No contexto de transformações digitais, aumento da concorrência e exigências crescentes dos consumidores, as empresas enfrentam o desafio de oferecer produtos e serviços que se destaquem não apenas pela qualidade, mas pela experiência proporcionada ao cliente. Nesse cenário, a abordagem “customer centric” (centrada no cliente) surge como um diferencial estratégico, especialmente no contexto da cadeia de abastecimento (Supply Chain), onde decisões operacionais impactam diretamente a satisfação do cliente final.
Este artigo explora como as empresas podem adotar uma abordagem “customer centric” no Supply Chain, os benefícios dessa mentalidade, os desafios envolvidos, as métricas essenciais, o papel da tecnologia e como equilibrar eficiência operacional com experiência do cliente. A proposta é oferecer uma visão prática e aplicada que auxilie líderes e profissionais a evoluírem suas operações com foco em resultados sustentáveis e relacionamentos duradouros com seus clientes.

A relevância do “customer centric”
Adotar uma abordagem centrada no cliente é mais do que oferecer bom atendimento. Trata-se de uma filosofia organizacional onde todas as áreas da empresa, desde o marketing até a logística, atuam de forma integrada para atender, surpreender e fidelizar o cliente. No contexto do Supply Chain, isso significa garantir que cada elo da cadeia esteja alinhado às expectativas e necessidades do consumidor final.
Ser “customer centric” exige uma mudança profunda de cultura e comportamento. Em vez de pensar apenas na eficiência interna, as empresas precisam pensar no impacto de suas decisões no cliente. Isso inclui desde a escolha de fornecedores, passando pelo planejamento de estoque, transporte, até o pós-venda. Essa abordagem exige também que todos na organização tenham consciência de seu papel na entrega de valor ao cliente.
Estudos de mercado têm demonstrado que empresas centradas no cliente são, em média, mais lucrativas, têm maior capacidade de reter talentos e fidelizar clientes. Além disso, reduzem custos operacionais ao evitarem falhas, retrabalho e desperdícios, otimizando o uso de recursos.
Métricas de sucesso
Para garantir que a abordagem “customer centric” está sendo implementada de forma eficaz, é necessário definir e monitorar métricas que reflitam a satisfação do cliente e a eficiência da operação. As duas métricas mais relevantes são:
– OTIF (On Time In Full): Mede a quantidade de pedidos entregues no prazo e com a quantidade completa. É um indicador direto de confiabilidade e cumprimento de promessas feitas ao cliente. A pontualidade e a integralidade são os pilares dessa métrica.
– F-Rate (Factory Rate): Reflete a eficiência da fábrica em atender aos pedidos conforme planejado. Embora importante, o F-Rate sozinho não garante a satisfação do cliente, pois não considera possíveis falhas no transporte ou na entrega.
Além dessas, outras métricas podem ser utilizadas, como Net Promoter Score (NPS), índice de devoluções, índice de atendimento de pedidos (Fill Rate), entre outros. O importante é que as métricas escolhidas estejam alinhadas com a estratégia da empresa e sejam capazes de fornecer insights acionáveis.
A acurácia dessas métricas depende diretamente da qualidade dos dados e da eficiência na coleta de informações, como comprovantes de entrega e feedbacks dos clientes. Portanto, a governança de dados deve ser uma prioridade.
Processos e tecnologia
A tecnologia é uma aliada indispensável na construção de uma operação centrada no cliente. Porém, antes de investir em soluções sofisticadas, é fundamental revisar os processos internos. Processos desorganizados ou mal definidos podem anular os benefícios trazidos pela tecnologia.
Ferramentas como sistemas de gestão integrada (ERP), softwares de planejamento de demanda, plataformas de visibilidade logística e inteligência artificial ajudam a prever comportamentos, personalizar ofertas, detectar gargalos e tomar decisões com base em dados e informações confiáveis. Contudo, essas ferramentas precisam estar sustentadas por processos eficientes e uma cultura voltada para a melhoria contínua.
Mapear os fluxos de valor, identificar pontos de desperdício e atuar sobre as causas raiz dos problemas permite que a tecnologia seja aplicada de forma eficaz. Outro ponto importante é a integração entre áreas. Supply Chain, vendas, marketing e atendimento ao cliente precisam compartilhar dados e colaborar em tempo real.
A transformação digital, nesse contexto, não é apenas sobre tecnologia, mas sobre pessoas, processos e cultura. Empresas que conseguem combinar esses elementos têm maior agilidade, resiliência e capacidade de adaptação.
Equilíbrio entre eficiência e satisfação
Um dos grandes desafios das empresas é equilibrar eficiência operacional com satisfação do cliente. Muitas vezes, há um trade-off entre reduzir custos e atender exigências específicas dos clientes. Nesses casos, a segmentação de clientes é uma estratégia importante.
