Automação de Centros de Distribuição x Empilhadeiras. Como ficam as empilhadeiras? Para onde elas vão?

01/10/2024

Afinal, como diz um dos entrevistados desta matéria especial, a automação está redefinindo o papel das empilhadeiras nos CDs, movendo o setor para uma menor dependência de operações manuais e uma integração mais inteligente e eficiente.

A automação dos Centros de Distribuição está transformando significativamente o uso de empilhadeiras, trazendo mudanças em várias dimensões. Uma das principais consequências é a redução da necessidade de empilhadeiras, pois a automação de processos que antes dependiam de equipamentos manuais para movimentação e armazenamento de produtos, como aqueles realizados por Veículos Guiados Automaticamente (AGVs), está diminuindo a dependência de empilhadeiras tradicionais. Além disso, a função das empilhadeiras está mudando: com a introdução de AGVs e outras tecnologias automatizadas, as empilhadeiras estão sendo redirecionadas para funções mais específicas, como a movimentação de grandes volumes em áreas não cobertas pela automação ou em tarefas que exigem maior flexibilidade e adaptabilidade.

Outro impacto relevante – continua Marcos Antonio Galvão da Silva, coordenador de Automação Mobile na KION South America, liderando projetos de automação avançada e integrando soluções de AGVs – é na segurança e manutenção. A diminuição do trabalho manual, associado ao uso de empilhadeiras, contribui para um ambiente de trabalho mais seguro e reduz a necessidade de manutenção constante desses equipamentos. No aspecto de custos operacionais, a automação também pode trazer reduções significativas, otimizando recursos e melhorando a eficiência.

“Em resumo, a automação está redefinindo o papel das empilhadeiras nos CDs, movendo o setor para uma menor dependência de operações manuais e uma integração mais inteligente e eficiente”, completa Galvão.

É importante notar primeiro que há um efeito benéfico da automação sobre o uso de empilhadeiras, pois muitos dos investimentos em automação envolvem a implantação de transportadores e sorters que eliminam o emprego de empilhadeiras para realizar movimentações de volumes e paletes em médias e longas distâncias dentro do CD, diz, agora, Ricardo Ruiz Rodrigues, sócio diretor da Connexxion. Segundo ele, estes equipamentos foram projetados para movimentar cargas na vertical, com deslocamentos mais curtos entre uma tarefa e outra. “Toda ocasião em que se vê uma empilhadeira se deslocando por uma distância considerável entre uma tarefa e outra, em geral representa uma situação de uso ineficiente de recursos. Neste contexto, portanto, a automação contribui para um emprego mais eficiente das empilhadeiras, com pouco impacto na redução do parque destes equipamentos.”

Já quando o emprego de automação ocorre também na etapa de armazenagem verticalizada – o que, em muitas operações no Brasil, ainda é difícil de justificar –, aí tem-se de fato a automação substituindo as empilhadeiras. 

“A automação dos Centros de Distribuição se dá, principalmente, pela adoção de equipamentos como transportadores, transelevadores e shuttles automatizados. A automação é indicada para operações estáveis, de altos volumes e onde a rastreabilidade de produtos é essencial e falhas relacionadas ao fator humano precisem ser eliminadas”, acrescenta Rafael Kessler, diretor de Engenharia da Combilift Brasil.

Leonardo Rodrigues Schuskel, Head Comercial na ULMA Handling Systems, por sua vez, destaca que a automação dos Centros de Distribuição, principalmente a automação para a armazenagem, tem limitado a utilização de empilhadeiras a operações cada vez mais pontuais, como carga e descarga de caminhões, por exemplo. A utilização de empilhadeiras como elemento de movimentação de paletes (normalmente) tem diminuído, e as características dessas máquinas também.

“Atualmente, existe uma sinergia no uso de empilhadeiras e automação nos projetos de automação implementados. No Brasil, o investimento em automação de Centro de Distribuição elevado pode, em alguns casos, inviabilizar a automação completa do armazém e isso significa que as empilhadeiras ainda são essenciais para movimentações internas”, acrescenta Emerson Lourenço da Silva, Head de Operações da viastore SYSTEMS Brasil.

