avalia o que deve constar em um plano de segurança logística eficaz para operações de alto valor agregado, Rocha, da Gestão Segura, acrescenta que tudo começa pelo mapeamento de risco, onde precisam ser mapeado os maiores pontos e horários de vulnerabilidade de trajeto, áreas de sombra no caso de tecnologias GPRS e o histórico de crimes do trajeto. Depois é a vez do treinamento e a apresentação do plano de risco para o motorista ou para a empresa parceira, para que haja um alinhamento bem definido de todo o planejamento da viagem com a tratativa devido aos possíveis alertas durante o percurso. Por fim, é escolhida a tecnologia ideal para a operação, uma inspeção bem criteriosa no veículo, seguida de uma apólice de seguro aderente ao risco real da operação.
Hoelbriegel, da ICTS Security, acrescenta que outro cuidado essencial é com a embalagem. Ela precisa ser discreta para não chamar atenção, mas robusta o suficiente para proteger o produto. Em alguns casos, vale usar lacres invioláveis ou sensores de violação.
O seguro de carga é indispensável. A apólice precisa cobrir roubo, perdas e danos, e deve estar alinhada com o valor da mercadoria e as particularidades da operação, inclusive situações como sequestro ou desvio.
Se a carga precisar ser armazenada em algum momento, o local também deve oferecer alto nível de segurança: câmeras 24 horas, controle rigoroso de acesso, alarme monitorado e, preferencialmente, segurança armada.
No transporte, o rastreamento em tempo real precisa ser reforçado com tecnologias como RFID, GPRS e iscas de carga escondidas, que continuam funcionando mesmo se o sistema principal for desativado. Tudo isso deve estar conectado a uma central de monitoramento ativa 24 horas por dia.
Para trajetos mais arriscados, a escolta armada é uma medida necessária. Equipes treinadas acompanham o transporte, inibem ataques e estão prontas para reagir em caso de tentativa de roubo.
A equipe envolvida na operação também precisa estar preparada. Motoristas, ajudantes, operadores e seguranças devem receber treinamentos específicos sobre prevenção, resposta a incidentes e como agir em situações de risco, sempre priorizando a integridade física.
Além disso, é fundamental aplicar testes de integridade regularmente, avaliando o comprometimento de todos com os procedimentos de segurança. Isso ajuda a evitar casos de cooptação interna por quadrilhas especializadas.
“Por fim – diz o diretor de negócios da ICTS Security –, o uso de veículos adequados e blindados, com sistemas de travamento avançado, bloqueio remoto e compartimentos protegidos, oferece uma barreira extra contra ações criminosas. Um plano de segurança para HVC deve ser visto como uma estratégia contínua e adaptável. A combinação desses cuidados com a cultura de segurança sólida é o que realmente garante a proteção de mercadorias críticas.”
Também para João Paulo, da Mundo Seguro, o plano também deve incluir o cadastro e a homologação de motoristas e veículos, checklist obrigatório antes da viagem, definição de rotas alternativas e canais de emergência. A integração com a torre de controle e a padronização do plano de resposta em caso de incidente são fundamentais. “E claro, tudo isso precisa estar alinhado à apólice de seguro vigente, para garantir que não haja perda de cobertura por descumprimento das cláusulas”, diz o CEO da Mundo Seguro.
Delgado, da Myriota, também lembra da importância do uso de tecnologias de rastreamento, como integração entre soluções celulares e satelitais, o monitoramento periódico de comportamento da carga por meio de sensores, e protocolos operacionais bem definidos para diferentes cenários de risco. “Nosso melhor aliado é a prevenção e o uso combinado de tecnologias contribui diretamente para isso.
Índices de roubo por região
Atualmente, as regiões que apresentam os maiores índices de roubo de carga no Brasil estão concentradas, principalmente, nos grandes centros urbanos e em seus entornos. Em São Paulo, os casos acontecem com mais frequência em regiões metropolitanas, especialmente em áreas com grande volume de circulação de mercadorias, como os acessos ao Rodoanel, à Via Dutra, à BR-116, à BR-101 e às rodovias próximas a polos logísticos e industriais.
Costa, da Maxtrack, ressalta, ainda, que outros estados que estão registrando aumento nos casos são Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e o Paraná, especialmente pelo crescimento de corredores logísticos e da interiorização dos Centros de Distribuição. Os trechos urbanos de rodovias federais e estaduais, onde o tráfego é mais intenso e a velocidade dos veículos é naturalmente reduzida, são os pontos mais vulneráveis.
