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Conteúdo 8 de fevereiro de 2022

Infraestrutura e Logística, mercados em plena consolidação

02-02-22 Foto interna para colunas

“Não se deve perseguir objetivos que são facilmente alcançados.
É preciso desenvolver um instinto para o que mal se
pode alcançar com os maiores esforços.” Albert Einstein (1879 – 1955)

Por Carlos Cesar Meireles Vieira Filho e Ernani Mercadante

Inicio meus artigos com uma epígrafe, capaz de nos instigar a refletir sobre o que nos depararemos a seguir. Creio que o físico alemão Albert Einstein, com seu sábio pensamento, traduz bem o que buscamos com esse estudo, já que nada foi, nem é fácil alcançar, sempre o é com esforços de grande resistência e aprofundamento.

Em 2012 idealizamos e fundamos uma entidade representativa de classe, da qual fui seu presidente por nove anos. Deparamo-nos à época com o clássico desafio de boa parte dos empresários, pesquisadores e acadêmicos brasileiros: a ausência de estatísticas, sobretudo confiáveis para constituirmos uma entidade nova, pioneira e que demandaria, por conseguinte, dados e informações consistentes.

Como contextualizar, definir e medir um setor que não dispunha até então de uma classificação oficial capaz de municiar estudos e formatar estatísticas a respeito?

Muitas organizações sérias, institutos de pesquisa, universidades públicas e privadas, além de consultorias, vinham fazendo estudos de elevado e notório saber técnico, os quais, contudo, fundamentavam-se em segmentos específicos, sobretudo, baseados em dados estatísticos encontrados nas agências reguladoras, em seus ministérios fins e/ou em núcleos de pesquisa acadêmicos de universidades de referência no Brasil e em países onde havia correspondências acadêmicas.

É inegável a qualidade das informações hoje disponíveis nas agências reguladoras do MInfra (Ministério da Infraestrutura), nas quais, pode-se obter dados confiáveis que fundamentam tanto as políticas públicas, quanto as estratégias para o setor privado.

Alguns setores, contudo, ainda demandam um verdadeiro “garimpo” de dados e informações, entrevistas, buscas na mídia geral e especializada, e vastas leituras de fatos relevantes, além de operações divulgadas, bem assim compilação de demonstrações financeiras e relatórios dos periódicos disponibilizados.

Enfim, trata-se de um trabalho de muita dedicação, como foi o caso deste que aqui, junto à competente equipe da Connect Finanças Corporativas, debruçamo-nos e produzimos material que passamos a ter a grata satisfação em veicular.

Vale, contudo, o necessário disclamer: O Relatório de Transações de Transportes e Logística, edição de janeiro de 2022, que subsidiou este artigo conjunto, trata-se de um estudo que propõe municiar o mercado, principalmente aqueles voltados e interessados em fusões e aquisições | M&A (Mergers and Acquisitions), dado trazer uma comparação estatística das transações compiladas desde 2015 até o presente, objetivando ter elevada utilidade para os vários setores do ecossistema logístico, mostrando, sobretudo, o crescimento médio anual do número de transações de consolidações em termos de aquisições (as que envolvem controle), de compra (aquelas de participação minoritária), de venda e fusões de empresas ao longo desses anos.

Não tem, contudo, a pretensão de ser um texto conclusivo e inquestionável, dada a dificuldade de se encontrar informações compiladas e oficiais em todos os campos de pesquisa. É, contudo, uma ferramenta bastante útil para cotejar outros instrumento de pesquisa e subsidiar análises sobre o tema.

Findo o disclamer, temos a satisfação de afirmar que o resultado verificado é o crescimento vigoroso dos movimentos de M&A, mesmo com os mais baixos investimentos públicos já registrados nos últimos anos, conforme mostra os números do próprio MInfra, em torno de 0,5% do PIB, seja pelo necessário enfrentamento da pandemia que embarca no seu terceiro ano, ainda sem horizonte determinado para o seu fim, seja pela natureza plural do setor de infraestrutura e logística. Dados importantes nesse campo de investimentos em infraestrutura são igualmente obtidos da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios (Inter.B), que sempre os atualiza no Brasil, comparando-os com outras nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

A seguir, elencamos os destaques do estudo realizado pela Connect Finanças Corporativas, com as contribuições analíticas e os comentários da Talentlog – Consultoria e Planejamento Estratégico Ltda.