A análise sobre como a automação de CDs está impactando o uso de empilhadeiras feita por Rafael Alexandre de Souza, diretor comercial da Jungheinrich no Brasil, vai por outro caminho. “Se fizermos uma comparação entre o volume médio anual de máquinas novas no mercado alemão, em torno de 130 mil máquinas para uma população de 83 milhões de habitantes, vamos ver que o uso de equipamentos elétricos ou a combustão aqui no Brasil ainda é muito pequeno em relação à população. Estamos falando de um volume de mercado de mais ou menos umas 35 mil máquinas para 215 milhões de habitantes. O que isso quer dizer? Que a gente ainda tem muito o que crescer no mercado de eletrificação da frota, de uso de equipamentos com motor, antes que a automação de fato impacte neste mercado. Então, não há nenhuma preocupação em relação à queda na volumetria de equipamentos de movimentação de cargas, elétrico ou a combustão, porque nós ainda temos muito mercado a ser criado dentro do Brasil.”

Importância das empilhadeiras

Como pode ser notado pelas considerações dos participantes desta matéria especial, apesar do avanço da automação nos CDs, a utilização de empilhadeiras ainda continua sendo bastante significativa nas operações internas de um CD na movimentação de carga – recebimento, armazenagem, separação e também na carga e descarga dos caminhões. “O custo de implantação de sistemas totalmente automáticos nos CDs ainda é expressivo comparado ao uso de empilhadeiras. Portanto, os dois sistemas deverão conviver por muito tempo ainda”, acredita Tadeu Egawa, consultor e Business Development Manager da Beumer Group.

“Sem dúvida. O processo de automação está conectado, primeiro, ao fato de você ter operações 24 por 7. No final, quanto mais você roda, mais fácil fica de se pagar um projeto. E, em geral, os processos automatizados precisam ter um fluxo contínuo. Então, quando você passa a ter fluxos não contínuos ou quando passa a não ter uma operação 24 por 7, a indicação de uso acaba sendo para equipamentos convencionais elétricos, e não para um processo de automação”, acrescenta Souza, da Jungheinrich.

Também com relação à importância das empilhadeiras em determinados setores ou tipos de CDs, Kessler, da Combilift, diz que estas são a solução em que a implementação seja de curto e médio prazo e onde exista perspectiva de mudança das demandas ou localização do CD, além de serem mais adequadas para atender necessidades de customização e em indústrias onde a automação completa não é viável ou economicamente justificável. “Empilhadeiras também são indispensáveis em ambientes externos e na operação com cargas de dimensão variável em que a movimentação e armazenagem não são facilmente automatizadas.”

Rodrigues, da Connexxion, é outro entrevistado que coloca as situações em que as empilhadeiras têm papel importante nos CDs: armazenagem e movimentação horizontal e vertical de cargas de formato irregular, grande ou de difícil manuseio; armazenagem de itens de menor giro e movimentação em um armazém, ou em operações menores e/ou de baixo volume diário de movimentação, onde usualmente não se justifica o investimento em equipamentos automáticos.

Galvão, da KION, também ressalta que, apesar dos avanços na automação, as empilhadeiras ainda desempenham um papel crucial em muitos setores e tipos de CDs. Por exemplo, elas também são frequentemente necessárias para operações de manutenção e reabastecimento, onde é preciso movimentar produtos em áreas de transição que não podem ser cobertas por sistemas automatizados. Em setores onde o investimento em automação não é justificável economicamente, as empilhadeiras continuam sendo uma solução prática e eficiente. “No Brasil, dado o cenário de industrialização x mão de obra x custos operacionais, a empilhadeira terá um papel fundamental pelos próximos anos em todos os tipos de operação, principalmente naquelas que ainda não justificam a automação do ponto de vista econômico”, acrescenta Silva, da viastore.

E Schuskel, da ULMA, conclui esta questão: certamente, as empilhadeiras serão úteis por muitos e muitos anos ainda, nem toda área de uma operação carece ou necessita de automação, e o que mais existirá é a convivência de sistemas automáticos sendo alimentados com empilhadeiras convencionais.

Expectativas

Falando sobre as expectativas do mercado em relação à demanda por empilhadeiras nos próximos anos com a crescente automação, Egawa, da Beumer Group, acredita que, em relação aos CDs, as empilhadeiras (elétricas com baterias de lítio) ou mesmo autoguiadas (Automatic Guided) e até com tecnologias de RFID para coleta exata dos paletes ou materiais dos estoques deverão ter ainda demanda aquecida.

