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Conteúdo 16 de dezembro de 2013

Gargalos logísticos são o principal desafio para operadores portuários

Apesar de contarem com um bom desempenho ao logo desse ano, executivos deste setor criticam a infraestrutura precária nos portos e seus acessos, e também o excesso de burocracia que dificulta a abertura de novos negócios.

Priscilla Cardoso

O ano de 2013 foi bastante movimentado para o segmento de operadores portuários e retroportuários. Porém, mesmo contando com um bom desempenho, as empresas tiveram que lidar com diversas mudanças que afetaram e ainda podem afetar o crescimento do setor.

A Medida Provisória 612/2013, que reestrutura o modelo jurídico de organização dos recintos aduaneiros de zona secundária, foi um dos fatores que mais movimentou a área esse ano.

“A chegada de novos players ao mercado tem movimentado o setor. Outro fator de destaque para o momento está relacionado à Medida Provisória 612 – que, entre outras medidas, reestrutura o modelo jurídico de organização dos recintos aduaneiros de zona secundária, altera a Lei no10.865, de 30 de abril de 2004, e a Medida Provisória no 601, de 28 de dezembro de 2012. Com pendências na autorização e liberação para novos recintos alfandegados, grande parte das companhias aguarda definição para que decisões estratégicas sejam tomadas”, diz o diretor de operações da Elog Logística (Fone: 11 3305.9999), Paulo Vaz.

Outro fator bastante discutido pela área são as modificações introduzidas pela Lei dos Portos. Segundo o superintendente administrativo da Portonave – Terminais Portuários de Navegantes (Fone: 47 2104.3300), Osmari de Castilho Ribas, o segmento portuário avalia, no momento, as mudanças e o impacto que elas devem trazer.

“Espera-se que este novo marco regulatório seja o início de uma fase de ampliação e modernização da infraestrutura portuária e que proporcione maior competitividade, mais eficiência e menores custos. A operação portuária tem o grande desafio de se adequar ao tamanho da economia do país e ser capaz de criar condições para que tenhamos um crescimento sustentável”, afirma ele.

“Existem algumas incertezas no mercado, principalmente por conta de regulamentações de isenções de impostos de importação e volatilidades do volume de bens importados”, também comenta o diretor-presidente da Tegma (Fone: 11 4346.2500), GennaroOddone.

Além dessas mudanças, o segmento de operadores portuários e retroportuários sofre com os gargalos logísticos que afetam os portos pelo Brasil. Apesar da atração de novos investimentos e de um bom crescimento em 2013, os problemas de infraestrutura logística para entrada nos principais portos do país foram notícia ao longo do ano.

Segundo dados do Anuário de Conteinerização Internacional 2012, o tráfego de contêineres nos portos brasileiros triplicou de 2000 até 2011. Mas, segundo levantamento do Relatório de Competitividade 2011 do Banco Mundial, a qualidade de infraestrutura portuária do país se manteve, de 2007 até 2011, quase no mesmo patamar de 2,7, sendo que a nota mínima, dada aos portos extremamente subdesenvolvidos, é de 1 ponto.

“Assim como a área portuária, o setor de operadores retroportuários vem crescendo, atraindo novos investimentos e contribuindo para melhorar a estrutura logística do país como um todo. O que se percebe é que mesmo em tempos de crise, os gargalos estão se tornando cada vez mais crônicos. Quando falamos em gargalos, eles não se restringem somente às vias, aos portos e equipamentos, mas, também, à mão de obra qualificada que atenda à demanda. Falta foco na atividade em conjunto com a área portuária, vias de acesso e órgãos governamentais. Existe excesso de burocracia para abertura de novos negócios, que infelizmente já fazem até parte dos cronogramas de projetos, atrasando sobremaneira os empreendimentos. Também faltam incentivos fiscais na importação de equipamentos”, afirma o gerente corporativo da Conlog – Terminais da Concórdia Logística (Fone: 49 3441.3333), Ony Marcelo da Silva Júnior.

