O distanciamento social durante a pandemia levou o consumidor brasileiro às compras via internet, empurrando o comércio eletrônico a um crescimento de 40,7% neste ano, de acordo com pesquisa divulgada no fim de agosto pelo BigData Corp. e pelo PayPal.
O desempenho positivo das vendas online não só impactou as varejistas, como também quem transporta os produtos e os leva até a última ponta. Na esteira dos bons resultados das empresas de logística, até locadora de automóvel decidiu investir no segmento.
“Depois de alugar carro para motoristas de aplicativo, já estávamos de olho em outro nicho, em que poderíamos oferecer veículo para quem transporta produtos, como entregadores de delivery. Agora por conta da alta do ecommerce, desenvolvemos com um parceiro um serviço para transportadores”, diz Jamyl Jarrus Junior, diretor-executivo de vendas da Movida.
Olhando para o mercado de entrega da última milha (do centro de distribuição até a casa do cliente), a companhia lança agora seu mais novo serviço, a Movida Cargo. A nova operação permitirá que pessoas físicas aluguem veículos para fazer transporte. Inicialmente a marca conta com 1.000 furgões Fiorino, dos quais 200 serão reservados para a parceira que ajudou a lançar o novo negócio, o Magazine Luiza.
“Transportadores que estiverem cadastrados no sistema deles [Magalu] poderão alugar o carro conosco e fazer a entrega”, afirma Jarrus Junior, acrescentando que os contratos serão de 12, 24 e 36 meses e que a mensalidade deve girar em torno de R$ 1.500 e R$ 2.000.
Essa parceria, no entanto, não é a única investida do Magazine Luiza no segmento. Nesta sexta-feira (2), em comunicado ao mercado, a varejista informou que adquiriu a GFL Logística.
“Com esta aquisição, o Magalu reforça sua estratégia de entregar cada vez mais rápido e expande de forma significativa serviços como a coleta e last mile para os sellers (última milha para os venededores), reduzindo drasticamente os custos e prazos de entrega”, diz a companhia na nota divulgada.
O que faz crescer os olhos diante do setor são os resultados das grandes empresas de transporte em plena pandemia.
Segundo a coluna Painel S.A. informou no início de agosto, incentivada pelo apetite do comércio eletrônico, a Braspress investiu R$ 105 milhões em 235 novos caminhões da Mercedes-Benz. Ao divulgar o aporte, a empresa afirmou que seu serviço saltou de 65 mil entregas diárias, antes da pandemia, para 95 mil.
A DHL Express, braço de entrega de última milha da companhia alemã, viu seu faturamento no Brasil crescer 7,3% entre os meses de janeiro e maio deste ano, na relação com o mesmo período de 2019. A empresa, que já planejava dobrar o serviço expresso até 2023, afirma que o volume de ecommerce transportado no primeiro semestre deste ano saltou mais de 100% em comparação ao ano passado.
A FedEx é outra que decolou com a alta do comércio virtual. No primeiro trimestre fiscal de 2021 (junho a agosto de 2020), a companhia registrou recorde de receita trimestral global e lucro líquido de US$ 1,25 bilhão (R$ 7,05 bilhões), alta de 68%, na relação com o mesmo período de 2019.
“A pandemia foi um efeito inesperado e indesejado, mas o consumo das famílias se adaptou de forma até que rápida. O primeiro setor que mostrou essa reação foi o do ecommerce e nós percebemos imediatamente essa mudança”, afirma Luiz Roberto Vasconcelos, vice-presidente de operações da FedEx no Brasil.
Em meio à pandemia, a empresa norte-americana inaugurou em setembro na cidade de Cajamar (48 km de São Paulo) seu maior centro de distribuição da América Latina, um aporte de R$ 30 milhões numa estrutura de 50 mil metros quadrados.
Para o presidente da Abralog (associação das empresas de logística), Pedro Moreira, uma alta do ecommerce era esperada pelo setor, mas não da forma como ocorreu agora.
“As empresas que fazem esse tipo de comércio estavam dimensionadas para outra demanda, não esperavam esse crescimento todo, por isso ocorreu muita reclamação inicialmente sobre a demora de entrega de até 30 dias”, afirma.
“A experiência da compra na loja física vai voltar, mas é preciso observar que houve uma mudança de cultura. São mais de 6 meses que houve uma quebra de barreira. Não vejo como voltarmos para os patamares anteriores à pandemia.”
Fonte: Folha de S. Paulo