Já para Kessler, da Combilift, a demanda por empilhadeiras tradicionais deve diminuir em CDs altamente automatizados, mas ainda se espera uma demanda estável em setores onde a automação total não é prática. “Cada vez mais serão necessárias soluções customizadas para situações que são específicas para cada tipo de movimentação e armazenagem, sem contar que os sistemas precisam prever soluções de contingência em que houver falhas de sistemas ou até mesmo ataques cibernéticos.”

Como se pode perceber, apesar da crescente adoção de equipamentos automáticos, ainda há espaço para o emprego de empilhadeiras com ótimos resultados de performance e retorno sobre o investimento. Logo – diz Rodrigues, da Connexxion –, ainda há bom espaço para as empilhadeiras, apesar da suavização nos índices de crescimento que já vem ocorrendo há alguns anos por conta do crescimento do emprego de sistemas automáticos. “A regra de ouro é escolher a solução certa para cada escopo, demanda e aplicação, evitando-se que se empregue empilhadeiras em atividades onde estas não agregam valor – e a mesma regra vale para os sistemas automatizados”, alerta o diretor.

Na visão de Souza, da Jungheinrich, o mercado brasileiro ainda carece demais da parte de eletrificação da frota, sair de empilhadeiras manuais, sair de processos manuais para poder se equilibrar, por exemplo, com a Alemanha. “Então, nós temos um potencial de crescer mais de 10 vezes no nosso parque, no nosso número de máquinas, no volume de mercado total aqui no Brasil, sem se preocupar efetivamente ainda em migrar para a questão de automação. Então, eu diria que a expectativa para os próximos 10 anos é só de crescimento e um crescimento muito sólido, principalmente em relação à saída das máquinas a combustão do mercado e a entrada das máquinas elétricas.”

“Temos percebido uma mudança na curva de utilização dos equipamentos: nos últimos cinco anos, a maior utilização era de empilhadeiras a combustão, e hoje em dia o parque de máquinas eletrificadas tem crescido muito, e um aumento no uso de empilhadeiras autônomas é esperado para o futuro, principalmente por ser um dos possíveis primeiros passos dentro da automação em Centros de Distribuição”, completa Silva, da viastore.

Galvão, da KION, também acredita que, com o avanço da automação, o mercado espera que a demanda por empilhadeiras continue a evoluir, com uma transição de modelos a combustão para elétricos e, eventualmente, para versões autônomas. A demanda crescente por AGVs híbridos, que operam tanto de forma autônoma quanto manual, e por empilhadeiras autônomas para ambientes externos, indica que, embora a automação esteja moldando o futuro da logística, as empilhadeiras ainda terão um papel fundamental em cenários específicos. Empilhadeiras especializadas para tipos específicos de carga continuarão sendo necessárias em muitos contextos.

Substituição

Como percebido nas colocações dos participantes desta matéria, para substituir as empilhadeiras tradicionais nos CDs, várias tecnologias têm sido adotadas. Entre elas, conforme cita Galvão, da KION, estão os Robôs Móveis Autônomos (AMRs), que são capazes de navegar autonomamente e colaborar com sistemas de armazenamento automatizados, sendo projetados para operar em ambientes dinâmicos e diversos.

Os Veículos Guiados Automaticamente (AGVs) também são amplamente utilizados. E eles seguem rotas predefinidas e são equipados com sensores e sistemas de navegação para transportar mercadorias de forma eficiente e segura. Outra inovação são os Drones de Armazenamento e Inventário, que realizam inventários automatizados e verificam o estoque em áreas de armazenamento vertical, melhorando a precisão e a eficiência.

Além disso, completa o coordenador de Automação Mobile na KION, os Sistemas de Classificação Automatizada, como sorters, são utilizados para separar e classificar produtos de acordo com características específicas, otimizando o processo de preparação e expedição de pedidos. “Essas tecnologias reduzem a dependência de empilhadeiras tradicionais, minimizando o risco de erros e acidentes associados à movimentação manual de mercadorias.”