Segmentar clientes significa classificá-los com base em critérios como volume de compras, potencial de crescimento, nível de exigência e rentabilidade. Com isso, é possível definir estratégias diferenciadas para cada grupo, personalizando o nível de serviço, prazos de entrega e canais de comunicação.
Além disso, é importante empoderar os times operacionais com autonomia e ferramentas para tomar decisões baseadas em dados. Isso inclui prever rupturas, antecipar demandas sazonais, adaptar rotas e negociar condições específicas com clientes-chave.
Equilibrar eficiência e personalização também exige um modelo de governança que envolva todas as áreas da empresa. Reuniões de alinhamento, KPIs compartilhados e uma liderança engajada são elementos fundamentais.
Redução de custos com foco no cliente
Reduzir custos sem impactar a experiência do cliente parece desafiador, mas é possível quando há foco nas oportunidades certas. Muitas empresas mantêm práticas antigas apenas por inércia. Exigências logísticas desnecessárias, por exemplo, podem ser renegociadas com base em dados e análises de viabilidade.
Exemplos práticos incluem:
– Negociação de formatos de entrega mais flexíveis com base em espaço de armazenamento do cliente.
– Agrupamento de pedidos para reduzir o número de viagens.
– Uso de veículos adequados à carga real transportada.
– Automatização de tarefas operacionais para reduzir erros e retrabalhos.
Essas ações exigem diálogo constante com os clientes, alinhamento entre as áreas internas e visão holística do Supply Chain. Quando bem executadas, resultam em redução de custos, aumento da produtividade e fortalecimento das relações comerciais.
Colaboração como diferencial
A colaboração entre fornecedores, empresas e clientes é uma tendência que ganha força. Em vez de relações puramente transacionais, o mercado caminha para parcerias estratégicas, onde todos ganham.
Práticas como o Joint Business Planning (JBP), onde fornecedores e clientes desenvolvem planos conjuntos, são exemplos de colaboração eficaz. Outro exemplo é o forecast colaborativo, no qual as partes compartilham dados para melhorar a precisão das previsões e evitar rupturas ou excessos de estoque.
A transparência também é essencial nesse processo. Informar antecipadamente sobre atrasos, problemas de produção ou mudanças na política comercial permite que o cliente se prepare e reduz o impacto negativo.
A colaboração ainda envolve aspectos humanos. Visitas técnicas, reuniões periódicas, canais de comunicação diretos e cultura de escuta ativa contribuem para construir relações de confiança e duradouras.
Fidelidade e personalização
Clientes satisfeitos tendem a permanecer fiéis e a recomendar a empresa. A fidelidade é construída com base na consistência, confiança e relevância das entregas. Personalizar a experiência é um dos caminhos mais eficazes para alcançar esse objetivo.
Isso inclui adaptar ofertas, ajustar prazos, personalizar embalagens, disponibilizar canais de atendimento preferenciais e até criar programas de fidelidade. O uso de dados é essencial para identificar preferências, antecipar comportamentos e surpreender positivamente o cliente.
Empresas que conhecem profundamente seus clientes podem atuar de forma proativa, oferecendo soluções antes mesmo que o cliente perceba a necessidade. Isso transforma a relação de fornecimento em uma parceria estratégica.
Indicadores de fidelidade
Medir a fidelidade é fundamental para entender se a estratégia “customer centric” está gerando os resultados esperados. Algumas formas de mensuração incluem:
– Net Promoter Score (NPS): Mede a probabilidade de um cliente recomendar a empresa a outras pessoas.
– Índice de recompra: Frequência com que um cliente realiza novas compras.
– Crescimento por cliente: Aumento do volume de compras ao longo do tempo.
– Tempo de relacionamento: Duração da parceria comercial.
– Pesquisa de satisfação: Avalia a percepção do cliente em diferentes aspectos do serviço.
Esses indicadores devem ser analisados em conjunto, permitindo uma visão ampla do relacionamento e das oportunidades de melhoria.
Conclusão
Adotar uma mentalidade “customer centric” é mais do que um modismo corporativo: é uma necessidade estratégica em um mercado cada vez mais dinâmico, exigente e orientado pela experiência. No contexto do Supply Chain, isso se traduz em processos otimizados, decisões orientadas por dados, uso inteligente da tecnologia, segmentação de clientes, personalização de serviços e construção de parcerias colaborativas.
Empresas que conseguem alinhar essas dimensões criam cadeias de suprimentos mais ágeis, resilientes, eficientes e, acima de tudo, orientadas à criação de valor para o cliente. A jornada é desafiadora, exige mudança de cultura, investimentos e dedicação, mas os benefícios são duradouros e sustentáveis.
Conhecer o cliente, influenciar positivamente toda a organização, entregar o básico com excelência e manter uma postura de melhoria contínua são os principais pilares para elevar o nível de serviço e a satisfação no Supply Chain. Que essa visão inspire líderes e profissionais a construir operações cada vez mais humanas, inovadoras e centradas no cliente.
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