Transações do Setor de Transportes e Logística (período 2019 – 2021):

– O número de transações observadas em 2021, sem considerar concessões públicas, cresceu fortemente durante a pandemia: 100% em 2020 (em relação a 2019) e 77% em 2021(quando comparado a 2021).

– Aquisições de controle e concessões públicas representaram em conjunto 70% das transações em 2021.

– Investidores nacionais responderam por grande parte (78%) das transações do setor em 2021, mantendo a tendência de aumento de na participação.

– Transações envolvendo LogTechs (eg. Apps de delivery) tiveram um aumento expressivo durante a pandemia, passando a 15 transações em 2021, número cinco vezes maior que o número de transações observado em 2018.

– Investimentos em infraestrutura aumentaram em 2019 e 2021, impulsionados pelo programa de desestatização (desaquecido e/ou parcialmente suspenso em 2020).

 

Figura 1

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Transações

– O número de transações no setor de transportes e logística no Brasil apresentou crescimento robusto durante a pandemia, crescendo em média:

88,3% ao ano de 2019 a 2021 e

77,3% de 2020 a 2021.

 

Figura 2

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Incluindo concessões públicas

– Se incluídas as concessões públicas, principalmente de portos e aeroportos, o crescimento médio foi de:

33,6% anual entre 2019 e 2021.

92,3% entre 2020 e 2021.

– A retração no número de transações em 2020 reflete a paralização parcial do processo de privatização naquele ano, sob efeito do início da pandemia.

 

Investidores Nacionais

– O número de transações efetuadas por investidores nacionais no setor de transportes e logística no Brasil apresentou crescimento total de:

43,2% ao ano de 2019 a 2021 e

85,7 % de 2020 a 2021

– Os investidores nacionais atuaram em 78,0% das transações em 2021, com leve redução em relação a 2020.

 

Investidores Estrangeiros

– O número de transações efetuadas por investidores estrangeiros apresentou:

Queda de 11,8% ao ano de 2019 a 2021 e

Crescimento de 75,0 % de 2020 a 2021

– Os investidores estrangeiros atuaram em 14,0% das transações em 2021, reduzindo sua participação em relação a 2020.

– A participação de investidores estrangeiros sofreu queda em todos os últimos 4 anos.

*Inclui concessões públicas

Figura 3

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Investidores Estratégicos

– O número de transações efetuadas por investidores estratégicos no setor de transportes e logística no Brasil apresentou crescimento de:

21,7% ao ano de 2019 a 2021 e

94,7 % de 2020 a 2021

– Os investidores estratégicos atuaram em 74.0% das transações em 2021, mantendo sua participação em linha com a observada em 2020.

 

Investidores Financeiros

– O número de transações efetuadas por investidores financeiros apresentou crescimento de:

108,2% ao ano de 2019 a 2021 e

85,7 % de 2020 a 2021

– Os investidores financeiros atuaram em 26,0% das transações em 2021, mantendo sua participação em relação a 2020, de mais que o dobro da participação dos três anos anteriores.

 

*Inclui concessões públicas

Figura 4

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Análise por segmento

– O número de transações no segmento de transportes e logística tradicional teve aumento substancial em 2021, quando observamos 19 transações, quase o dobro que o melhor ano observado anteriormente.

– A procura por plataformas tecnológicas de logística (LogTechs) aumentou substancialmente em 2020 e 2021, com a enorme demanda por empresas de entregas a domicílio (delivery), provocada pela pandemia, passando de 2 a 3 transações anuais de 2017 a 2019 a 9 transações em 2020 e 15 transações em 2021.

– O segmento de infraestrutura, incluindo portos, aeroportos e ferrovias, é diretamente impactado pelo programa governamental de privatizações, que acelerou em 2019, foi parcialmente suspenso em 2020 (retomado em dezembro) e retomado em 2021

– Todos os segmentos experimentaram crescimento em 2021, exceto o segmento de transportes que permaneceu em nível com 2020.