Egawa, da Beumer Group, também ressalta que existem várias tecnologias de movimentação de materiais, dependendo de como estão organizados, sejam fracionados, unitizados e paletizados. As empilhadeiras se aplicariam aos materiais unitizados ou paletizados maiores e mais pesados, já os fracionados e mais leves podem ser movimentados por esteiras motorizadas, sejam de lonas, borrachas, plásticas ou roletes, dependendo do tipo de material. A armazenagem pode ser feita diretamente pelas empilhadeiras nos portapaletes ou através de shuttles, automaticamente. “É importante salientar a palavra sistema, pois a adoção de automação precisa ser parte do sistema de gestão de programação e gestão de inventário”, adverte Kessler, da Combilift.

Rodrigues, da Connexxion, destaca as tecnologias consolidadas: transelevadores (AS-RS) e miniloads. “As estruturas com picking multinível com transportadores automáticos (picking tower) também contribuem para reduzir o emprego de empilhadeiras.”

Já quanto às novas tecnologias, ele relaciona os ACRs (Automatic Case-Handling Robots), que trazem flexibilidade e escalabilidade mais fáceis, bem como redução no investimento inicial.

“Podemos ir para uma tecnologia desde um transelevador, um prédio autoportante, onde se vai levar até 40 metros de altura, 42 metros de altura e de forma 100% automatizada. Aqui temos robôs elevadores que andam nesses corredores e fazem as entradas e saídas dos paletes. E também podemos ir para uma tecnologia dos AGVs, que são robôs guiados através de espelhos ou de coordenadas externas ou de sensores e refletores externos. Ou, até mesmo, para um sistema como o AMR, que são robôs que andam de forma independente dentro do CD, sem a necessidade de guias ou de referenciais externos. E existem outras tecnologias de automação que podemos disponibilizar, como, por exemplo, o Power Cube, que é um sistema para um grande adensamento do CD, onde você tem robôs empilhando caixas e que são capazes de movimentar essas caixas pela parte de baixo desse equipamento, permitindo que você faça um alto estoque de variedade de SKU e também tenha uma alta ocupação”, completa Souza, da Jungheinrich.

Schuskel, da ULMA, também ressalta que as tecnológicas podem abranger toda operação automática, com carga e descarga automática de caminhões, elementos autônomos para conexão com o armazém, AGVs/LGVs/AMRs, circuitos de carros sobre trilhos (STVs), monotrilhos ou sistemas de transportadores, até a armazenagem automática com transelevadores, sistemas shuttle de paletes, até mesmo a armazenagem com AGVs/LGVs e, na preparação de pedidos, com sistemas de despaletização e paletização de paletes multirreferência (ikpal) e sorters, entre outros. Existe a possibilidade de uma instalação 100% automatizada sem necessidade de empilhadeiras.

“Quando falamos em substituição de empilhadeiras por automação, dependendo da aplicação operacional, as principais opções para substituição são as esteiras transportadoras e os AGVs/AMRs (empilhadeiras automatizadas e autônomas). As esteiras transportadoras geralmente são aplicadas quando existe possibilidade de estabelecer fluxos operacionais com pouca variação, sem futuras alterações de layout. Já os AGVs e AMRs possuem uma grande flexibilidade a futuras alterações de layout, assim como escalar a operação de forma mais simplificada”, finaliza Silva, da viastore.

Benefícios e desafios

Os benefícios de substituir qualquer processo manual por automático são inúmeros, como aumento da produtividade, redução de erros e de acidentes, entre outros. “A grande dificuldade de qualquer projeto de automação é a definição e confecção, que devem levar em conta as demandas atuais e as futuras num cenário desafiador de mudanças constantes”, diz Egawa, da Beumer Group.

Na visão de Kessler, da Combilift, o maior benefício é que a substituição por equipamentos automatizados pode resultar em maior eficiência operacional, redução de erros, menor custo de mão de obra a longo prazo e melhoria na segurança do trabalho. Ainda segundo ele, o maior desafio é o processo de planejamento, escolha da melhor alternativa e execução da automação, e também o alto investimento inicial, a complexidade na integração com sistemas existentes, a necessidade de treinamento especializado de operação e manutenção e a gestão da transição para minimizar a interrupção das operações.

Rodrigues, da Connexxion, também faz suas listas. Benefícios: maior velocidade, melhor e mais rápida adaptação às variações na demanda, melhor ocupação do estoque no layout (unidades por m²), menos erros de separação e menos danos materiais na carga manuseada e riscos de acidentes.

