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Conteúdo 22 de agosto de 2011

Infraestrutura: cadeia produtiva precisa se modernizar

Todos concordam que o Brasil precisa modernizar sua infraestrutura, sobretudo agora que o país se prepara para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas. No entanto, a discussão se limita, em geral, à necessidade de conseguir verbas para pagar por obras prontas e não se estende ao detalhamento de como o empreendimento será realizado. Essa abordagem leva a conclusão precipitada de que o problema exclusivo é a falta de dinheiro.

Por outro lado, é comum observar órgãos públicos incapazes de gastar seu orçamento no período determinado. É verdade que essa contradição envolve, em alguns casos, fatores pouco técnicos, mas é prova de que existem outros motivos além da falta de recursos para a pouca eficiência na realização de grandes empreendimentos.

A materialização das obras de grande porte exige mais que orçamento disponível. É preciso estrutura. Para o novo estádio do Corinthians sair do chão, por exemplo, será necessário que cheguem ao local quantidades gigantescas de cimento, aço e outros insumos de construção. Isso vai multiplicar o tráfego de cargas na região de Itaquera, onde a movimentação já é complicada. Provavelmente tudo vai ser mais difícil, caro e demorado do que o previsto.

Da mesma maneira, uma rede de fornecedores terá que ser acionada. Essas empresas deverão estar preparadas, tanto no que diz respeito à capacitação técnica como em capacidade de absorver uma demanda incomum. Poucas reúnem essas condições e as que passam no teste já operam perto do limite.

Para ilustrar a situação, recentemente foi divulgado pela imprensa que a ampliação do aeroporto de Cumbica pode sofrer atrasos ou ser entregue incompleta porque a construtora encontra dificuldades para receber os elevadores encomendados dentro do prazo. Simplesmente porque os fabricantes estão recebendo mais pedidos do que o planejado.

Esses “detalhes” normalmente são ignorados, ou no mínimo subestimados, na fase de planejamento. E, quando replicamos o exemplo de Cumbica para centenas de obras em todo o país, temos um problema grave. Por isso, em determinadas ocasiões, “sobram” recursos para a execução de obras ou os seus custos ficam superiores aos orçamentos iniciais. A verdade é que pode acontecer, e vai acontecer com mais freqüência, de existir dinheiro, competência e zelo com os recursos públicos, mas faltar condições operacionais para a execução de projetos dentro das especificações inicialmente acordadas.

Infelizmente, e com certa razão, nos acostumamos a atribuir esses casos à incompetência ou à corrupção e não nos atentamos para o déficit estrutural da cadeia produtiva. É uma questão que exige atenção imediata.

Um bom exemplo são os operadores logísticos. Essas companhias, contratadas pelas grandes empreiteiras, são responsáveis por abastecer (armazenar, transportar e, em muitos casos, cuidar de trâmites burocráticos e fiscais para o deslocamento dos materiais) os canteiros de obras com tudo o que é necessário para a construção. Trata-se de uma tarefa complexa e relevante, para o bem e para o mal, para a viabilidade e o preço final dos empreendimentos.

O setor de logística evoluiu significativamente nos últimos 15 anos, mas hoje não está à altura das exigências e necessita de um novo salto de qualidade para acompanhar e sustentar as demandas do crescimento. E, nesse caso, a responsabilidade maior é da iniciativa privada, embora o Governo também tenha o seu papel.

As companhias especializadas precisam de uma injeção de capital para fazer investimentos fundamentais. E elas são, pelo menos no papel, atrativas para os investidores do setor produtivo. Atualmente o mercado de logística cresce em uma proporção três vezes superior ao PIB e as projeções, considerando a conjuntura econômica e as prioridades do país, são ainda mais otimistas. Por isso, grandes fundos de investimento estão dispostos a financiar a modernização por meio de fusões, aquisições ou compra de participação acionária

No entanto, poucas empresas estão prontas, ou continuam sendo atrativas após uma análise mais apurada, para as injeções de capital. Em muitos casos, o faturamento é alto, mas o lucro é baixo. Faltam eficiência e planejamento de longo prazo.

O efeito imediato dessa situação é uma demora inesperada na conclusão dos negócios e na efetivação co investimento. Cria-se um impasse em que a solução é a depreciação da companhia, o que reduz a entrada de dinheiro, ou uma reformulação da operação para se adequar às exigências atuais. E a segunda opção é mais vantajosa tanto para quem vende como para quem compra.

Um período de co-gestão, onde o empresário divide a administração com consultores e especialistas que apontem (e implementem) soluções para as dificuldades da operação, é o caminho mais indicado para manter o preço da empresa e atrair investidores.

Este exemplo dos operadores logísticos serve para os demais segmentos que compõem a cadeia produtiva da construção de grandes obras. Todas essas empresas que gravitam ao redor dos mega empreendimentos precisam se modernizar. E existem recursos disponíveis para isso, sem a necessidade de recorrer aos cofres públicos. Basta que os empresários se preparem para os novos tempos e demonstrem aos investidores sua capacidade de gerar lucros.

Ao Governo cabe garantir segurança jurídica para esses investimentos, ser intransigente na estabilidade econômica e indicar que as empresas responsáveis pela execução das obras públicas serão aquelas que apresentarem melhores condições em processos licitatórios transparentes e honestos.

Antonio Wrobleski Antonio Wrobleski

Especialista em logística, presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008. Em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu há 13 anos e pratica o esporte há 30 anos.

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