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Conteúdo 17 de outubro de 2011

Cheque em branco para uma bagunça

Eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíadas são uma festa do esporte, apreciada por bilhões de pessoas. Para a administração dos países e cidades onde são realizadas, no entanto, representam uma movimentação excepcional que deve ser aproveitada para alavancar o desenvolvimento local, principalmente em relação à infraestrutura.

Nessas ocasiões são reunidas condições que dificilmente se repetirão em circunstâncias normais. Existe um engajamento natural de toda a sociedade que facilita ao Governo multiplicar investimentos, estimula o empreendedorismo da iniciativa privada, desperta o interesse internacional e mobiliza a população. É a oportunidade, portanto, que governantes sonham ter para fazer o que normalmente seria impossível. Por aqui, infelizmente, vamos desperdiçar mais esse momento.

O Brasil foi escolhido para ser sede desses eventos já há alguns anos. Fez festa, faturou politicamente, mas deixou de lado o principal: Um planejamento que garantisse um legado positivo para os brasileiros.

No dia posterior ao anúncio do Brasil como sede, já deveria ser traçada uma estratégia para relacionar as exigências do evento com os interesses do país. As cidades-sede deveriam ter sido escolhidas, por exemplo, obedecendo a um plano de desenvolvimento integrado e não conveniências políticas.

É verdade que em todos os cantos do país são necessários investimentos em infraestrutura, mas existem prioridades. Neste momento, é preciso concentrar energias e recursos em regiões mais relevantes para os desafios de desenvolvimento que temos pela frente. Facilitar a mobilidade em centros saturados, que concentram a maior parte da população e são mais atrativos para a atividade econômica, e ampliar a capacidade de tráfego em rotas estratégicas, de acordo com as nossas características geográficas e produtivas.

Infelizmente, os responsáveis pela Copa não levaram isso em consideração e, por isso, perdemos uma excelente oportunidade de recuperar uma parte da nossa infraestrutura.

Agora o jeito é correr contra o tempo, improvisamente, apenas para evitar a vergonha e comandar uma bagunça de obras que custarão muito mais do que o aceitável e não se enquadrarão em um projeto de desenvolvimento sustentável.

Os estádios vão extrapolar em muito os orçamentos e a maioria vai se transformar em elefantes brancos após a competição. Em resumo, com pequenas exceções, serão bilhões jogados na lata do lixo.

Os empreendimentos de infraestrutura logística, que representariam de fato um benefício permanente para o país, são uma incógnita. Das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, apenas cinco iniciaram as obras de mobilidade urbana. A capacidade dos aeroportos ainda não foi aumentada em um passageiro. Nesse caso, embora tenham tomado a sábia, porém tardia, decisão de abrir o setor para a iniciativa privada, ainda não se chegou a um modelo razoável de concessão e os leilões ainda não foram feitos.

Como alternativa para evitar o caos mais do que provável, o Governo sugere que as cidades decretem feriado municipal no dia dos jogos. Nas palavras da ministra do Planejamento, Mirian Belchior: “Se eu der feriado no dia do jogo, a cidade vai estar em condições de não ter trânsito para a locomoção de torcedores.” Simples.

E para completar a dramaticidade do quadro, continua a ministra do Planejamento: “Eu desconheço qual é o valor que vai custar a Copa do Mundo no Brasil. Não há nenhum estudo que diga isso.” É um cheque em branco para uma bagunça.

 

Antonio Wrobleski Antonio Wrobleski

Especialista em logística, presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008. Em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu há 13 anos e pratica o esporte há 30 anos.

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