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Conteúdo 10 de setembro de 2004

Quem nasceu primeiro: a logística ou a movimentação de materiais?

Aprendemos nos livros que a logística teve grande importância na 2ª Guerra Mundial, no sentido de levar munições e suprimentos para as frentes de batalha. Mas, será isto mesmo?

Lineu Penteado, presidente da Paletrans, pensa diferente. E, nesta reportagem especial, ele também analisa o papel da logística hoje e das associações e outras entidades a ela ligadas. Tudo com base em sua experiência profissional, inclusive como um dos fundadores e primeiro presidente da ABML – Associação Brasileira de Movimentação e Logística, com sede em São Paulo, SP.

Estratégia
Penteado:
A logística é muito ampla para que possamos restringi-la a algo que ocorreu na segunda grande guerra. Lá, na verdade, foram feitas diversas estratégias militares, que já existiam de forma menos eficiente bem antes daquele conflito. Mas, há um detalhe que liga esta “logística” da segunda guerra mundial com a de hoje. Atualmente, a logística é uma arma fundamental para a redução de custos e primordial para, cada vez, se efetuar a mesma tarefa com menores recursos ou com custos mais baixos. Ou seja, escasseiam-se os recursos, e a eficiência das tarefas tem que ser melhorada. Na segunda guerra, o que se fez foi nada mais que isso: os recursos estavam brutalmente escassos e era preciso ser mais eficiente nas tarefas executadas. Entretanto, entendo que a logística é uma evolução que nasceu com a movimentação organizada dos materiais. Assim, quem nasceu primeiro foi a movimentação de materiais.

LogWeb: Então, o que se praticava na segunda guerra era simplesmente movimentação de materiais?
Penteado:
Não, na segunda guerra se praticavam estratégias militares, e vou dar um exemplo. Conheci, pessoalmente, o alemão que criou as carretas bidirecionais por ordem de Hitler. Ele me contou que os alemães necessitavam bombardear com grande intensidade um determinado alvo, e que foram desenvolvidos recursos para que a fábrica de bombas produzisse em grande velocidade para atender a esta necessidade (estratégia militar). Quando a operação teve início, entretanto, percebeu-se que, muito embora a fábrica conseguisse produzir a quantidade suficiente, não se conseguia alimentar os aviões a contento (cada um levava uma bomba), pois os equipamentos de transporte disponíveis atendiam à pista a uma velocidade inferior à do pouso dos aviões. Hitler chamou um grupo de engenheiros, comandados pelo alemão que conheci, para solucionar o problema em no máximo 48 horas, sob pena de fuzilamento. Dentro deste prazo foi criado o comboio de carretas bidirecionais, que trafegava para todos os corredores da fábrica sem colidir com nada, recepcionando as bombas em suas plataformas e levando-as ao campo de pouso com uma velocidade de alimentação superior à do pouso dos aviões. Pergunto, então: este problema é de logística ou de movimentação de materiais? Para mim, é estratégia de guerra, que teve que ser solucionada com a movimentação de materiais.

LogWeb: Então, você afirma que o início é a movimentação de materiais? E quais os caminhos para se chegar à logística?
Penteado:
Se passarmos aos primórdios das indústrias, vamos encontrar que, desde a chegada da matéria-prima à fábrica até a saída do produto acabado, os diferentes materiais vão se movimentando diversas vezes. Ora, tanto mais é eficiente a fábrica sob a característica de movimentação de materiais, quanto menor é o seu momento de transporte, que é definido pelo peso que foi movimentado multiplicado pela distância percorrida. Movimentação de materiais, como ciência, nada mais é do que o profundo estudo de todas as técnicas e de todos os equipamentos que são utilizados para minimizar o momento de transporte. O passo seguinte, logicamente, foi o de aprimorar os estudos sobre layouts internos, para que os materiais não fossem e voltassem diversas vezes, com o intuito de sempre trabalhar no sentido de diminuir o momento de transporte. No passo seguinte percebe-se que a unitização e a padronização de embalagens de transporte, tanto nos materiais inerentes à fábrica, quanto nos produtos acabados, gera uma forte economia na movimentação de materiais. Neste momento, deixamos de falar em movimentação de materiais para começarmos a falar de armazenagem de materiais. Gostaria de lembrar um fato muito interessante: a primeira associação específica deste segmento que funcionou no Brasil chamava-se ABMM – Associação Brasileira de Movimentação de Materiais. Em seguida surgiu o IMAM, então Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais, para finalmente se chegar à mais recente, que é a ABML – Associação Brasileira de Movimentação e Logística. Ou seja, as associações acompanharam a evolução da ciência, movimentação de materiais, em seguida armazenagem para depois se chegar em logística.

LogWeb: E a logística?
Penteado:
A partir do momento que a armazenagem de materiais experimenta uma forte evolução, ela se depara com um problema: a administração, localização e envio dos estoques.
Logicamente, se acelerarmos a movimentação, aumentamos dinamicamente a armazenagem, e a velocidade de informação é violentamente requerida. Então, como já disse, antes nasceu a movimentação de materiais, que evoluiu para movimentação e armazenagem de materiais. E colocaria, aqui, uma interface, que se chama informática, e com ela chegamos à logística. Ou seja, eu diria que movimentação e armazenagem de materiais se consegue fazer sem informática, ao passo que a logística, atualmente, não vive sem informática.

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