“Isso impacta diretamente o planejamento logístico das transportadoras, que precisam adaptar suas rotas com base em informações de risco. Muitas empresas utilizam sistemas de gestão e mapeamento de risco para evitar determinadas áreas e horários críticos, redirecionando os veículos para trechos mais seguros, mesmo que isso resulte em aumento de tempo ou custo no trajeto.”
Os riscos influenciam também em decisões estratégicas, como o posicionamento de Centros de Distribuição, o uso de escoltas armadas, o investimento em tecnologia embarcada e até mesmo as negociações com seguradoras, já que os prêmios são mais elevados para rotas de alto risco, completa o gerente de implantação da Maxtrack
“É sabido que os crimes rodoviários migram com muita rapidez, em decorrência de operações de segurança efetuadas pelas autoridades policiais em conjunto com as gerenciadoras de risco, seguradoras, transportadores e toda a cadeia envolvida”, também comenta Kelly, da Global 5.
Também lembrando que o Sudeste concentra a maior parte dos prejuízos, com destaque para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, Toledo, da IBL Logística diz que os crimes ocorrem com maior frequência durante a noite e às segundas-feiras.
Ainda segundo ele, as rodovias BR-116, BR-316 e BR-101 estão entre as mais perigosas do país, com altos índices de roubo de carga, especialmente nos trechos entre São Paulo e Rio de Janeiro. Áreas urbanas também concentram grande parte das ocorrências, exigindo atenção redobrada no planejamento das rotas. “O aumento da criminalidade em regiões como o Nordeste e o Sul tem levado empresas a redirecionar rotas, investir em escoltas e adotar sistemas de roteirização inteligente. Essas medidas visam equilibrar segurança, eficiência e custo operacional, garantindo a continuidade das operações logísticas em um cenário desafiador, afirma Toledo.
“Em primeiro lugar, a região do Rio de Janeiro é um ponto crítico. Poucas empresas se arriscam a efetuar o atendimento naquela região, e ainda há motoristas que se recusam a trafegar pela área. Mas não é o único ponto, em São Paulo, o raio de 120 km da capital também é crítico pela quantidade de empresas dos mais variados segmentos. Como é um perímetro muito grande, as ocorrências são descentralizadas, mas se consolidarmos os dados, também é representativo. Temos outros pontos no Brasil também, mas com menos ocorrências.”
Portanto – continua analisando Giorgi, da Maxton –, o planejamento de rotas é afetado, pois muitas vezes a carga está pronta e não pode sair, seja pelo horário de risco, seja porque há um acidente na rota e o caminhão vai ficar parado e pode ser saqueado, ou até mesmo porque o motorista se recusa a ir para aquela região. “As variáveis são gigantescas e só aumentam o gargalo logístico do segmento rodoviário, que sofre com falta de mão de obra, falta de infraestrutura logística rodoviária com inúmeros pontos de congestionamento e falta de segurança nas rodovias.”
Também segundo dados levantados pela Norcoast, apontados por Galvão, a região Sudeste apresenta maior índice de roubo de carga, especialmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As rodovias mais afetadas, além das já citadas, são: BR-050, BR-040, BR-153 e BR-262. De acordo com o relatório Análise de Roubo de Cargas, da nstech, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os destaques no primeiro semestre de 2024, devido à grande circulação de mercadorias e à concentração do Produto Interno Bruto (PIB) na região. “Estas regiões demandam uma abordagem mais estratégica, preventiva e, “muitas vezes, mais custosa, ao passo que pode aumentar o consumo de combustível e o custo com o seguro da carga, além do investimento em sistemas de rastreamento e bloqueio remoto”.
Há empresas que evitam trechos com alto índice de ocorrências ou redefinem o horário de circulação, por exemplo. Isto aumenta a distância percorrida e até mesmo o tempo de entrega. Neste caso, o foco vai além da eficiência e passa a ser segurança, explica o diretor de Operações da Norcoast.
“Nos últimos três anos, os índices de roubo de carga vêm diminuindo a uma média de 13% de um ano para outro, tendo a Região Sul o maior índice de queda, para quase 64%, em contrapartida Santa Catarina teve um aumento na casa de 228% em comparação a 2023. Em 2024 foi registrado um recorde de queda nos registros de roubos de carga em relação ao ano anterior, representando uma redução de 13,61%. Esta diminuição está concentrada nas regiões Centro-Oeste e Sul, contabilizando-se 10.189 ocorrências, uma média de 28 por dia.”