Já os desafios incluem: escolher a tecnologia correta e dimensionar corretamente a capacidade dos equipamentos, estabelecer layout e tecnologias que sejam facilmente escaláveis e adaptáveis ao crescimento dos volumes no médio prazo ou variações de escopo, implantar a automação de forma correta – layout com fluxos eficientes e com processos já previamente otimizados –, preparar a mão de obra operacional, técnica e de gestão para o ambiente automatizado – a dinâmica é diferente da operação manual –, e justificar o investimento quando o negócio tem expectativas de retornos rápidos.

“Minha leitura desta questão é de uma empilhadeira não manual, mas de uma empilhadeira elétrica ou a combustão. A questão principal é, de fato, o custo. A mão de obra no Brasil ainda não é algo expressivo em relação às operações. O investimento em equipamentos 100% automatizados ainda é bastante alto e o payback acaba acontecendo em situações bastante específicas ou quando o tipo de operação e de precisão das movimentações, de continuidade das movimentações, são essenciais àquele processo”, diz Souza, da Jungheinrich.

A substituição de empilhadeiras manuais por equipamentos automatizados oferece os diversos benefícios já citados, mas, no entanto, segundo Galvão, da KION, também apresenta desafios significativos. O custo inicial de investimento é alto, pois a implementação de sistemas automatizados envolve um investimento substancial em equipamentos, instalação e treinamento. Além disso, a complexidade na integração de novos sistemas com os processos existentes pode demandar ajustes operacionais significativos. Há também o desafio de adaptação dos funcionários, que precisam passar por treinamento intensivo e superar a resistência natural à mudança.

“Os principais benefícios na utilização de equipamentos automatizados são a repetibilidade, segurança, disponibilidade e qualidade. Com relação aos desafios, o principal deles é o valor do investimento que pode inviabilizar a implementação, principalmente em um cenário no Brasil, em que a mão de obra ainda é barata se comparada aos países europeus”, completa Silva, da viastore.

Impacto

Sobre como a automação pode impactar o custo total de operação de um CD, considerando a substituição das empilhadeiras, Rodrigues, da Connexxion, destaca que, em geral, o emprego da automação, se corretamente selecionada, especificada, implantada e gerenciada, traz reduções superiores a 30% no custo total de operação do CD, sendo a maior produtividade e flexibilidade e a maior efetividade da programação de produção os principais fatores que contribuem para esta redução. “Os benefícios de automação são inegáveis, desde que seja possível comprovar o retorno no investimento a longo prazo”, acrescenta Kessler, da Combilift.

De fato, como diz Egawa, da Beumer Group, essa equação é bastante complicada e difícil, já que o cálculo do ROI (Return of Investiment) quase nunca é preciso e fácil de se fazer. Mas o impacto de uma automação completa num CD é bastante significativo e só válido para grandes CDs com grande giro e renovações de estoque alto, onde a precisão e a rapidez são essenciais.

Também para Galvão, da KION, o impacto da automação no custo total de operação de um CD pode ser significativo. “Embora os investimentos iniciais e os custos de manutenção e treinamento possam ser elevados, a automação tem o potencial de reduzir os custos operacionais ao longo do tempo, aumentando a produtividade e melhorando a eficiência. Uma análise completa dos custos deve considerar todos os aspectos financeiros e operacionais associados à implementação de sistemas automatizados.”

Na linha final, completa Silva, da viastore, o objetivo de implementar um projeto de automação é reduzir custos, aumentar a eficiência e a qualidade da operação. Olhando isoladamente, os custos com mão de obra e perdas de inventário serão menores e os custos com manutenção maiores. “A automação pode tornar a operação mais eficiente do ponto de vista financeiro, o custo por palete movimentado/armazenado tende a ser menor, considerando uma operação automatizada”, acrescenta Schuskel, da ULMA.

E Souza, da Jungheinrich, finaliza esta questão destacando que, para o mercado latino, para o mercado brasileiro especificamente, “eu diria que a gente ainda tem um desafio, porque o custo de mão de obra não é tão elevado proporcional ao custo de mão de obra na Europa, por exemplo. E isso é um grande desafio efetivamente nessa conversão, porque é um investimento ainda relativamente alto e são situações específicas que acabam mostrando de fato um payback. As empresas que têm procurado investir em automação são aquelas que realmente pretendem estar um passo à frente do mercado, mesmo que o retorno financeiro não se mostre de imediato”.

