O transporte marítimo, responsável por cerca de 90% do comércio global, tornou-se o epicentro de múltiplas tensões econômicas em 2025. Em meio a transformações climáticas, pressões ambientais, instabilidade geopolítica e disrupções tecnológicas, o setor enfrenta ainda mais turbulências com a nova escalada protecionista iniciada pelo segundo mandato de Donald Trump. As tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos contra diversos parceiros, incluindo União Europeia, Canadá e México, remodelam a lógica do comércio global, pressionando rotas, custos e acessos.
Este artigo analisa como essas mudanças, sobretudo o “tarifaço” global dos EUA, influenciam diretamente o valor do frete marítimo e a competitividade das importações e exportações brasileiras. A seguir, explora os impactos reais nas cadeias de suprimento, os gargalos internos, os reflexos comerciais e as respostas estratégicas exigidas pelas empresas nacionais diante do novo tabuleiro geoeconômico.

Nova ordem comercial: O efeito Trump nas rotas marítimas
A política tarifária de Donald Trump, ao adotar medidas protecionistas agressivas e romper com acordos multilaterais, impôs uma nova lógica ao comércio internacional. Em abril de 2025, Trump declarou o “Dia da Libertação”, impondo as maiores tarifas desde a crise de 1929. Com alíquotas de até 245% sobre produtos de países como China, Europa e até mesmo aliados do USMCA, o impacto foi sentido de forma imediata no setor marítimo, forçando redirecionamento de cargas, alterações contratuais e aumentos significativos nas taxas de seguro e custo logístico.
O Brasil, mesmo não sendo o principal alvo direto das tarifas, sente os reflexos indiretos: deslocamento de volumes asiáticos e europeus para mercados alternativos, maior escassez de contêineres, aumento dos custos operacionais das rotas e pressão por redirecionamento logístico em meio a cadeias comerciais cada vez mais fragmentadas.
Importações brasileiras sob pressão global
Com a imposição de tarifas de até 125% entre EUA e China, muitos produtos chineses originalmente destinados ao mercado americano foram redirecionados para mercados alternativos – como o Brasil. Essa corrida criou um efeito dominó nos portos asiáticos e aumentou a competição por espaço e equipamentos nos navios, elevando os custos para importadores brasileiros. A tradicional pressão do Ano Novo Lunar foi agravada por essa nova realidade tarifária.
Além disso, a escassez de contêineres refrigerados e de 40 pés, essenciais para segmentos como alimentos e fármacos, tornou-se ainda mais crítica com o bloqueio e redirecionamento de rotas comerciais tradicionais. A guerra tarifária entre EUA e seus parceiros também elevou o preço do bunker (combustível marítimo), o que gerou uma onda de repasses de custos aos embarcadores brasileiros.
Exportações brasileiras e a nova batalha por competitividade
Se, por um lado, as importações ficaram mais caras, por outro, os exportadores brasileiros enfrentam um dilema igualmente preocupante: a manutenção da competitividade. O encarecimento do frete para a Europa, Ásia e América do Norte, somado à alta do dólar e à maior demanda global por rotas não tarifadas, coloca o Brasil em posição delicada.
Exportadores de carne, soja, café e manufaturados observam seus custos logísticos aumentarem, enquanto parceiros comerciais como Canadá e União Europeia também redirecionam esforços para proteger suas economias frente ao protecionismo americano, inclusive com tarifas recíprocas. Isso significa mais concorrência nos mercados internacionais e menos espaço para o produto brasileiro, que já sofre com infraestrutura precária e alto custo de transporte interno.
Fatores que elevam os fretes marítimos em 2025
1. Guerras Tarifárias – A nova rodada de tarifas imposta pelos EUA desencadeou retaliações globais e desvio de fluxos comerciais, criando gargalos e inflando custos em rotas alternativas.
2. Oferta x Demanda – A sobrecarga de portos, a falta de contêineres e o congestionamento das rotas mais seguras levaram à saturação das capacidades logísticas.
3. Custos Operacionais – O preço do bunker disparou, os seguros encareceram e a manutenção de frotas modernas, exigidas por normas ambientais, pressiona os armadores.
4. Geopolítica e Incertezas – Conflitos no Mar Vermelho, bloqueios no Canal de Suez e tensões entre grandes potências afetam previsibilidade e planejamento.
5. Infraestrutura Nacional Deficiente – A burocracia aduaneira, os acessos rodoviários precários e a concentração portuária tornam a logística brasileira ainda mais cara e ineficiente.
A reação brasileira: O que está ao nosso alcance
Apesar do cenário adverso, o Brasil possui oportunidades de adaptação. A primeira é investir em infraestrutura portuária e em integração intermodal. A segunda, mais imediata, é apostar em tecnologia e inteligência logística: plataformas digitais de cotação, rastreamento e automação de processos são diferenciais competitivos.
Além disso, políticas públicas de estímulo à cabotagem, acordos comerciais regionais e incentivos à modernização logística podem atenuar os efeitos negativos da conjuntura internacional. Estratégias empresariais como a consolidação de cargas, contratos de longo prazo e a diversificação de fornecedores e destinos são essenciais para sobreviver à maré alta dos custos.
Conclusão: uma nova era marítima em meio ao choque tarifário
O aumento do valor do frete marítimo em 2025 é o reflexo de uma reconfiguração estrutural do comércio global. A guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos, somada aos já conhecidos desafios logísticos e ambientais, inaugura uma era de incertezas, mas também de reposicionamentos estratégicos. O Brasil, como economia dependente de importações e exportações, precisa mais do que nunca repensar sua logística, fortalecer sua infraestrutura e preparar suas empresas para navegar em mares agitados.
No novo cenário, onde a política externa de uma potência pode virar o eixo do comércio mundial, quem não atua com visão sistêmica e agilidade logística corre o risco de perder o rumo. Navegar é preciso, mas com bússola geoeconômica, inteligência comercial e investimento em resiliência.