 

*Inclui concessões públicas

Figura 5

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Análise por tipo de transação

– O número de transações de aquisições de participações controladoras (“Aquisições”) aumentou durante a pandemia de 8 transações em 2019 para 24 em 2021.

– Compras de participações minoritárias também aumentaram, de 3 em 2019 para 6 em 2020 e para 13 em 2021.

– Fusões e Joint Ventures são pouco usuais e não são representativas.

– Concessões públicas, que ocorreram principalmente no segmento de portos e aeroportos, são diretamente impactadas pelo programa governamental de privatizações, que acelerou em 2019 para 17 operações e foi retomado em dezembro de 2020 (4 operações) e mantido em 2021 com 11 operações.

– Além destas, em 2020 ainda ocorreram outros 2 processos de abertura de capital.

 

*Inclui concessões públicas

Figura 6

Fonte: Estudos analíticos Connect Finanças Corporativas

 

Tendências: o que vemos pela frente?

À luz dos fatos, o mercado de infraestrutura logística está em ascendente consolidação há anos. Constata-se que operadoras internacionais de logística, a exemplo dos 3PL (Third Party Logístics Providers) vêm adquirindo posições horizontais, assim como verticalizando sua cadeia de valor, seja a montante do seu processo principal, seja a jusante destes, o que se vê mais comum.

Registra-se também, o apetite dos armadores em todo o mundo por comprar posições em terminais de contêineres, sobretudo, assim como transportadoras rodoviárias, concessões ferroviárias, operadores logísticos (3PL), vindo a ocupar, inclusive, a posição de operadores aeroviários.

O último estudo realizado sobre o mercado dos operadores logísticos, produzido pela FDC (Fundação Dom Cabral), em 2020, deu conta de um fato que corrobora o quadro célere de consolidação, neste caso, nos 3PL. Enquanto o mercado crescia em receita operacional bruta, em números superiores a 23%, crescia apenas 2,23% em número de novos entrantes (novas empresas), o que significava, efetivamente, o robustecimento e a aceleração da consolidação do setor. Neste cenário, destacamos a importância dos processos de consolidação e inerentes ganhos de escala para a manutenção de sua competitividade e até sobrevivência dos operadores logísticos em seus diversos segmentos.

Logística significa conectividade, integração e, principalmente, escala. Logística é custo e, quanto maior a operação em escala, de forma integrada, maior será a diluição do custo na cadeia de valor, bem assim a mitigação do custo total. O Brasil é um país caro, com um custo logístico elevado, em torno dos 12% do PIB, enquanto países mais competitivos com os quais competimos frontalmente, como Estados Unidos, por exemplo, oferecem um custo logístico inferior a 7% do PIB. Há um dever de casa a realizar, tanto das docas para dentro (capacitação de pessoal, melhoria dos sistemas e processos, investimento tecnológico, sustentabilidade e melhoria do compliance e governança das empresas), quanto das docas para fora (infraestrutura, segurança e tecnologia).

Temos uma revolução iminente pela proa, a tecnologia 5G que irá transformar as conexões, aumentando de modo geométrico a velocidade das transações, ao passo que reduzirá em mesma proporção a latência nas respostas. Teremos um serviço sem quedas e interrupções constantes, com transmissões mais limpas e mais seguras.

A nova tecnologia 5G dinamizará as transações no mercado eletrônico. O e-commerce, que já cresce acima dos 70% ao ano no Brasil, impulsionando as cadeias de suprimento, produção, de comercialização e de distribuição, estará ainda mais apto a pressionar a concorrência e o crescimento da economia, que igualmente impulsionará a demanda pela logística de transportes, capacidade de armazenamento, movimentação, sistemas etc.

Estamos diante de tecnologias antes ficcionais, agora presentes na realidade operacional. Os AGVs (Automated Guided Vehicle), veículos autoguiados ou veículos não tripulados, são comuns nos muitos terminais de contêineres e armazéns nos EUA, Europa e Oriente.

