Por Pierre Jacquin*
Em pouco tempo, grande parte do noticiário internacional estará de olho na Copa do Mundo do Catar, que começa no dia 20 de novembro. Além de ser um dos principais eventos esportivos para grande parte da população mundial, a Copa deve alavancar o consumo de alguns itens do varejo, especialmente porque, neste ano, coincide com a Black Friday. Originalmente uma sexta-feira de descontos do calendário norte-americano, hoje o comércio do mundo todo já adotou a temporada como oportunidade para vender mais, com base em grandes descontos.
Pensar no grande consumo esperado para o mês de novembro, com esses dois eventos combinados, também serve como convite para refletirmos sobre como o setor de logística e o supply chain internacional têm se comportado nas últimas semanas, e como têm se reorganizado depois das dificuldades causadas pela pandemia, conflitos geopolíticos, a crise econômica e as interrupções em diversas cadeias de abastecimento – como as de semicondutores, chips e fertilizantes, entre outros.
No entanto, existem outros elementos em jogo que também geram insegurança nos operadores logísticos, como a inflação global. Essa instabilidade já está disseminada na cadeia de suprimentos, pois o preço dos fretes de cargas tem caído, na medida em que a demanda tem recuado – apesar dos picos que possam ser registrados no final do ano. A questão aqui torna-se o custo de manutenção da cadeia logística, já que os contratos de frete geram valores altos para os expedidores ao longo de todo o ano.
Por outro lado, a queda de demanda tem aliviado a pressão nos portos. Mas, em termos práticos, como está o cenário atual? Uma rápida ronda pelo status dos portos mostra que, em outubro de 2022, um dos poucos no qual é possível identificar congestionamento de cargas marítimas está na Costa Leste dos Estados Unidos. Mas, ainda no mesmo país, a situação é diferente em Los Angeles e Long Beach, por exemplo. Nesses dois portos, por exemplo, a redução do tempo de espera para que navios possam atracar caiu 95% em relação a 2021.
Na China, de modo geral, a redução do tempo de espera foi de 60% na comparação entre setembro do ano passado e setembro último. Os portos chineses também registraram uma queda de 20% em relação a agosto. Já os atrasos de navios na Europa caíram 84% em relação ao ano anterior e 14% em relação a agosto. No Reino Unido, a queda anual foi de 68%.
Ou seja, é como se houvesse de fato um problema oculto no alívio em relação aos tempos de espera. É fato que houve melhoria da produtividade no cais e redução do congestionamento portuário, mas a queda de demanda também cumpre um papel. Para compensar essa queda, observamos que as companhias de navegação continuam com planos agressivos para evitar blank sailings (termo usado para definir uma viagem de serviço cancelada) após uma temporada considerada difícil para muitas transportadoras.
Por que isso ocorre? Um dos motivos são varejistas globais, por exemplo, que inflaram estoques devido a problemas na cadeia de suprimentos combinados com a diminuição da demanda. Com a perspectiva de uma recessão mundial no horizonte, os estoques do varejo nos Estados Unidos estão 46% maiores do que antes da crise financeira de 2007. A esse cenário de incerteza soma-se as tensões não somente na Europa, com a invasão da Ucrânia, mas também no Sudeste da Ásia, entre as relações do governo chinês e Taiwan.
Para a cadeia de suprimentos global tudo isso se traduz em imprevisibilidade. E sem uma noção clara do que pode acontecer nos próximos meses, o planejamento se torna mais difícil. Mas, se não existem bolas de cristal, há tecnologia e dados para tomar decisões mais bem ponderadas e mais ágeis, contribuindo para o tão necessário aumento da resiliência nos transportes.
Soluções de visibilidade de ponta a ponta em tempo real, que combinam Inteligência Artificial, blockchain e outros recursos digitais avançados, podem ajudar operadores a realizarem entregas de maneira mais transparente, confiável e pontual. Trata-se de um diferencial importante em um cenário de clientes e consumidores finais cada vez mais exigentes quanto aos prazos de chegada das suas compras. Nesse campo das novas tecnologias para monitoramento e rastreamento, o pontapé inicial já foi dado. E não atualizar as táticas pode ser um gol contra para os operadores logísticos.
*Pierre Jacquin, executivo com mais de vinte anos de experiência nas indústrias de tecnologia, inteligência de mercado e Supply Chain, é vice-presidente da project44 na América Latina.









