Investimento em infraestrutura deve ser planejado
A demanda por serviços de transporte e logística é, historicamente, cerca de três vezes superior ao PIB, o que pode significar um aumento de até 20% na movimentação de mercadorias. Não é difícil chegar à conclusão que os investimentos em infraestrutura devem ser proporcionais a esse crescimento. No entanto, nos últimos dez anos, o Brasil destinou 2,32% do PIB em sua malha logística. Foram pouco mais de meio trilhão de reais, valor abaixo dos 3% necessários apenas para evitar a deterioração estrutural do país.
Mas além do déficit de verba destinado a área, é possível reconhecer erros primários na aplicação dos recursos. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, contempla obras caras e grande parte está atrasada ou, na prática, irá trazer poucos benefícios. Isso porque muitos empreendimentos estão baseados em estudos antigos, que não refletem mais a nossa realidade. É preciso parar de gastar dinheiro para ligar nada a lugar nenhum e elencar prioridades, baseadas em evidências técnicas, para os investimentos.
Temos carências profundas de infraestrutura e qualquer obra que traga ganhos imediatos parece um avanço, mas isso não quer dizer que os recursos foram realmente gastos com eficiência ou que terão reflexo significativo no quadro geral. Um país de dimensões continentais como Brasil precisa estar preparado para uma mesma carga utilize diversos modais. É fundamental um plano integrado de infraestrutura e que priorize a intermodalidade, ou seja, a integração entre as diversas formas de transporte.
Para isso, a principal estratégia deve ser a descentralização do crescimento. É uma maneira de evitar que determinadas regiões fiquem saturadas, como São Paulo, e desviar uma parcela do tráfego e geração de renda para outros locais. A solução não está apenas em construir, mas em possibilitar o fluxo hábil entre pontos estratégicos. Um aeroporto que não possui ligação com metrôs e rodovias, levando com facilidade aos grandes centros de consumo, por exemplo, não é eficiente.
Construir uma infraestrutura capaz de atender as necessidades do país implica em planejamento, competência e inteligência. Requer mais recursos e leva tempo para ser feito. O Brasil perdeu e está perdendo um tempo precioso e precisa rever suas prioridades antes que seja tarde.