“Vários são os problemas encontrados. Entre eles está a falta de uma maior conexão entre os modais, que proporcione condições adequadas para chegar aos terminais portuários. É necessário estabelecer uma logística integrada para atender a demanda crescente do país. Podemos citar, também, alguns velhos conhecidos, como canais de acesso, rodovias em precárias condições, dragagem, bacia de evolução, burocracia, etc.”, também comenta Ribas, da Portonave.

Além de também citarem a questão de infraestrutura, os executivos da Santos Brasil (Fone: 13 3344.1000) identificam outros problemas no setor, como falta de equipamentos e oscilação da demanda.

“O setor enfrenta alguns problemas no momento atual, como infraestrutura precária das estradas, que provoca gargalos nos portos brasileiros, oscilação da demanda do mercado, falta de equipamentos específicos, entre outros. O transporte pode ser citado como um dos maiores desafios em relação aos serviços prestados pela Santos Brasil no segmento de logística. Além da logística de entrega, há o prazo estabelecido para a chegada do produto no cliente, de acordo com a demanda de produção da fábrica. Isso esbarra não apenas em um controle de estoque preciso, mas, também, no tempo de percurso que depende de fatores alheios ao empenho do Operador Logístico, mas que devem ser, se possível, previstos”, explicam o diretor de operações logísticas da Santos Brasil, Ricardo Molitzas, e o diretor do Tecon Santos da Santos Brasil, Luiz Felipe Gouvêa.

Já o diretor-presidente da Gelog (Fone: 13 3296.3330), Adriano Fajardo, destaca como principais problemas a desregulamentação da atividade dos pátios de contêineres vazios e a falta de uma uniformização nas operações dos terminais marítimos.

“Em nossa ótica, os maiores problemas podem ser classificados em duas situações: a total desregulamentação da atividade dos pátios de contêineres vazios, que mal sobrevivem com os valores pagos pelos armadores. Isto faz com que não consigam operar 24 horas e causa enorme estresse no trânsito já extremamente caótico do sistema portuário. E, também, a total falta de uniformização nas operações dos terminais marítimos, onde cada um dita sua própria norma, embora todos estejam sob a uniforme regulamentação da alfândega local. Também podemos citar o sistema viário que atende as duas margens do Porto de Santos. Ele é visivelmente inadequado ao movimento atual, causando enormes prejuízos, com perdas de programação na retirada e entrega de cargas na zona primária de fiscalização e demais consequências”, explica ele.

Soluções
Sobre as mudanças que poderiam amenizar e até solucionar esses problemas, Fajardo, da Gelog, fala sobre a dificuldade de sanar as questões de infraestrutura de acesso aos portos. Segundo o executivo, a Prefeitura de Santos afirma ser necessário em torno de R$ 800 milhões para resolver os problemas causados pelo precário acesso ao sistema portuário.

“A Prefeitura diz ter obtido financiamentos de R$ 240 milhões e busca, junto aos poderes estadual e federal, a complementação para viabilizar o início de um conjunto de obras que finalmente irão resolver o problema. A questão é que, se obtido o restante destes recursos, ainda assim haverá certa demora na aprovação das licenças ambientais. Acreditamos que nada será resolvido pelos próximos cinco anos”, lamenta ele. “Queremos dizer que a solução existe e está desenhada, mas a burocracia sempre a trava. Esperamos que a devida relevância deste assunto para o comércio exterior brasileiro, para o bem-estar da população dos municípios adjacentes e, também, para o meio ambiente, crie uma forte conscientização das instâncias públicas responsáveis quanto à urgência requerida”, completa o diretor-presidente da Gelog.

Já os executivos da Santos Brasil e da Portonave destacam a importância de se trabalhar com a modernização da infraestrutura logística e com novas tecnologias.