Uma nova onda tecnológica que surge do advento da energia limpa, ou energia renovável, com foco na gestão do Carbono Zero que reduz ou neutraliza os gases causadores do Efeito Estufa, faz parte da agenda mundial, convergente com os 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) ou, como o mundo corporativo preferiu conduzir, nas agendas universais do ESG (Environmental, Social and Governance), ou sustentabilidade, inclusão social e governança corporativa e compliance, numa livre tradução dos autores.

O mundo começa a vivenciar o campo do metaverso, transformando a dimensão virtual, o mundo digital, em um experimento real, capaz de dinamizar a logística tal qual vivenciamos hoje, sobretudo estruturada na indústria em modo 3D. Quanto às novas tendências? A conferir o que está por vir!

 

Conclusão

Os números que ora são disponibilizados sugerem uma tendência de que o mercado ainda está longe de acomodar-se em termos de consolidação. Fusões e aquisições, sejam estratégicas, para abarcar novas tecnologias e tendências, sejam para ganhar escala em composição ou não com fundos de investimento, através de grandes aquisições, incorporações e abertura de capital, serão notícias constantes nos nossos portais e imprensa especializada.

Ainda que muito tenhamos vivenciado essa dinâmica evolutiva, ainda temos no mercado muitas empresas familiares, de vários portes, que se movimentam, e o fazem muito bem, com grande desenvoltura e assertividade, o que significa que também estão com apetite para manter-se competitivas, mesmo cientes de que o mercado é amplo e fecundo, tanto para as compras, quanto para as boas vendas.

O ano que se inicia tem algumas incertezas anunciadas, principalmente por ser um ano eleitoral. Mas, no setor de infraestrutura logística, a agenda promete ser alvissareira, mesmo diante dos episódios recentes que experimentamos em relação ao congestionamento de portos, Canal do Suez, indisponibilidade de contêineres e outros registros de impacto mundial, tendo gerado elevação de custos e inflação no setor e das economias mundiais.

Pelas razões elencadas acima, acreditamos que composições através de transações continuem sendo parte imprescindível da estratégia de qualquer operador do ecossistema logístico, portuário, terminais e em todos os segmentos para sobreviver no complexo ambiente da cadeia de suprimentos no Brasil, cujo processo de transformação é permanente.

 


 

Ernani Mercadante Neto é bacharel em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), com mais de 30 anos de experiência em avaliações e negociações de empresas. Iniciou sua carreira como Consultor da Price Waterhouse em 1991 na área de Corporate Finance. Foi gerente do Latin American Business Center de PwC, em Nova Iorque, de 1997 a 1999. Atou como gerente e diretor no departamento de Corporate Finance & Recovery da PwC em São Paulo, sendo admitido à sociedade em janeiro de 2011. Associou-se à Pactor Finanças Corporativas em agosto de 2014, onde atuou como sócio, com foco em fusões e aquisições e avaliações de empresas. Em 2019 passou a atuar como consultor independente, com empresa própria. Conduziu inúmeros projetos de assessoria em negociações, avaliação econômica, alocação de preço de compra (PPA) e reestruturações de dívidas. Participou de avaliações econômicas de empresas públicas para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em conexão com processos de privatização e realizou vários projetos de M&A (Mergers and acquisitions) no setor de logística e transporte. É sócio-fundador da Connect Finanças Corporativas e é parceiro da Talentlog – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda.

Carlos Cesar Meireles Vieira Filho Carlos Cesar Meireles Vieira Filho

Mestre em administração de empresas pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com especialização em Conselhos pela FDC/MG e MBA em Economia e Gestão de Relações Governamentais pela FGV/SP. Com 35 anos de experiência em logística e infraestrutura, atuou no Polo Industrial de Camaçari, no Governo do Estado da Bahia e em vários Operadores Logísticos e Portuários no país, tendo sido co-fundador e presidente da ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos) por nove anos. É consultor e conselheiro de empresas, atuando em planejamento estratégico, desenvolvimento de novos negócios, fusões e aquisições. É sócio-diretor da TALENTLOG – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda.

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