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Conteúdo 3 de abril de 2009

Estradas são usadas como se fossem avenidas

Os grandes congestionamentos já deixaram de ser a marca registrada apenas das maiores avenidas paulistanas. Eles se expandiram para fora da cidade e vêm dominando a paisagem também nas estradas que dão acesso a São Paulo. Entre 1997 e 2007, a pesquisa “Origem e Destino” detectou um grande aumento no chamado Volume Diário Médio (VDM) do tráfego em sete das dez rodovias que servem a capital: somando todas as estradas, de 291 mil veículos, em 1997, para 397,5 mil, em 2007, um crescimento de 36,6%. Conclusão: cada vez mais gente vem de fora trabalhar ou estudar na capital, pegando a estrada todos os dias.

Especialistas consideram que um tripé de causas responde pela expansão. O primeiro ponto é o ganho de qualidade das rodovias, cujas concessionárias são obrigadas a manter, por meio de obras e outras benfeitorias previstas nos próprios contratos de concessão. Assim, elas atraem mais usuários. Depois, o aumento da frota de veículos, possibilitado pela boa situação econômica no período e o acesso fácil a crédito e financiamentos.

Finalmente, o adensamento das ocupações ao longo das próprias estradas ou bairros próximos, de diversas cidades, principalmente em condomínios que atraem compradores oferecendo imóveis com preços mais baixos do que em São Paulo e “qualidade de vida” – simbolizada pela proximidade com a rodovia, no estilo “more a poucos minutos da capital”. Pela facilidade de acesso, empresas também respondem por parte dessa demanda. Áreas típicas desse tipo de expansão imobiliária são a Granja Viana, cortada pela Rodovia Raposo Tavares, bairros de Osasco e o município de Vinhedo, próximos da Via Anhanguera.

Segundo a OD, o volume diário médio apresentou aumento em sete das dez rodovias analisadas. São elas: Fernão Dias (a campeã do crescimento, com 126% mais movimento no período da pesquisa), Via Dutra (119% a mais), Anhanguera (92% a mais), Bandeirantes (33% mais tráfego), Régis Bittencourt (VDM 83% maior), Imigrantes (crescimento de 34%) e Raposo Tavares (33% a mais). Só Castelo Branco, Anchieta e Ayrton Senna tiveram redução no volume de veículos, de 4%, 8% e 36%, respectivamente.

“As estradas passaram a ter característica de vias de curta distância. Viraram grandes avenidas”, aponta o doutor em Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. “Existe um processo de suburbanização (crescimento das cidades para fora dos limites) muito grande em torno de São Paulo. As classes A e B passaram a ocupar grandes condomínios fechados, ao longo das rodovias. Já C e D, residentes em municípios menores, tiveram o poder aquisitivo melhorado e começaram a ter acesso a veículos”, explica Resende. Com a maioria dos empregos e as boas faculdades concentradas na capital, a consequência, diz ele, é a “explosão” dos congestionamentos nas vias de acesso – justamente as estradas.

É no sistema Anhanguera/Bandeirantes, que conecta a capital com a Região Metropolitana de Campinas, que o processo de conurbação – ligação entre manchas urbanas, que somam 22 milhões de habitantes – é mais intenso: não há ali, segundo estudo da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), mais do que 14 quilômetros livres entre bairros. Não por acaso, são essas as duas rodovias que respondem pelo maior movimento de veículos que vêm de fora da capital a São Paulo – 131 mil por dia em 2007, frente a 88 mil em 1997.

“Isso mostra que a mobilidade diária já extravasa a própria área metropolitana de São Paulo. Claramente, é um problema de uma região macrometropolitana”, diz a pesquisadora e urbanista Silvana Zioni, especialista em transporte da Universidade Mackenzie. Segundo ela, não só residências, mas também empresas, são atraídas por um “fator indutor de desenvolvimento provocado pelas boas estradas”, incentivando o adensamento das margens das rodovias.

A concessionária responsável, AutoBan, informou que a “qualidade” das rodovias foi justamente um dos fatores que incentivaram o deslocamento de moradores da capital para o interior, ocupando as margens da rodovia. Por causa disso, a empresa informou que investiu em obras como a ampliação da Bandeirantes de três para quatro faixas, entre São Paulo e Jundiaí, e vem trabalhando atualmente no trevo de acesso à Via Anhanguera, a partir da Ponte Atílio Fontana, na Marginal do Tietê. A obra da primeira ponte está em fase final.

Qualidade também foi fundamental para explicar o grande aumento do trânsito na Fernão Dias, da região de Guarulhos e Atibaia, em direção a São Paulo, classificada pela OD como a estrada onde o movimento mais cresceu no período 1997/2007. “Desde que foi concluída a duplicação do trecho paulista, há oito anos, muita gente que pegava outras avenidas, como eu, passou a cortar o movimento pela Fernão, que até então era péssima”, diz o gerente de vendas Antonio Anísio, de 45 anos, que mora em Atibaia e trabalha na capital.

Rotina

Com isso, os congestionamentos viraram rotina no acesso a São Paulo. Laís Duarte, também moradora de Atibaia, diz que sofre com o trânsito maior na estrada de dois anos para cá. “Quando fui morar em Atibaia há quatro anos, em busca de qualidade de vida, só eu fazia a rota até a capital. Hoje, tenho quatro vizinhos, entre eles um advogado e um técnico em informática, que fazem o mesmo.”

A Fernão Dias está sob concessão desde fevereiro do ano passado.

 

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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