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Conteúdo 10 de outubro de 2003

Brasil importa locomotivas usadas

Considerando que, durante anos, pouco foi investido no transporte ferroviário brasileiro, as concessionárias do setor, além de empresas de outros segmentos, estão investindo na compra de locomotivas americanas usadas. Afinal, diante da antiga frota brasileira, as máquinas americanas representam uma grande evolução.
“Existe uma grande oferta de locomotivas usadas nos Estados Unidos, em muito bom estado, inclusive em plena operação. Apesar de termos que fazer uma série de adaptações, o custo final da locomotiva usada continua muito atraente para as ferrovias no Brasil. Uma locomotiva nova chega a custar U$ 2 milhões, enquanto que uma usada, com todas as modificações, frete, impostos e adaptações necessárias custa não mais que U$ 300 mil. Ou seja, praticamente um sétimo do preço”, informa Paulo Luiz A. Basilio, gerente financeiro da ALL – Delara, concessionária que está trazendo 30 locomotivas.
Ele também destaca que essas locomotivas têm mais de 3.000 HP, sendo mais potentes que todas as demais locomotivas da ALL – Delara. “Com isso, elas deverão ser alocadas no trecho central da nossa malha, responsável pelo escoamento da safra do norte do Paraná para os portos. Outras locomotivas que vêm sendo utilizadas nesse trecho serão alocadas para outros fluxos”, diz ele.
Fora das concessionárias, a Caramuru Alimentos também está importando locomotivas usadas. Porém, a maior empresa de processamento de grãos de capital nacional do país está alugando as locomotivas para a Brasil Ferrovias.
Estas máquinas, segundo César Borges de Sousa, vice-presidente da Caramuru Alimentos, serão usadas no transporte da soja produzida no trecho ferroviário entre Pederneiras (SP) e o porto de Santos. “Essa soja é produzida nos estados de Goiás e Mato Grosso, processada em unidade industrial da Caramuru em São Simão (GO) e embarcada por hidrovia, pelo sistema Tietê-Paraná, até Pederneiras (SP), de onde é transportada por ferrovia.”
O vice-presidente também considera a questão custo-benefício como uma das grandes vantagens para a importação destas locomotivas. “Há grande oferta de locomotivas usadas no mercado americano, o que resulta em preços competitivos”, diz ele, confirmando as declarações de Basilio, da ALL-Delara.

Modificações
Quando se fala em adaptação destas locomotivas à realidade brasileira, o gerente financeiro da ALL Delara destaca que a principal modificação é o rebitolamento. “Também serão necessárias algumas modificações elétricas. Nos EUA, a bitola é de 1,43 m e, na malha da ALL, essa medida é de 1 m. Com isso, temos que adaptar o truque da locomotiva para essa característica da nossa malha. Vale ressaltar que no Brasil existem ferrovias com outras bitolas”, diz ele.
De fato, no caso da Caramuru Alimentos, segundo o vice-presidente, as locomotivas foram rebitoladas de 1,435 m para 1,60 m, e passaram por revisão geral.

Realidade brasileira
A importação destas locomotivas vem confirmar a declaração de profissionais do setor, ouvidos em recente matéria publicada no jornal LogWeb, de que o mercado brasileiro não está tendo condições de atender à demanda de locomotivas e trilhos.
Realmente, segundo conta Basilio, o Brasil ficou bastante tempo sem investir em sua malha ferroviária e, com isso, a grande maioria dos fabricantes de locomotivas, vagões e trilhos fechou suas fábricas. De acordo com o gerente financeiro da ALL-Delara, a frota de locomotivas e vagões da rede ferroviária estava parcialmente sucateada na época da privatização. Assim, as empresas privatizadas passaram um bom tempo investindo na recuperação das locomotivas e vagões não operacionais. “A ALL Delara agregou mais de 1.000 vagões e aproximadamente 150 locomotivas a sua frota operacional e, agora, que já recuperamos toda a nossa frota não operacional, começamos a demandar novas locomotivas e vagões. Atualmente, não existe fabricante de locomotivas no Brasil, e o único fabricante de vagões está com a sua capacidade completamente tomada”, diz ele.
Pelo seu lado, Sousa destaca que, em relação às locomotivas, há a facilidade de importação de máquinas usadas, a exemplo da operação realizada pela Caramuru Alimentos. “No caso do fornecimento de trilhos, a situação é de fato inusitada: apesar de ser um grande produtor e exportador de produtos siderúrgicos, o Brasil não investe na produção de trilhos há algum tempo. Além da perda de divisas, a importação de trilhos representa uma dificuldade operacional adicional para as empresas do setor”, conclui o vice-presidente da Caramuru Alimentos.

Mais máquinas usadas
Além destas empresas, outras, basicamente concessionárias, estão partindo para a importação de locomotivas usadas.
Por exemplo a MRS Logística comprou 32 máquinas, 11 das quais já estão em operação e 21 acabam de chegar ao país. Segundo a empresa, o objetivo é trazer outras 18 locomotivas usadas até o final deste ano.
A Ferronorte também investiu na compra de máquinas usadas. Somente neste ano, já comprou 60 máquinas, das quais 18 já estão em operação.

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