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Conteúdo 24 de fevereiro de 2012

O que você quer ser quando ficar velho?

Uma pergunta que nos persegue desde que começamos a falar é a famosa “o que você quer ser quando crescer?” Sonhos, fantasias afloram e passamos a vislumbrar as mais desejadas profissões: Médicos, pilotos de caça, bombeiros, astronautas…

Num belo dia de aula, na segunda série do ensino fundamental, arranquei gargalhadas dos meus coleguinhas quando, indagado pela professora sobre esse tema, respondi que gostaria de ser um ótimo funcionário. Sempre gostei de pensar que para tudo há um começo, um primeiro passo. Ninguém dorme com uma ideia e acorda realizado. A realização é uma caminhada que pode durar a vida inteira.

Muitas pessoas só enxergam a linha de chegada e não comemoram a realização em cada passo. Estas estão fadadas a desistir, pois não valorizam as vitórias nem aprendem com as derrotas que compõem esse tão complexo anseio humano. Afinal, a realização deixou de ser uma simples sensação de felicidade e contentamento com aquilo que podemos alcançar para se tornar um conjunto de realizações pessoais, financeiras e sociais. Muitas vezes inalcançáveis, outras parciais. Quase sempre optamos pelo financeiro e deixamos nossos verdadeiros sonhos para depois.

Optamos por um ou outro mercado que, quase sempre, é injusto quando nossa idade avança. Em muitos países – principalmente asiáticos – a experiência adquirida se valoriza todos os dias. Profissionais de maior idade são tidos, não só como consultores, mas como “lemes” de ideias que impulsionam novas realizações. Inovação e experiência andando juntas. Isso é fantástico! Muito necessário para que um novo projeto não vire um devaneio e para que a sabedoria não traga acomodação.

No Brasil, infelizmente, isso não funciona assim. Um “quarentão” – como eu – já é visto como “página virada” por muitos mercados. Não importa se você acompanha o mundo tecnológico. Parece ser uma questão cultural. Isso se deve muito ao estilo, à conduta de nosso sistema abraçado diariamente. A experiência é confundida com esperteza. Saber “onde dorme a coruja” é, muitas vezes, ameaçador ou usado em benefício próprio e não em prol de um objetivo comum. Para muitos, reter conhecimento é sinônimo de segurança dentro de uma organização.

Geralmente a inovação diz que não precisa da experiência e essa deseja que a nova ideia afunde por tê-la desprezado.

O mundo mudou muito em um século. Grandes pensadores, filósofos, empreendedores, são lembrados até hoje por suas ousadias. Inspiram novos profissionais e são exemplos de realizações. A grande maioria se destacou após os cinquenta anos de idade. Tiveram suas ideias concretizadas segundo experiências próprias e de outrem. A instantaneidade do sucesso tirou o valor da experiência deixando-o volátil nos dias de hoje.

Um jovem pode sim, conduzir ideias maravilhosas. Um “não muito jovem” pode sim, conceber novas ideias. Não cabe a um ou outro um único papel de “combustível” ou de “ferramenta”. Ambos podem ser ideia, energia e experiência. Juntos então, se respeitando, podem ser imbatíveis.

A vida é um grande projeto que precisa ser realizado, checado e reparado todos os dias. Estamos sempre tão ocupados com a lida diária que esquecemos que envelhecemos. O que nos espera? Como estaremos daqui um tempo?[…] Não sabemos. Muitos não querem nem pensar. Essa história de viver só o agora não lhe torna responsável consigo mesmo.

 

Mas podemos ser mais efetivos, mais atuantes. Esse futuro não precisa ser tão incógnito. O que faremos? O que seremos? Essas respostas são dadas ao longo do seu passado. No mínimo, estranho! Contudo, nunca pensamos que nossos corpos amanhã estarão reclamando pelo que lhes foi exigido. Trabalhamos tanto e não pensamos do que viveremos quando não podermos mais trabalhar – devido à idade ou pelas exigências do mercado – e nos damos conta que o que temos é uma aposentadoria insuficiente e injusta. Não seria um contra-senso perseguir um sucesso financeiro durante a juventude e não pensar que, mais tarde, aquilo que persegui não me é satisfatório? Talvez fosse mais feliz hoje se tivesse sido o que quisesse ter sido. Deixei que escolhessem por mim e agora não posso colher aquilo que não me pertence.

Retiro a amargura desse texto com um simples comentário: hoje vivo a fase mais feliz da minha vida. Talvez porque quis ser aquilo que pude alcançar me esticando ao máximo, na ponta dos pés e dando bons saltos conscientes. De um bom salto a outro, é necessário estruturar bem aquilo que chamo de degraus: confiança, amizades, dedicação, preparo e um bom uso da experiência. Se não houver a construção de degraus para esses saltos, sonhar alto pode representar muita dor numa queda.

Não há motivos para pânico, desde que haja planejamento. Antecipo uma verdade: é bem mais fácil e melhor a felicidade após os quarenta. Revela-se uma nova caminhada. Claro que são novas dificuldades, mas as experiências trazidas por uma juventude bem vivida e aprendida são bons atalhos que precisam ser bem aproveitados nos mais diferentes mercados. Quando jovem, o mercado lhe procura; depois, é você quem o acha.

Não, não estou vendendo planos de previdência privada – embora acredite que todos nós devamos pensar em fazer um. Na verdade, não nos custa abrir os olhos e manter os pés no chão. A vida chega para nos fazer essa pergunta: “o que você quer ser quando ficar velho?” Na maioria das vezes, ela chega com essa pergunta sem que tenhamos, sequer, respondido a primeira ao crescermos. O tempo é algo que jamais poderemos driblar.

Você acompanha você para o resto da vida. O mercado lhe acompanha enquanto útil você lhe for. Opte por você. Realize-se! Responda-se: O que eu quero ser quando ficar velho?

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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