Por Eros Viggiano*
Muito se falou sobre eficiência na cadeia de suprimentos. Mas enquanto o discurso permanecia o mesmo, reduzir custos, acelerar entregas, controlar estoques, o mundo lá fora mudou. A previsibilidade cedeu lugar à volatilidade, à fragmentação de dados, à complexidade das operações em tempo real. E nessa nova lógica, a inteligência artificial generativa não é apenas mais uma tecnologia. É o divisor de águas.
A adoção dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), que vão muito além de gerar textos, representa uma virada concreta na forma como se entende e se gere uma cadeia de suprimentos. A McKinsey estima que a IA generativa pode aumentar em até 30% a produtividade de áreas como planejamento de demanda, compras e logística, permitindo que decisões antes baseadas em planilhas e histórico de vendas passem a se apoiar em simulações, contextos e variáveis dinâmicas.

A fragmentação de dados ainda é um gargalo sério. Segundo a Gartner, mais de 50% das empresas enfrentam dificuldades significativas para integrar dados entre sistemas e plataformas distintas, uma das principais causas de ineficiência operacional. É nesse ponto que a IA generativa se mostra disruptiva: ela conecta informações que antes estavam isoladas, entende o contexto e propõe rotas alternativas com agilidade, mesmo diante de cenários imprevistos.
E esses cenários são cada vez mais comuns. Crises logísticas, oscilações abruptas de demanda, interrupções geopolíticas. Em vez de reagir a esses eventos com atraso, a IA generativa permite prever impactos e agir de forma proativa. Estudo da Deloitte mostra que empresas com soluções de IA preditiva e generativa já reduziram em até 25% o tempo de resposta a rupturas na cadeia de suprimentos, ajustando estoques, rotas ou fornecedores de forma automatizada e estratégica.
Mas a verdadeira revolução não está apenas na automação. Está na capacidade da IA de “pensar junto”. LLMs já são usados para revisar contratos com fornecedores, cruzar cláusulas legais com indicadores de desempenho e sugerir renegociações. Outros algoritmos monitoram milhares de pontos de venda e ajustam automaticamente os fluxos de abastecimento com base em tendências de consumo em tempo real. Tudo isso libera os profissionais para atuar de forma mais estratégica, ao invés de gastarem horas interpretando relatórios desatualizados.
É preciso entender: a eficiência do futuro não se mede apenas por velocidade ou redução de custo. Ela se mede pela capacidade de adaptação. E só uma cadeia inteligente — alimentada por dados, contextualizada por modelos generativos e capaz de aprender com cada decisão, pode se manter competitiva em tempos instáveis.
Claro, nada disso funciona por mágica. A IA generativa exige clareza de objetivos, bons dados de entrada, integração sistêmica e uma cultura disposta a repensar processos. Mas quando bem implementada, ela não apenas melhora resultados: redefine o que significa ser eficiente. Continuar operando com os paradigmas do século passado é assumir riscos desnecessários. E risco, em uma cadeia global e sensível como a de suprimentos, é o que nenhum negócio pode se dar ao luxo de manter.
*Eros Viggiano é mestre em administração e cientista da computação, fundou a LogP