Naturalmente, continua a Key Account Manager da Ruedata, esse recorde de queda não indica que os números sejam dignos de comemoração. A Região Nordeste ficou em segundo lugar com 8,44% dos roubos de carga no país, ao registrar 860 eventos. No polo oposto, a Região Norte apresentou o menor número de roubos de carga no país, com 140 eventos, representando 1,37% do total nacional.
Na liderança de altos índices em matéria de registro de ocorrência de roubos de carga continua predominantemente na Região Sudeste (SP/RJ/MG), onde se concentram as grandes indústrias, hipermercados e grandes transportadores. A região contabilizou 87,42% de todos os eventos em 2024, totalizando 8.907 ocorrências. Somente São Paulo e Rio de Janeiro, juntos, somam 8.685 registros, mesmo assim São Paulo apresentou uma queda de 22,3% nos roubos de carga, e na hora de planejar uma rota, ter esse nível de informação é essencial para minimizar riscos.
Equilíbrio
Por tudo o que foi apresentado, fica uma questão: como equilibrar o investimento em segurança com a necessidade de manter a eficiência operacional e a competitividade nos custos logísticos?
Para Bogajo, da Frete.com, o equilíbrio vem da gestão inteligente do risco. Não se trata de gastar mais, e sim de investir melhor, priorizando rotas, tipos de carga e operações que realmente exigem medidas de alto custo. “É possível manter a competitividade otimizando processos: por exemplo, integrando segurança e logística em uma mesma plataforma, escolhendo parceiros confiáveis e usando tecnologias mais acessíveis, como rastreamento via celular em cargas de menor risco.”
Outro ponto importante é a customização do plano de segurança por perfil de operação. Nem toda carga exige escolta ou tecnologia de ponta. O que a empresa precisa é entender seu nível de exposição e agir com proporcionalidade. Prevenir é mais barato do que remediar. Um roubo de carga pode causar prejuízos muito maiores que o investimento em prevenção, sem falar no impacto ao cliente e à imagem da empresa.
Portanto, completa o Head de Risco e Prevenção à Fraude da Frete.com, o segredo está em enxergar segurança como parte da estratégia de eficiência, e não como um obstáculo para ela.
“Acredito que um ponto bastante importante é não padronizar a aplicação e entender bastante a operação. Isso vai ajudar a direcionar a melhor equipe e a melhor tecnologia. Promover parcerias em todos os aspectos também é muito bem-vindo para contribuir no aprendizado contínuo do combate ao crime organizado de roubo de cargas.Como isso tudo é muito vivo, precisamos ter um fluxo de informação sempre ativo para entendermos os novos movimentos do crime. Existem muitas empresas sérias que atuam no combate deste nicho de mercado ou são especializadas em certas tecnologias, mas o mais importante é conectar a sua operação com a solução mais aderente ao risco de uma determinada operação. No final, toda segurança deve ser proporcional ao risco, não adianta tratar tudo como uma coisa só. Um bom gestor de risco vai ajudar a direcionar a melhor solução para cada ocasião”, apregoa Rocha, da Gestão Segura.
Encontrar o equilíbrio entre investir em segurança e manter a eficiência e os custos sob controle é um dos grandes desafios da logística, especialmente em um cenário de risco crescente, aponta Hoelbriegel, da ICTS Security. Mas segurança e eficiência não são opostos. Quando bem planejadas, caminham juntas e se reforçam, diz ele.
O primeiro passo é encarar a segurança como investimento, não como gasto. Prevenir roubos evita perdas financeiras, reduz prêmios de seguro, protege a reputação da empresa e garante a continuidade das operações. Ou seja, o retorno vai muito além do valor da carga.
A tecnologia é uma aliada poderosa nesse processo – automatizar processos e ter visibilidade da operação reduzem erros, melhoram o controle e cortam desperdícios.
Outro ponto importante é integrar segurança e eficiência no dia a dia da operação. Um bom sistema de monitoramento, por exemplo, não só identifica comportamentos de risco, como também ajuda a reduzir o consumo de combustível e o desgaste do veículo, impactando diretamente nos custos.
Treinar as equipes também faz toda a diferença. Profissionais preparados são mais produtivos, conscientes dos riscos e sabem como agir diante de imprevistos. Menos erros, menos falhas, mais agilidade.
