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Conteúdo 28 de agosto de 2008

Seminários constatam o óbvio: falta investimento

Seminários em Brasília e São Paulo constatam o óbvio: apesar do avanço tecnológico dos veículos, falta investimento em infra-estrutura viária.

Depois que foi denunciada a ameaça real de paralisação do trânsito das grandes cidades em um interminável congestionamento, a questão da mobilidade urbana passou a ocupar cada vez mais espaço nos noticiários e na preocupação de leigos e autoridades. Dois seminários importantes, um organizado pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) em Brasília e outro, promovido por SAE Brasil e Anfavea, em São Paulo, trataram, mais uma vez, de reforçar a obviedade do diagnóstico que aponta a dobradinha excesso de veículos mais falta de infra-estrutura viária como responsável pelo problema.

Ao contrário do escritor Nelson Rodrigues, criativo até na lavra de um bordão como seu “óbvio ululante”, as autoridades do setor seguem se perdendo na mesmice de sempre. Depois daquelas intermináveis e aborrecidas citações dos nomes de todos os políticos e autoridades presentes nas salas de palestra, parecem não ter mais nada a dizer. Inclusive, tampouco admitem que é delas a responsabilidade por décadas de imobilismo e falta de planejamento urbano que contribuíram para as caóticas perspectivas de hoje.

No evento de São Paulo, Jackson Schneider, presidente da Anfavea, é direto ao mandar seu recado. Depois de anunciar números recordes de produção da indústria automobilística e prever a montagem de 3,06 milhões de unidades em 2008, ele bate: “Queremos crescer mais ainda”. Em outras palavras, organizar trânsito e infra-estrutura é papel de governo. A indústria quer mais é vender.

Frear o consumo, de acordo com o executivo, significaria frear também a economia. A indústria automobilística, que gerou R$ 32,8 bilhões em tributos em 2007, emprega 1,3 milhões de pessoas e contribui com US$ 13 bilhões/ano para o superávit na balança do comércio exterior. Essa indústria programa investir US$ 20 bilhões nos próximos três anos, para aumentar sua capacidade produtiva e atingir a marca de quatro milhões de unidades/ano. Esses dados confirmam que a frota vai continuar crescendo até 2014. Politicamente, Schneider aponta como saída ênfase maior em planejamento urbano, infra-estrutura viária e ações integradas entre indústria, governo e sociedade.

A situação tende a se agravar cada vez mais. Schneider comentou que já vê mudanças, com a migração de novos consumidores das classes D e E para a C. “Vivemos a alta do consumo, impulsionada por 20 milhões de pessoas que tinham o desejo reprimido de adquirir um automóvel”, afirma.

Gargalo

“O crescimento da frota travou a circulação, considerando que há insuficiência de investimentos em transporte de alta capacidade e em infra-estrutura viária. O resultado são os congestionamentos acima de 200 km na capital paulista e baixa velocidade média de circulação”, afirma Marcos Cintra, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas. Para São Paulo ter transporte coletivo de boa qualidade seriam necessários 300 km de linhas de Metrô, frente aos parcos 65 km existentes hoje, pelos cálculos do pesquisador.

O gargalo representado pelo trânsito provoca enormes custos extras à sociedade: o que se deixa de produzir enquanto está parado no trânsito pode ser estimado em R$ 26 bilhões em 2007. Os custos pecuniários com combustível adicional podem ser estimados em outros R$ 4,1 bilhões. “Somando-se esses gastos com os gastos com saúde por problemas da maior poluição causada pelos congestionamentos e o acréscimo do custo do transporte de cargas, o total de prejuízos com congestionamentos em São Paulo é de R$ 33 bilhões ao ano, o equivalente a 10% do seu PIB”, prossegue Cintra.

“O automóvel é o príncipe do consumo, porque permite não apenas a locomoção, mas proporciona liberdade individual de ir e vir, quando se quer e com quem se quer”, diz Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista. Na opinião do Wilheim, para termos mobilidade seria preciso incentivar as pessoas a morar, trabalhar, estudar, relaxar e comprar no mesmo bairro. “Além disso, um sistema de transporte público eficiente e confortável”.

Enquanto realidade melhor não chega, um paliativo emergencial seria a revascularização do trânsito, aproveitando malhas viárias pouco utilizadas da cidade e desafogando as marginais. Muita gente insiste no transporte individual por falta de alternativas. Como boa parte da força de trabalho nas grandes cidades tem necessidade de locomoção somente para ir, pela manhã, e voltar, ao final do expediente, deixando o carro parado durante todo o dia, na verdade essa parcela de pessoas nem precisaria tirar o carro de casa se tivesse opção. Nesse caso, a opção, e de baixo custo, seria a reprogramação de linhas de ônibus privilegiando rotas dos bairros até os principais pontos de concentração dessa força de trabalho, além de se equipar essas linhas com veículos de maior conforto.

Brasília

O ministro das Cidades, Márcio Fortes, conseguiu a proeza de participar dos dois seminários e dizer quase nada em nenhum deles. Em São Paulo, pelo menos, contou que o governo lançará, em breve, o PAC da Mobilidade Urbana, focado no incremento do transporte coletivo, integração entre os modais, expansão das linhas e investimento em corredores de ônibus, entre outras medidas. “Pretendemos investir mais pesado a partir do ano que vem”, promete, sempre remetendo ao futuro.                

O jornalista e professor da PUC, Alexandre Teixeira, destacou em sua palestra cinco fatores que prejudicam o uso do transporte público pela sociedade: filas, preço da tarifa, individualismo, desrespeito e violência. “A sociedade quer segurança, respeito, tratamento adequado e um baixo custo-benefício. Ninguém quer ficar horas na fila esperando um ônibus”, acrescenta. Teixeira destaca ainda que a falta de colaboração do governo com o setor de transporte público impede que as empresas busquem melhor gerenciamento de suas frotas. “Até para divulgarmos campanhas em nossas frotas é preciso pedir autorização do poder público. Este fato dificulta a melhora do transporte coletivo”.

No segundo dia do Seminário Nacional NTU, destaque para o painel “O papel da Comunicação Social e do Marketing na Promoção do Ônibus Urbano”. O principal tema abordado foi a falta de investimento do poder público em infra-estrutura. O sociólogo e professor da UFRJ e Universidade Gama Filho, Carlos Alberto Rabaça, ressaltou que em 2010 haverá gargalos ainda maiores na infra-estrutura urbana e interurbana do país. O empresariado terá de estar atento para que suas empresas sobrevivam aos desafios como crescimento econômico, falta de mão-de-obra qualificada e aumento na demanda do transporte urbano nos próximos anos. No mesmo painel, Rabaça observou a necessidade de investimento em qualificação de mão-de-obra no setor de transporte público.

 

Fonte: www.transpoonline.com.br

 

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