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Conteúdo 7 de dezembro de 2015

Logística na fila do descaso

O Brasil nunca esteve tão parado. Desde o início do Século XXI o país que foi, por muitas vezes, classificado como um grande canteiro de obras, atraindo investidores e gerando uma significativa movimentação na economia com uma ampla oferta de empregos, se vê hoje travado e sem expectativas. Se não fosse pela infame movimentação política e suas lutas pelo poder e os chocantes, embora previsíveis, nababescos atos de corrupção, ficaríamos até sem assuntos. Aliás, essa história de crise, guerra entre a presidência e o Congresso Nacional, escândalos da Petrobras e tantos outros paralisam o país que necessita de ações já! O Brasil precisa retomar sua rotina administrativa antes que essa letargia se torne rotina e nos embriague como vem embriagando os Três Poderes.

As obras para a Copa de 2014 foram, sem dúvidas, a maior movimentação em termos de ampliação estrutural e de mobilidade que o país viveu após a revolução industrial. Contudo, o que ficou como legado não foi, nem de longe, equivalente ao que foi investido, e sei que esse assunto também já rendeu o suficiente. Porém, jamais deveremos esquecer essa lição de que o Brasil se pôs numa vitrine e não vendeu bem o seu produto devido à falta de planejamento – e devido corrupções, é claro.

Essa falta de planejamento já é alarmante por si só, mas quando nem esse mau planejamento toma alguma forma de ação necessitada em tantos segmentos da economia… Aí realmente temos seríssimos problemas. Imagine uma empresa onde os funcionários cruzaram os braços aguardando o plano de produção que não veio; o setor administrativo interessado apenas em saber quem ganhará a batalha entre os diretores enquanto os clientes ficam sem atendimento […]. O que produzirá essa empresa e qual seu futuro? Só sabemos mesmo que os clientes serão os mais prejudicados, ou pelo descaso, ou pela necessidade do produto ou serviço e ainda pagar mais caro para suprir algo que já o estorrica no mercado.

Como profissional de logística há quase duas décadas, que me perdoem os otimistas, mas sempre que se noticia um programa de investimentos no país na área sempre fico com o pé atrás, pois não é só questão de investimento nisso ou naquilo que vai alavancar nossa logística e dar-lhe o que realmente necessita e merece. Nada disso será eficaz se não houver a consciência do real papel e da importância da logística em nosso país.

Mais um programa de investimentos que atola num canteiro de promessas antes mesmo que se ligue o motor do caminhão carregado com planos que parecem mais sonhos do que projetos. Escrevi sobre o PIL (Programa de Investimentos em Logística) para 2015 até 2018 que previa quase R$ 70 bi só para esse período. Muito? Não. Isso não é quase nada dos mais de R$ 293 bi que o Brasil precisa para recuperar e ampliar apenas nossas fatigantes rodovias. O ano praticamente acabou e o que saiu do papel foram as chamadas “receitas programáticas”, aquelas ações que engordam os cofres públicos com as concessões e privatizações, mas as “aplicações programáticas”, a exemplo do Plano de 2012, não se tornaram projetos no papel. Ainda é animadora a questão levantada sobre concessões e a importância de se investir em ferrovias e no transporte fluvial, mas se nada disso sai ou vai para o papel, é comum pensar que o Brasil ainda não dá a devida importância para o setor logístico. E se esse custo logístico representa dois terços do custo de um produto; se perdemos mais de um terço da nossa produção agrícola no transporte e na armazenagem; se deixamos de exportar bilhões de dólares pela precariedade dos nossos portos… Não sei mais o que pode ser usado para chamar atenção.

Os mais inteirados sabem que o país ganha com esse caos em forma de impostos: custo alto = imposto alto; morosidade = mais serviços = mais impostos… Essa é uma fórmula difícil de ser mudada quando o país prefere arrecadar ao invés de economizar. Com a necessidade de circular com recursos orçamentários para alimentar os canais de corrupção, parece que tanto faz se o que sobra vai ou não ser usado eficazmente.

Enquanto a solução por parte do poder público e com o envolvimento do povo não chega, nossa logística permanece na fila do descaso, assim como a educação e a saúde. Enquanto a política for vista como uma ferramenta de autopromoção e não como uma ferramenta de prestação de serviços, não podemos esperar por mudanças substanciais. Enquanto o país não aprender que prender custa mais do que educar, que curar é mais caro que prevenir e que soluções nos impulsionam, podemos incluir nossa logística numa fila estúpida sem cadeiras para sentar e descansar.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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