Mulheres na operação portuária: é possível exercer a diversidade em um ambiente tão masculino historicamente?

09/01/2023

*Por Andrea Simões

Vivemos em um mundo maravilhosamente complexo e diversificado. No entanto, em vez de abraçar a riqueza de nossa diversidade, em muitas sociedades, ainda nos inclinamos para valorizar a mesmice e perpetuar a exclusão. E isso também é verdade para muitas organizações, nas quais a força de trabalho muitas vezes não reflete a diversidade que está ao nosso redor.

Mas engana-se quem pensa que a pluralidade responde somente a uma questão de justiça social. De acordo com dados publicados em 2018 pela consultoria McKinsey, a inclusão e a diversidade são uma fonte de vantagem competitiva e, mais especificamente, uma alavanca essencial no crescimento das empresas.

Além disso, o uso de diferentes pontos de vista e perspectivas permitem que a empresa trabalhe de maneira mais inteligente. Quanto mais diversificada, mais soluções, portanto, maior produtividade da equipe. Segundo a HBR, um ambiente diverso faz com que, em média, 17% dos colaboradores estejam mais engajados e dispostos a produzirem além das suas responsabilidades.

No caso do da logística e do setor portuário, quando falamos em diversidade, a presença de mulheres sempre foi um tema encarado com resistência e os homens historicamente ocupam a maioria dos cargos de operação. Isso é fato. No Terminal Portuário em Vila Velha, por exemplo, em 2019 as mulheres na operação correspondiam a apenas 4% do total de colaboradores.

Importante lembrar que essa baixa presença não é resultado de falta de qualificação e, tampouco, da inaptidão para atuar no setor. Está muito mais relacionado à cultura corporativa que decide se elas são atraídas para a área. Isso não está somente no achismo. Uma pesquisa realizada em 2019 pela Associação Federal de Logística (uma organização alemã sem fins lucrativos), revelou isso e também que o setor ainda carece de modelos e as empresas precisam entender que a logística precisa ter mais mulheres.

E foi exatamente visando colaborar nesse sentido que desenvolvemos projeto na Log-In Logística Intermodal, empresa que trabalho, o Programa Mulheres na Operação, que ficou em segundo lugar, na categoria iniciativas socioambientais do Prêmio ANTAQ (agência que regula o transporte aquaviário no Brasil).  A nossa proposta sempre foi mostrar para as mulheres que o lugar delas é onde elas quiserem e, através dessas histórias, incentivar outras mulheres a buscarem oportunidades de carreira na área portuária. E esse programa vem para respaldar isso e garantir um ambiente profissional de identidade, respeito e de mesmas oportunidades em nossa operação para homens e todas as mulheres.

No primeiro semestre de 2021, nosso Terminal Portuário de Vila Velha derrubou uma barreira em suas atividades portuárias. Pela primeira vez, em 22 anos, uma mulher participou da atracação de um navio e auxiliou na amarração das cordas do nosso Log-In Discovery no cais do porto. A responsável por essa quebra de paradigmas foi uma Operadora de Equipamento Portuário, contratada como motorista pelo projeto.

E os resultados apareceram. Em novembro de 2021, foi realizada uma pesquisa com as mulheres da operação para medir a satisfação em relação ao programa. Além disso, acompanhamos mensalmente em nosso “people analytcs” com a evolução no que se diz respeito a isso. Tivemos um aumento de 190% de mulheres na operação comparado ao ano de 2019. No percentual geral, crescemos 80% do total de mulheres no terminal, também comparado ao ano de 2019.

É notável ainda que a presença das mulheres em nossa operação contribuíram na promoção de um ambiente mais diversificado. Nesse ambiente, a redução de conflitos diminuiu, devido ao engajamento gerado nos colaboradores, propiciando maior respeito às diferenças e uma maior integração e inclusão entre os times.

Enfim, trata-se de um projeto que quebra de paradigmas e foi muito  bacana ver isso se materializar e causar um impacto que certamente influenciará outras empresas. A diversidade deve ser parte integrante da história, cultura e identidade da empresa. A inclusão é a maneira como tratamos e percebemos todas as diferenças.

Precisamos, sim, criar uma cultura inclusiva em que todas as formas de diversidade sejam vistas como um valor real para as pessoas Uma empresa precisa ter a  ambição de oferecer oportunidades iguais a todos, em todos os lugares, e garantir que todos os  funcionários sintam-se valorizados de forma única.  E isso vale em qualquer setor.

*Andrea Simões é Diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Log-In Logística Intermodal 

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