“A solução para esses problemas é trabalhar com eficiência e investir em inovação, tecnologia, além de promover constantemente a capacitação e o treinamento dos funcionários. Essas são algumas ações que possibilitam maior controle da operação. Com isso, é possível trabalhar com um planejamento mais rigoroso, que conte com imprevistos alheios às atividades da empresa, como trânsito, e que atenda às determinações definidas por contratos e às necessidades exclusivas de cada um dos clientes”, afirmam Molitzas e Gouvêa, da Santos Brasil.

“A solução é o planejamento de longo prazo e baseado na ampliação e modernização de toda a infraestrutura logística. Criar condições que motive a iniciativa privada a investir, para eliminar os pontos de restrição. E a consequência disso será o crescimento econômico e a geração de empregos. Precisamos avançar no sentido de reduzir custos também pelo estímulo à concorrência. A adequação da infraestrutura logística do país implica em investir no desenvolvimento de técnicas modernas de gestão e na qualificação e treinamento da mão de obra”, também comenta Ribas, da Portonave.

Perspectivas
Para os próximos anos, a expectativa de quase todos os executivos do setor de operadores portuários e retroportuários entrevistados pela Logweb é de que o mercado tenha um maior volume de investimentos e, consequentemente, mais crescimento.

Mas, para o gerente corporativo da Conlog, esse desenvolvimento também exigirá mais planejamento e mais infraestrutura. “As perspectivas para os próximos anos são de muito crescimento, porém, deverá haver maior planejamento e coordenação da atividade. E abertura de novas áreas para terminais alfandegados”, afirma Silva Júnior.

“O mercado acredita que, em médio prazo, haja um equilíbrio entre demanda e oferta. Também acreditamos que os clientes buscarão, cada vez mais, empresas especializadas em moldar soluções adequadas particularmente a cada um deles”, também comenta Vaz, da Elog Logística.

Dentro da Gelog, a expectativa é de que a implementação da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e do Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e) ajude a trazer maior transparência para o setor, permitindo, assim, que o mercado se desenvolva melhor.

“Acreditamos que a exigência da implantação da NF-e e do CT-e poderá trazer maior transparência para as atividades logísticas como um todo, já que a amarração online não permitirá manobras danosas aos cofres públicos. Esta situação será, sem dúvida, benéfica a todos aqueles que pautam por boa prestação de serviços e custo benefício adequado à manutenção da saúde financeira de suas empresas”, diz Fajardo, da Gelog.

“Continuamos com uma estratégia conservadora, mas acreditamos que as parcerias entre os setores público e privado poderão melhorar a eficiência da gestão portuária e, assim, atrair melhorias para toda a cadeia logística, com oportunidades de novos investimentos, modernização da infraestrutura e redução de custos no transporte”, pondera Oddone, da Tegma.

Já na Santos Brasil, a expectativa é bastante positiva. Os executivos da empresa acreditam que o país oferece grandes possibilidades de expansão e crescimento para empresas que atuam nesse mercado.

“Para isso, a empresa tem investido sistematicamente em tecnologia de ponta, em equipamentos modernos e na gestão de pessoas. Criada há 15 anos para operar o Tecon Santos, a empresa já investiu um total de R$ 3 bilhões. E hoje possui 55% do marketshare do Porto de Santos, o maior do país, e 20% da movimentação de contêineres de todo o país”, afirmam Molitzas e Gouvêa.

“A perspectiva é que tenhamos um maior volume de investimentos aplicados de forma simultânea em toda a infraestrutura logística e, também, uma maior concorrência. O crescimento da demanda irá pressionar todo o segmento por maior produtividade e menores custos operacionais. A inteligência logística será fundamental para aperfeiçoar os processos de comércio exterior, enquanto os necessários investimentos em infraestrutura física não forem viabilizados”, também comenta Ribas, da Portonave.
 

Tabela 1

Tabela 2

Volvo
Enersys
Savoy
Retrak
postal