PMEs

Para as empresas de pequeno e médio porte (PMEs), a adoção da automação nos CDs apresenta desafios específicos, como restrições orçamentárias e complexidade operacional. “Muitas PMEs optarão por uma abordagem híbrida, combinando empilhadeiras com soluções de automação parcial para equilibrar custos e eficiência, garantindo que as necessidades operacionais sejam atendidas de forma econômica e eficaz.” A observação é de Galvão, da KION, quando indagado se as empresas de pequeno e médio porte estão preparadas para adotar a automação em seus CDs, ou as empilhadeiras ainda serão essenciais para elas. “Tudo se resume ao montante de investimento necessário que essas empresas possuem ou planejam. A automação pode começar com um simples processo e ir sendo incrementada de acordo com um planejamento bem estabelecido, mas a convivência das empilhadeiras ainda será muito importante para essa transição”, acrescenta Egawa, da Beumer.

A análise de Souza, da Jungheinrich, vai pelo mesmo caminho. “Eu diria que as empilhadeiras, até num futuro de médio prazo, vão ser essenciais para todo tipo de empresa, não só para de pequeno e médio porte. E os graus de automação, eles vão desde automações simples, como um AMR, que requerem investimentos menores, a até alguns milhões de dólares, quando se vai para um transelevador. Então, eu diria que sim, as empresas de pequeno e de médio porte podem e estão preparadas para adotar a automação, mas as empilhadeiras não deixarão de ser utilizadas.”

Já Kessler, da Combilift, destaca que muitas empresas de pequeno, médio e até mesmo de grande porte ainda veem as empilhadeiras como essenciais devido ao custo elevado da automação, à flexibilidade que as empilhadeiras oferecem e às incertezas que cercam a questão de automação, tanto do ponto de vista de efetividade como de robustez da solução.

Em geral, aponta Rodrigues, da Connexxion, observa-se que as empresas de pequeno e médio porte não têm maturidade e preparo para implantar transformações com forte emprego de automação, o que não significa que não possam dar o primeiro passo e evoluir progressivamente à medida que aprendem e amadurecem a cada etapa. A regra geral é investir em automação com intensidade compatível com a evolução da maturidade e preparo da empresa, dando-se chance de aprender a operar em ambiente com equipamentos automáticos.

“Temos visto cada vez mais empresas de pequeno porte investindo em automação, em diferentes níveis de automatização, principalmente pela atual dificuldade em encontrar e reter mão de obra. Ainda assim, as empilhadeiras são essenciais para esse tipo de operação, uma vez que nem sempre automatizar 100% da operação é uma opção economicamente viável”, completa Silva, da viastore.

Transição

Empresas que adotam soluções completas de automação precisam repensar toda sua força de trabalho. De um lado, profissionais que interagem com o sistema informatizado nos aspectos de programação e análise de dados e, de outro, operadores que fazem apenas as atividades de ponta – alimentam os produtos que chegam e processam os produtos que saem do CD. O ideal é promover operadores de empilhadeira para operar o sistema automatizado, mas é uma tarefa complexa, diz Kessler, da Combilift, sobre como as empresas estão lidando com a transição para a automação no que diz respeito ao treinamento e adaptação dos operadores de empilhadeiras.

“Isso tem muita conexão com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos colaboradores. Quanto mais automatizarmos os processos – e, como eu disse, isso ainda é um movimento relativamente lento aqui no Brasil –, mais vamos precisar de profissionais que sejam capacitados principalmente para fazer a parte de programação e a parte de gestão e acompanhamento desses novos equipamentos. Então, na minha visão, o que cabe às empresas, de fato, é a capacitação desses profissionais para que eles sejam capazes de assumir novos postos e novas funções dentro da empresa”, completa Souza, da Jungheinrich.

De fato, como diz Galvão, da KION, a transição para a automação nos CDs exige uma abordagem estruturada de treinamento e adaptação dos operadores de empilhadeiras. As empresas estão adotando estratégias como o treinamento especializado em novas tecnologias, a integração gradual de sistemas automatizados, o desenvolvimento de novas habilidades, a redefinição de papéis e responsabilidades e uma comunicação eficaz para facilitar a gestão da mudança. Essas iniciativas são fundamentais para garantir uma transição eficiente e minimizar os impactos nos operadores.

