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Conteúdo 20 de setembro de 2011

A imagem do despreparo

A menos de mil da Copa, a notícia de que apenas 4,7% das obras começaram causou desconforto. Uma evidente falta de planejamento colocou mais uma vez em dúvida a capacidade do Brasil em receber o Mundial.

Esse cenário de incertezas, não só demonstra a fragilidade do Governo em gerenciar a imagem do país como reacende a discussão sobre a defasagem dos investimentos em infraestrutura, que nos últimos dez anos recebeu somente 2,32% do PIB.
O percentual, abaixo do mínimo de 3% necessários para evitar a deterioração, é muito inferior aos investimentos dos países concorrentes no setor. Infelizmente, e para piorar, a cada dia fica mais claro que o problema não está relacionado apenas ao dinheiro. Existem outras dificuldades que, no caso do Brasil, parecem ser de solução mais difícil do que financiar as obras.

É evidente que não existe planejamento. As prioridades não foram definidas e as obras, quando acontecem, não estão integradas a um plano de desenvolvimento. Com a urgência para os empreendimentos relacionados à Copa do Mundo e à Olimpíada essa articulação fica ainda mais distante.

É verdade que muitas obras decorrentes desses eventos serão importantes, sobretudo o aumento de capacidade de aeroportos e obras de mobilidade urbana. No entanto, muitos esforços (financeiros, insumos e mão de obra) estão empregados em projetos nada próximos às prioridades.

Um estádio para 60 mil pessoas em Brasília, por exemplo, é uma aberração para os objetivos econômicos e sociais do país. São dinheiro (sim, dinheiro, pois a maior parte dos recursos vem do BNDES em forma de empréstimos camaradas) e energia que poderiam ser depositados de maneira muito mais útil, mas que estão sendo jogados fora.

Não se trata de ser contra esses eventos esportivos, mas se houvesse planejamento, casos como esse poderiam, e deveriam, ser evitados. A correria para aprontar as cidades para a Copa também está expondo como todo o processo de construção da infraestrutura é pouco eficiente, para dizer o mínimo.

O Estadão publicou recentemente uma matéria com o título “Planejamento em obra pública é ficção”, onde a repórter Renée Pereira demonstrou que “quase todas as obras públicas executadas no Brasil não terminam como planejadas”. Em seguida o jornal repercutiu a reportagem em editorial e analisou que “não dá para verificar se o maior ralo do orçamento federal é a incompetência, o desleixo ou a corrupção, mas não há dúvida de que qualquer dos três fatores causa perdas enormes ao País”.

Isso sempre aconteceu e o resultado cruel é que o país faz muito menos do que poderia em mais tempo do que deveria. É uma auto-sabotagem. Resultado não apenas de corrupção, embora esta também seja uma das razões, mas, sobretudo de despreparo. Não existem estrutura e competência (ou vontade) dos órgãos públicos para fazer as coisas corretamente.
Com esse cenário, é duvidoso até falar em aumentar o volume de investimentos em infraestrutura. Será mais dinheiro jogado fora.

Os problemas, no entanto, não terminam por aí. Esse grande volume de obras para a Copa, todas tocadas ao mesmo tempo, vai mostrar outro gargalo. O déficit operacional da cadeia produtiva. Não temos empresas em quantidade suficiente e com a capacitação técnica exigida para fornecer produtos e serviços no ritmo e na qualidade exigida pelos empreendimentos. Isso vai ficar muito claro quando as construções se intensificarem. Certamente tudo vai ficar mais caro e demorado.

E, por último, mas não menos importante, temos uma gritante falta de mão de obra qualificada. Os primeiros reflexos disso sãs as seguidas greves dos funcionários que trabalham na construção dos estádios. Isso será freqüente, já que agora foi invertida a relação de forças trabalhistas. Hoje a construtora precisa mais do funcionário do que este do emprego. Quando eles fazem greve, sabem que a empresa não tem como substituí-los. E eles vão aproveitar esse momento o que, novamente, vai deixar tudo mais caro e demorado.

O Brasil ainda não começou a reforma da sua infraestrutura. Está apenas realizando obras de maneira improvisada e pagando um preço muito mais alto do que deveria pelo que recebe. Apesar dessa correria para erguer estádios, estamos estagnados. Ainda dá tempo de fazer as coisas direito, mas é necessário começar de novo, planejar e, se possível, com gente capacitada para a tarefa.

Antonio Wrobleski Antonio Wrobleski

Especialista em logística, presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008. Em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu há 13 anos e pratica o esporte há 30 anos.

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