Além disso, usar dados para tomar decisões estratégicas ajuda a direcionar melhor os investimentos em segurança. Com análise preditiva e KPIs, é possível identificar onde estão os maiores riscos, o que precisa de atenção e o que pode ser ajustado para evitar perdas sem gastar além do necessário.
“Por fim – alega o diretor de negócios da ICTS Security –, contar com parceiros especializados pode ser mais eficiente do que tentar resolver tudo internamente. Consultorias de risco, empresas de tecnologia e seguradoras oferecem soluções personalizadas que ajudam a proteger a operação e manter a competitividade.”
Também para João Paulo, da Mundo Seguro, essa é a grande equação da logística moderna. De acordo com ele, o segredo está em entender que segurança não é um custo isolado, é uma forma de evitar prejuízos futuros. Investir em tecnologia, que permita crescer conforme a necessidade, é uma estratégia inteligente. Também é importante ajustar o nível de proteção ao tipo de carga e à rota: nem toda operação precisa de escolta, por exemplo. Trabalhar com parceiros confiáveis, usar dados para tomar decisões e acompanhar indicadores de performance ajudam a justificar o investimento.
Participantes desta matéria
Frete.com – É considerada a maior plataforma online de transporte rodoviário de cargas da América Latina. Utiliza algoritmos de Machine Learning para conectar caminhões com cargas, em tempo real e de forma segura, reduzindo a capacidade ociosa dos caminhões e aumentando a segurança no transporte.
Gestão Segura – É uma empresa especializada em soluções completas para a gestão de sinistros, com foco em tecnologia, performance e inovação. Com atuação consolida em associações de proteção veicular (APVs) e gestores de frotas, oferece um ecossistema que envolve terceirização do departamento de sinistros, sistema de gestão, treinamentos, consultoria e mentoria especializada.
Global 5 Gerenciadora de Riscos – Oferece soluções integradas em gerenciamento de risco e logística. Está integrada com o negócio do cliente na missão de transportar diversos tipos de carga e mercadorias, além de desenvolver um plano de prevenção de possíveis acidentes e avarias.
Grupo IBL – É um Operador Logístico que oferece soluções integradas para diferentes setores da economia. Presente em todos os modais, atua com operações inbound e outbound em pontos estratégicos do país e com foco nos segmentos farmacêutico, eletrônico, alimentício e no mercado internacional, por meio de soluções em transporte aéreo, rodoviário, fluvial e cabotagem.
ICTS Security – Oferece consultoria em serviços de segurança com inteligência e gestão integrada. Desenvolve projetos e trabalha com gestão de segurança, análise de riscos, investigações, auditoria, gerenciamento de crises, segurança pessoal e treinamentos especializados.
Maxton Logistica e Transportes – Empresa do segmento de logística, especialista em soluções de armazenagem com mais de 20.000 m² de área em Curitiba, PR.
Maxtrack – Hoje é a maior produtora de rastreadores da América Latina. Atua nas verticais de transporte de passageiros e transporte e logística de cargas e oferece soluções tecnológicas de monitoramento e inteligência de dados de ponta a ponta, desde o planejamento e fabricação do hardware com foco na inteligência do negócio e no tratamento dos dados coletados.
Mundo Seguro – Referência nacional em seguros para transporte de cargas, atua com soluções sob medida para proteger operações logísticas em todo o Brasil. Especializada em apólices do segmento de logística como Transporte Nacional, RCTR-C, RC-DC, atende desde pequenos transportadores até grandes Operadores Logísticos com atuação multinacional.
Myriota – É líder global em conectividade via satélite para IoT de baixo custo, baixo consumo de energia e comunicação segura para dispositivos pequenos e com restrições de energia. Oferece uma rede baseada no espaço que viabiliza serviços de dados escaláveis e acessíveis para IoT, além de hardware de alta eficiência energética, essencial para setores como agricultura, logística, gestão de recursos hídricos e conservação ambiental.
Norcoast – É uma empresa brasileira de navegação costeira que opera de Norte a Sul do país. Aposta na logística integrada e, sobretudo, em um serviço de porta-a-porta.
Ruedata Brasil – Usa uma plataforma baseada em IA que ajuda as frotas a tomar decisões mais inteligentes, maximizar a vida útil dos pneus, reduzir custos e melhorar a segurança nas estradas.
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