 “Infelizmente observa-se muitas empresas introduzindo equipamentos e sistemas automatizados sem o devido planejamento e gestão de mudanças – as consequências são resultados bem abaixo do esperado, e até piora de alguns indicadores em alguns casos. As empresas que investem em planejamento, preparação e gestão da mudança ao introduzir equipamentos automáticos em suas operações envolvem os operadores mais experientes no projeto desde o início, sendo que estes mesmos operadores se tornam patrocinadores, usuários-chave e multiplicadores do sistema automatizado quando de sua implantação”, diz, por outro lado, Rodrigues, da Connexxion.

Silva, da viastore, lembra que, durante a implementação dos projetos de automação, os operadores de empilhadeira são treinados ainda na fase de testes do sistema. “Aliado a isso, os projetos de automação possuem soluções poka-yoke, ou seja, à prova de erros, que permitem praticamente eliminar os erros operacionais. Todas essas ações têm como principal objetivo minimizar ao máximo a curva de aprendizagem nessa função que, em muitos casos, tem alta rotatividade de pessoas.”

Implicações

Já que se está falando sobre mão de obra e treinamento, vale mais uma questão: quais são as implicações para o emprego dos operadores de empilhadeiras com a introdução de tecnologias automatizadas?

Rodrigues, da Connexxion, acredita que o operador de empilhadeira pode ser desenvolvido para operar os sistemas automatizados, bem como participar nas rotinas de planejamento de produção. Há também a possibilidade de migrar para uma carreira mais técnica, tornando-se especialista em diagnóstico, suporte ou manutenção dos equipamentos. “Na maioria dos casos, os operadores são direcionados para operações dentro da automação que ainda podem requerer pessoas, além de poder continuar atuando nas empilhadeiras que não podem ser substituídas pela automação”, complementa Silva, da viastore.

Se, por um lado, a automação pode levar à redução de empregos de operadores de empilhadeiras tradicionais, por outro, segundo Kessler, da Combilift, pode criar novas oportunidades em áreas como manutenção de equipamentos automatizados, supervisão de sistemas automatizados e gerenciamento de dados. A transição pode ser facilitada por programas de requalificação e treinamento para os trabalhadores afetados. Há áreas que jamais serão automatizadas, e o desafio é criar empilhadeiras que aumentem a segurança, produtividade e eficiência destas operações.

“A requalificação e a adaptação de competências são fundamentais para minimizar os impactos negativos e aproveitar as novas oportunidades que a automação pode oferecer. Assim, uma abordagem equilibrada é essencial para garantir que os benefícios da automação sejam alcançados enquanto se cuidam das necessidades dos trabalhadores afetados”, especifica Galvão, da KION.

E Souza, da Jungheinrich, também vai por este caminho. “Eu diria que é uma ótima oportunidade para as pessoas continuarem se desenvolvendo, para as empresas terem uma visão de responsabilidade social para esses operadores e para que possam oferecer qualificação para que essas pessoas possam assumir posições, que são posições de trabalho futuras.”

Manutenção

Por fim, vale destacar que a manutenção de equipamentos automatizados exigirá técnicos especializados em sistemas mecatrônicos, softwares de controle e tecnologias de sensores. “O suporte técnico deverá incluir diagnósticos remotos, atualizações de software e manutenção preventiva baseada em dados para minimizar o tempo de inatividade. Os próximos anos irão mostrar se o Brasil estará preparado para atender estas demandas e quais empresas terão condições de implantar e se beneficiar destes sistemas”, salienta Kessler, da Combilift, referindo-se a que tipo de manutenção e suporte técnico será necessário para os novos equipamentos automatizados que estão substituindo as empilhadeiras.

Os equipamentos automáticos demandam a incorporação das especialidades de mecatrônica, mecânica avançada, eletrônica e sistemas no corpo técnico da operação – isto pode ser feito com recursos próprios ou terceirizados, sob contratos de performance. Muitas vezes o software do sistema automático não é de propriedade da empresa, logo, deve-se contratar um serviço de suporte junto ao provedor da tecnologia que seja compatível com o regime da operação e a performance esperada.

