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Conteúdo 18 de janeiro de 2012

São Paulo, uma “contingência”

Nos planejamentos de transporte e logística existe um item chamado “contingência”. Ele aborda trechos do trajeto das mercadorias onde tudo o que pode dar errado, provavelmente vai dar. Em geral são regiões afetadas por desastres naturais, instabilidade política ou com infraestrutura sofrível, onde a passagem de um caminhão, avião ou trem é um evento imprevisível. Pois São Paulo, a cidade mais rica do país, se tornou uma “contingência”.

A deterioração da estrutura viária da cidade, observada por décadas, a quantidade de veículos crescente, as inundações e a falta de modais alternativos transformaram o local onde deveria haver um ambiente ideal para os negócios em uma âncora para as empresas.

Atualmente, se movimentar por São Paulo é um salto no escuro. É impossível calcular o tempo e o dinheiro que serão gastos para cumprir qualquer trajeto. No caso do transporte de produtos perecíveis é uma aposta de vida ou morte; e a possibilidade de prejuízo total é constante. Nenhuma economia se desenvolve nesse cenário. Para as empresas de São Paulo que necessitam transportar seus produtos, o que resta nesse momento é sobreviver da melhor maneira possível.

Independente dos governos, a situação vai continuar ruim por muito tempo e o mais provável é que ainda piore antes de melhorar, se melhorar. O esforço dos empresários deve se concentrar agora em como atuar dentro do caos. Não é fácil, mas é a única alternativa.

O primeiro passo é admitir o estado de “contingência” e planejar a partir disso. O transporte de mercadorias deve passar a ser tratado como estratégico e se estabelecer uma equipe dedicada exclusivamente para cuidar da área. Em muitos casos, a melhor solução é confiar a atividade a uma empresa especializada, pois as soluções logísticas vão exigir inovação e criatividade.

Os principais avanços da área nos últimos anos estão inutilizados em São Paulo. Formatos como o just in time, que considera a entrega das mercadorias no exato momento em que será utilizada e dispensa a necessidade de grandes estoques, trouxeram ganhos expressivos para o processo produtivo e resultaram em preços mais baixos para os consumidores. Para que funcione, porém, é necessário um mínimo de previsibilidade no transporte, especialmente quanto ao tempo de deslocamento. Outras soluções conhecidas e de comprovada eficiência também dependem desse requisito que, infelizmente, está extinto em São Paulo. As empresas terão que reinventar. A começar pelos equipamentos.

Os antigos caminhões se tornaram obsoletos na cidade. O trânsito pesado impede o deslocamento com agilidade e a infraestrutura precária torna os custos de manutenção proibitivos. Novos planejamentos devem envolver veículos mais leves, mesmo com a consequente perda de capacidade de carga.

Será necessário um sistema de monitoramento constante das vias utilizadas. Nem sempre o caminho mais curto é o mais rápido e barato. As informações sobre as condições de tráfego devem circular instantaneamente entre os profissionais e permitir alterações rápidas nos planos iniciais.

Os trajetos devem ser encurtados ao máximo. Para isso, é interessante estudar a viabilidade da criação de pequenos centros de distribuição em diferentes regiões da cidade. Também está provado que qualquer tipo de movimentação ocorre com mais facilidade em horários alternativos. Tudo o que for possível deve ser transportado durante a madrugada e nos finais de semana, mesmo que isso implique em aumento de custos com pessoal.

Também é bom explorar o princípio de que o cliente tem o mesmo interesse em receber do que a empresa em entregar. Soluções compartilhadas podem ser uma boa alternativa para manter o fluxo dos negócios.

Por fim, não esperar por soluções vindas do poder público não significa abrir mão da cobrança por elas. Pelo contrário, empresas e a população, que são os verdadeiros prejudicados, devem pressionar para que as autoridades assumam suas responsabilidades e promovam os avanços necessários na área de infraestrutura.

Mais que isso, a iniciativa privada deve se apresentar como parceira dos governos nessa empreitada e é fundamental que a administração pública admita que recuperar a infraestrutura do país é uma tarefa pesada demais para ela realizar sozinha. Se os governantes não utilizarem melhor instrumentos como as PPPs, por exemplo, as “contingências” vão se multiplicar pelo país.

 

Antonio Wrobleski Antonio Wrobleski

Especialista em logística, presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008. Em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu há 13 anos e pratica o esporte há 30 anos.

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