Com a pandemia da Covid-19 e tensões geopolíticas crescentes, como a guerra comercial entre EUA e China, dificuldade no trânsito de navios no Mar Negro, dentre outros conflitos que impactam globalmente as cadeias de suprimento, a dinâmica do comércio global tem sido afetada de maneiras complexas e variadas, influenciando tanto oportunidades quanto desafios para as economias e as políticas externas.
Este tema foi considerado o 2º no Ranking das 10 maiores tendências do Supply Chain Global para 2025 pela ASCM – Association of Supply Chain Management, apresentado no evento Connect North America deste ano no Texas. Nos corredores do evento, ficou clara a importância do tema.
Veja abaixo o Ranking:
Algumas das principais discussões citavam dentre outras:
– Nearshoring
Muitos países e empresas começaram a buscar maior resiliência e diversificação nas suas cadeias produtivas, transferindo parte da produção e de seus fornecedores para regiões mais próximas ou menos arriscadas (estratégia conhecida como “nearshoring”).
– Ascensão do Protecionismo
Nos últimos anos, o protecionismo ganhou força, principalmente com a eleição de líderes que favorecem políticas econômicas mais nacionalistas, como Donald Trump, nos EUA. A imposição de tarifas e sanções contra parceiros comerciais tem alterado significativamente o fluxo de mercadorias e investimentos, aumentando as incertezas no comércio global.
– Redução de Riscos
Há um foco maior em desenvolver estratégias de mitigação de riscos, como estoques de segurança, fábricas e fornecedores regionais, para garantir a continuidade do abastecimento. O Brasil, como um grande exportador de commodities essenciais, pode estar no centro dessa discussão, com mais oportunidades de aumentar suas exportações e atrair investimentos em setores estratégicos.
– Sustentabilidade
Empresas estão priorizando fornecedores e parceiros que cumpram critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). O Brasil, sendo um grande exportador de produtos agrícolas e minerais, enfrenta uma pressão maior para garantir que suas cadeias produtivas sejam sustentáveis, especialmente em setores como o agro, onde as práticas agrícolas sustentáveis podem influenciar diretamente a competitividade no mercado global.
– Adoção de Tecnologias para rastreamento e previsibilidade
A implementação de tecnologias como inteligência artificial, blockchain e Internet das Coisas (IoT) permite melhor monitoramento, rastreamento e previsão de demandas, o que pode otimizar operações e melhorar a resiliência.
– Controle da Tecnologia
A disputa tecnológica entre grandes potências, como EUA e China, vai além da economia. Controlar a tecnologia de ponta (5G, semicondutores, inteligência artificial) tornou-se uma questão de segurança nacional. As sanções tecnológicas e as restrições de exportação são usadas como instrumentos para limitar o avanço tecnológico de países rivais.
– Geopolítica Energética
A transição energética e a competição por recursos naturais estratégicos, como o lítio, também influenciam o comércio global. As políticas de energia verde em regiões como a União Europeia impactam diretamente os fluxos comerciais, pois criam novas demandas e oportunidades no mercado de energia renovável. Simultaneamente, tensões em regiões ricas em petróleo e gás, como o Oriente Médio e a Rússia, continuam sendo fatores determinantes no comércio global de energia.
– Securitização de Recursos
A crise energética na Europa, resultante da redução do fornecimento de gás russo, aumenta a demanda por combustíveis alternativos, beneficiando países exportadores de petróleo como o Brasil. Além disso, a posição estratégica do Brasil como produtor de recursos naturais (minério de ferro, lítio, entre outros) pode ser reforçada, à medida que o mundo busca diversificar suas fontes de matérias-primas.
As dinâmicas comerciais globais não são mais apenas uma questão de economia e mercado, mas estão profundamente entrelaçadas com a geopolítica. Governos e empresas precisam se adaptar a um cenário de crescente incerteza e competição estratégica, onde fatores políticos, tecnológicos e ambientais desempenham papéis centrais na definição dos fluxos de comércio.
Leonardo Benitez
Engenheiro com Pós-graduação em Adm. Empresas e em Gestão de Negócios focado em Transportes. Certificações PMP, Black Belt em Lean Six Sigma e CSCP (Certified Supply Chain Professional pela ASCM/APICS). Experiência de mais de 20 anos em Supply Chain (parte como Diretor de Operações, COO) atuando em operadores logísticos e transportadoras de grande porte nos mais diversos segmentos. Hoje atua como Sócio-Diretor da Connexxion
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