“Adicionalmente, sistemas automáticos requerem melhores estruturas de almoxarifado e uma gestão diferente no que toca às peças de reposição comparado com o que se está acostumado para o universo onde somente se usam empilhadeiras e paleteiras para armazenar e movimentar mercadorias”, aponta Rodrigues, da Connexxion.

Silva, da viastore, diz que, em linhas gerais, os equipamentos demandam manutenção muito semelhante aos automóveis, como: manutenção preventiva – com o objetivo de prevenir futuros problemas são realizadas manutenções programadas com trocas de óleo em motorredutores, alinhamento de correias, análise técnica dos componentes, etc.; manutenção preditiva – tem como objetivo antever futuros problemas, e soluções de indústria 4.0 permitem avaliar os equipamentos e componentes com base em sua utilização por meio de soluções de software associadas a dispositivos de medição de campo; suporte remoto (helpdesk) – tem como objetivo solucionar problemas dos softwares que gerenciam o armazém e a automação através de um time de suporte remoto disponível para atender os chamados abertos pelos clientes relacionados à operação; manutenção corretiva – nos casos emergenciais de paradas ou quebras de equipamentos, essa manutenção visa corrigir um problema pontual que ocasionou a parada do equipamento; peças de reposição – assim como nos automóveis, é sempre importante ter as peças de reposição para garantir a rápida troca em uma eventual falha que demande uma manutenção corretiva. As peças de reposição são uma forma de seguro para a operação. “Cada vez mais o profissional de manutenção e suporte desse tipo de equipamentos deverá ter o conhecimento de mecânica tradicional adicionado aos conhecimentos de eletrônica, TI e automação em geral”, diz Egawa, da Beumer.

Já Galvão, da KION, completa destacando que a manutenção e o suporte técnico para equipamentos automatizados são mais complexos do que os exigidos para empilhadeiras tradicionais, demandando uma abordagem que combine manutenção preventiva, corretiva e preditiva, além de suporte especializado em diversas áreas, como programação de softwares, elétrica e mecatrônica. A gestão eficaz de peças de reposição e o treinamento contínuo das equipes técnicas também são essenciais para garantir o desempenho e a longevidade dos sistemas automatizados.

E Schuskel, da ULMA, cita os contratos de manutenção com os fabricantes, como existe hoje para as empilhadeiras. “O que deve ocorrer é que existirá uma menor oferta de serviços ‘paralelos’ que não sejam do fabricante da máquina.”

Participantes desta matéria

Beumer Group – Empresa alemã considerada líder em fabricação e fornecimento de soluções de automação da logística, intralogística e aeroportos.

Combilift – É considerada líder mundial em soluções customizadas de movimentação de materiais. Produz empilhadeiras articuladas para paletes em corredores estreitos, empilhadeiras multidirecionais e movimentadores de cargas extrapesadas.

Connexxion – Consultoria especializada em otimização, melhoria de performance e transformação de Supply Chain e operações logísticas. 

Jungheinrich – Considerada líder em intralogística, oferece soluções personalizadas com um abrangente portfólio de empilhadeiras, equipamentos e sistemas automatizados de armazenagem.

KION Group – É um dos principais fornecedores mundiais de empilhadeiras e soluções para a cadeia de suprimentos. Seu portfólio inclui empilhadeiras e equipamentos para movimentação de materiais em armazéns, além de tecnologias de automação integradas e soluções de software para a otimização de cadeias de suprimentos — incluindo todos os serviços relacionados.

ULMA Handling Systems – É um integrador de sistemas de alta performance e especializada em projetos de sistemas automatizados para movimentação e armazenagem de materiais, em parceria com a empresa japonesa DAIFUKU. Tem em seu portfólio sistemas de separação de pedidos, armazenagem automatizada, movimentação e classificação automatizada, sistemas para fim de linha ou paletização automatizada e softwares para gestão da cadeia de abastecimento (Supply Chain management).

viastore SYSTEMS Brasil – Como integrador e fabricante de sistemas, é reconhecida mundialmente por ser especialista em armazéns automáticos dedicados às necessidades da logística de plantas fabris e oferece um vasto know-how em projetos, processos e tecnologia de sistemas para automatização de armazéns e da intralogística. Em seu portfólio de produtos figuram transelevadores, miniloads, shuttles e WMS. 

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