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Conteúdo 15 de janeiro de 2012

O gigante de pedra

Num reino não muito distante, o povo admirava um soldado de pedra construído pelo rei e que ganhara vida sob os olhos arregalados dos que comentavam que agora estariam protegidos contra as ameaças de outros reinos. Eles pensavam nas maravilhosas possibilidades por agora estarem sob o domínio de um rei tão poderoso. Agora, o povo teria sucesso e até trabalharia bem menos, pois sem os inimigos que rondavam sua economia, as vantagens do trabalho que realizavam seriam usufruídas pelo próprio povo.

À medida que a admiração pelo soldado de pedra crescia, ele crescia junto. Não demorou para que todos o chamassem de “o gigante de pedra”. E quanto mais o povo o admirava maior ele ficava. Quão belo parecia aquele gigante imponente! Ele representava agora a aceitação do povo em trabalhar exclusivamente para o reino em troca de certas vantagens. Afinal, agora eles trabalhavam menos, estudavam menos e pareciam mais felizes com as facilidades diante de uma nova proposta de vida.

Com o passar dos tempos, o povo se deparou com algo que nunca havia experimentado: a fome. Enquanto isso, o rei esbanjava em festas e outras futilidades que se encarregavam daqueles recursos que vinham de forma fácil e o gigante já não era tão admirado, pois era ele o cobrador e arrecadador desses recursos. Se o povo não o admirava tanto, o rei o tinha como seu principal e fiel colaborador e, por isso, ele continuava imponente.

Não demorou para que o povo constatasse que aquele gigante o levaria à ruína. Agora era necessário mais trabalho para que o que produzia, após a cobrança do gigante, sobrasse o suficiente para seu sustento. Parecia em vão. Quanto mais se trabalhava, mais necessidades passava! O povo, cada vez mais, participava menos do reino, pois sem os estudos que proporcionavam novas descobertas, esse reino descartava as mentes menos brilhantes, interessando-se apenas pelas mãos dessas pessoas e, para aqueles que compartilhavam dos sabores do reino, havia a proteção do gigante de pedra. O reino estava dividido.

O povo apelava para a bondade do gigante, mas ele arrasava vilarejos improdutivos. Apelava-se para sua sensibilidade em deixar um pouco de alimento para que aquelas pessoas pudessem, pelo menos, continuar a trabalhar para o rei. Mas logo perceberam que, se o gigante tinha coração, também era de pedra.

Eles agora se perguntavam o que fazer. Eram vítimas de suas escolhas e da admiração por aquele gigante que representava as vantagens de levar uma vida mais cômoda.
Planejaram uma emboscada que destruiria o gigante, mas como nem todos compareceram, alguns com medo, outros por acharem que não tinham nada a ver com isso, fizeram com que outros fossem para suas casas e, os que ficaram, foram pisados pelo gigante. Depois, tentaram explodi-lo. Acontece que no meio do povo havia muitos simpatizantes do gigante que avisaram ao rei em troca de umas moedas. Ninguém podia com aquele gigante.

O tempo foi passando e o povo, cada vez mais vítima, percebeu definitivamente que aquele gigante de pedra era uma vigorosa ferramenta do reino. Ou seja, já não adiantava combater somente o gigante. Enquanto a solução para muitos era que cada um tivesse seu próprio soldado de pedra e, com sua admiração, ele também se tornasse um gigante, outros pensaram no ponto fraco daquele sistema que devastava suas vidas. Concluíram que aquilo que o reino mais temia era a inteligência do povo, pois inteligente, ele não admiraria mais seu gigante e, pela falta de admiração, o gigante voltaria a ser um simples soldado de pedra, sem vida. Uma estátua.

Ora, não foi difícil perceber que aquele gigante havia trocado a educação e o trabalho por certas regalias concedidas àqueles que partilhavam dos seus propósitos. Logo, a forma de combatê-lo seria invertendo essa situação, largando o que ele oferecia e abraçando o que ele mais detestava.

Contudo, como o reino já estava dividido, muitos se aliaram ao gigante, outros construíram seu próprio soldado de pedra e anseiam por dar-lhe vida, outros deixaram de admirar o gigante de pedra que, agora, lhes parece menor e buscam, cada vez mais, formas de diminuí-lo, de exterminá-lo, mesmo ainda tarefa difícil enquanto houver outros que o admiram.

Acredite, essa estória passa a ser história em muitos casos, em muitas situações reais. É uma grande realidade no mundo, no Brasil e dentro de cada um de nós. Interprete-a como quiser. Não importa se o gigante de pedra é a corrupção, a falta de educação, as drogas, o desinteresse, a falta de respeito pelos outros, algo que você precisa vencer… Seja o que for não se encante, não o admire para que cresça a ponto de ficar indestrutível. Mesmo um gigante, tem seu ponto de partida. Nossa omissão deixa grande e forte aquilo que era pequeno e fraco. Analise seus pontos fracos e não se iluda com as facilidades oferecidas. Toda vitória é precedida de suor.

Que em 2012 deixemos de admirar os gigantes de pedra.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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