Por Carlos Mira*
Durante muito tempo, um caminhão era apenas uma robusta combinação de ferro, borracha, motor e transmissão. Mas essa realidade ficou para trás. A pergunta agora é provocativa, mas reflete a revolução silenciosa que invadiu as estradas: estamos colocando computadores sobre rodas, ou colocando rodas nos computadores?
A resposta talvez seja: os dois. Porque o que temos hoje rodando pelas estradas brasileiras e do mundo são verdadeiros centros de processamento de dados, inteligência artificial e conectividade em tempo real — tudo sobre rodas. A tecnologia embarcada evoluiu tanto que um caminhão fora da rede, desconectado, é praticamente tão inoperante quanto um veículo quebrado nos anos 90.

A origem da revolução embarcada
Essa transformação começou discretamente no final da década de 1990 e início dos anos 2000, com os primeiros sensores eletrônicos instalados em veículos comerciais. A princípio, o objetivo era simples: melhorar a previsibilidade da manutenção e aumentar a segurança mecânica e operacional. Sensores de temperatura, pressão dos pneus, diagnósticos de falhas eletrônicas — todos foram os primeiros passos de uma longa jornada.
Depois, vieram os rastreadores por GPS, os módulos de comunicação por rádio e mais tarde, por redes móveis. Foi o início do monitoramento remoto, da gestão de frota baseada em dados em tempo real. E assim começou a revolução digital das estradas.
Hoje, não faz sentido falar em veículos comerciais que não sejam conectados. Eles fazem parte de uma teia tecnológica que une logística, manutenção, desempenho, segurança, sustentabilidade e, claro, rentabilidade.
A nova anatomia dos veículos comerciais
Atualmente, os caminhões e veículos comerciais saem de fábrica com um verdadeiro arsenal tecnológico embarcado. Veja alguns exemplos dos dispositivos e sistemas presentes nos modelos mais modernos:
• Unidades telemáticas com conectividade 4G/5G para comunicação em tempo real;
• Sistemas de diagnóstico remoto (Remote Diagnostics);
• Câmeras de fadiga e leitura facial;
• Controle de estabilidade eletrônico (ESC);
• Frenagem autônoma de emergência (AEB);
• Monitoramento de pressão e temperatura dos pneus (TPMS);
• Controle de cruzeiro adaptativo com inteligência artificial;
• Sistemas de navegação integrados à gestão de rota e carga;
• Sensores de carga e distribuição de peso por eixo;
• Plataformas integradas com ERPs, TMSs e WMSs corporativos.
Esses sistemas não só ampliam a segurança, mas também levam a produtividade ao limite da eficiência. Reduzem o consumo de combustível, evitam acidentes, aumentam a vida útil dos componentes e, o mais importante, geram dados. Dados que alimentam sistemas analíticos, inteligência de negócios e decisões estratégicas.
Um veículo que não se conecta, não sai da base
Nos dias atuais, um caminhão que não está integrado às plataformas tecnológicas da empresa não pode rodar. Isso mesmo: é o equivalente ao veículo “quebrado” de décadas passadas. Sem conectividade, não há visibilidade, não há controle e, portanto, não há operação segura ou eficiente. E no mundo da logística moderna, visibilidade é poder.
Não é à toa que cada vez mais gestores de frota estão sendo pressionados a se tornarem também gestores de tecnologia embarcada. A profissão evoluiu. Hoje, não basta saber sobre manutenção, pneus e consumo. É necessário entender de software, de conectividade, de análise de dados e de automação. O profissional do setor de transportes precisa se reinventar — ou será deixado para trás.
*Carlos Mira, economista com pós-graduação em Marketing, possui mais de 40 anos de experiência em logística e transporte; foi presidente da ASLOG (Associação Brasileira de Logística) e CEO de grandes empresas do setor; em 2014, fundou a TruckPad, marketplace digital de fretes. É idealizador do Frotas Conectadas, maior evento da América Latina que promove a interação da indústria automotiva com a indústria de tecnologia, criando soluções inovadoras em Logística e Transportes. www.FrotasConectadas.com.br









